1 de novembro de 2020

Hugh Carthy no nível há muito esperado

© Photo Gomez Sport/La Vuelta
Com uma nova geração a não esperar quase nada para não se só afirmar, como ganhar algumas das principais competições mundiais, ciclistas como Hugh Carthy acabam por ficar em segundo plano. No seu caso nem é fácil. O 1,93 metros de altura sempre foi um factor para se distinguir bem no pelotão. Outro factor, é a qualidade que lhe é reconhecida, mas que tem demorado a ser mostrada regularmente. Aos 21/22 anos deu os primeiros sinais que era mais um britânico a ter em conta, apesar de não estar na então Sky. Agora venceu a sua primeira etapa numa grande volta. E valeu a pena esperar!

Hugh Carthy tanto parecia que ia confirmar expectativas, como que desaparecia, ficando longe de resultados de destaque. Também sofreu quedas que não ajudaram à sua afirmação, mas na EF Pro Cycling nunca deixaram de confiar no jovem britânico, agora com 26 anos. Na recta final da época de 2020, a equipa olha para o seu ciclista e vê como nas últimas duas temporadas Carthy não só evoluiu, como ganhou mais maturidade que nesta Vuelta o colocam num lugar do pódio.

Carthy chegou à estrutura americana depois de dois anos em Espanha. O seu peculiar estilo a pedalar rapidamente chamou a atenção naquele país, pois a Caja Rural é uma excelente equipa para se ganhar notoriedade no segundo escalão do ciclismo. Antes fez parte de um projecto importante na formação de jovens britânicos: a então Rapha Condor JLT, equipa que terminou há dois anos.

Mas foi na Caja Rural que mais se mostrou e até esteve na Volta a Portugal em 2015. Ficou num discreto 74º lugar. No ano seguinte, a equipa espanhola levou-a à Vuelta, sendo que antes havia ganho a Volta às Astúrias. No World Tour já era seguido e não surpreendeu quando deu o salto.

Tem sido um caminho de afirmação com altos e baixos. Mas os altos sempre colocaram Carthy como um ciclista capaz de estar entre os melhores. Exemplo disso foi a vitória numa etapa da Volta à Suíça na época passada, quando antes já havia lutado por um top dez no Giro, ficando na 11ª posição.

Chegou a esta Vuelta "tapado" por Daniel Martínez. O colombiano caiu e acabaria por abandonar nos primeiros dias da corrida. Carthy agarrou a oportunidade e muito bem ajudado por Michael Woods - tem mesmo de agradecer o trabalho do companheiro canadiano -, o ciclista da EF Pro Cycling deixa Richard Carapaz e Primoz Roglic a não poderem menosprezá-lo. Pode não ser quem mais assusta, mas 32 segundos é uma distância para o primeiro lugar que vai fazer com que Carthy seja mais marcado pelos dois principais candidatos à vitória.

E 2020 já teve duas reviravoltas algo surpreendentes nas grandes voltas anteriores...

A razão para estarem atentos ao britânico não é só pela curta distância, mas também pelo que fez no mítico Angliru. A subida que ultrapassa os 20% de pendente, com média a rondar os 10%, até chegou a parecer que poderia quebrar Carthy. Mas não. Com Woods a seu lado, manteve-se com os favoritos, até que a cerca de 1,5 quilómetros da meta, numa subida com mais de 12, o britânico arrancou.

É este ciclista que há muito se espera ver mais vezes. Venceu numa das subidas mais difíceis do ciclismo mundial e onde há três anos Alberto Contador ganhou no adeus à sua carreira profissional.

Com Martínez de malas feitas para a Ineos Grenadiers, conseguir além desta vitória um pódio em Madrid, ou pelo menos um top cinco, poderá ser importante para que em 2021 Carthy assuma de uma vez por todas um papel de maior destaque nas grandes voltas na EF Pro Cycling.

Carapaz recupera camisola vermelha

Ninguém apanhou Hugh Carthy que se aproximou em mais de 20 segundos da liderança e tirou Daniel Martin (Israel Start-Up Nation) do pódio. Restou a Richard Carapaz (Ineos Grenadiers) aproveitar as visíveis dificuldades de Primoz Roglic (Jumbo-Visma) e recuperar a camisola vermelha. Porém, os apenas dez segundos de vantagem não dão qualquer tranquilidade, quando na terça-feira - segunda é dia de descanso - haverá um contra-relógio.

Com Enric Mas (Movistar) a não concretizar nem o plano de vencer a etapa, nem de chegar ao pódio, até se pode dizer que Roglic foi o outro vencedor do dia, além de Carthy. Estas pendentes brutais não assentam nada bem aos esloveno. Mas quem tem Sepp Kuss como gregário, tem quase tudo. Só faltou ter uma corda para puxar o seu líder!

A vantagem no contra-relógio está do lado de Roglic, mas também muito se irá pensar como perdeu o Tour numa etapa de uma especialidade que até é a sua. E haverá nova subida para terminar o esforço individual, mas bem diferente da que enfrentou na Volta a França (ver em baixo).

A Vuelta não ficará decidida na terça-feira, há ainda mais montanha (pois claro) até sábado, pois só no domingo, em Madrid, o terreno ficará plano. Porém, Carapaz sabe que ganhou pouco tempo no Angliru, na subida desta Vuelta na qual haveria mais probabilidade de Roglic ter problemas. Teve alguns, mas não quebrou e Carapaz não conseguiu explorar mais a situação.

Apenas uma palavra para Chris Froome. Está a melhorar e foi importante para o seu companheiro de equipa. Quem bom é ver este ciclista a recuperar alguma forma. Porém, faltou mais alguém para ajudar o equatoriano no Angliru, quando Froome ficou para trás depois de muito ajudar, antes de se chegar à última subida do dia (e foram quatro, duas de primeira categoria).

Classificações completas, via ProCyclingStats.

13ª etapa: Muros - Mirador de Ézaro, Dumbría (contra-relógio individual), 33,7 quilómetros

A subida que irá concluir o contra-relógio nada tem a ver com La Planche de Belles Filles, onde Roglic perdeu um Tour que parecia praticamente garantido. Ainda assim são 1,8 quilómetros a 14,8%! Fica desde logo a questão se os ciclistas vão mudar de bicicleta para os metros finais. Além desta dificuldade, há que ter em conta que o vento poderá também ter o seu papel, principalmente porque poderá ser frontal, criando mais um problema.

»»O protesto, a estreia a vencer, o empate na frente e a expectativa para o Angliru««

»»Uma classe própria««

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