Montagem: Ineos Grenadiers |
Depois de muito sucesso com Chris Froome, sem esquecer Bradley Wiggins, e Geraint Thomas, a Ineos Grenadiers, ex-Sky, começou a contratar vários jovens de enorme potencial. Egan Bernal ganhou o Tour logo no seu segundo ano, mas a equipa começou a dar mostras de estar a perder a força do que agora se percebe terem sido os seus tempos áureos. Em 2020 tudo se desmoronou. Colectivamente a equipa falhou no Tour - e nas corridas anteriores - e Bernal foi uma desilusão. Os adversários já lhe fazem frente, principalmente a Jumbo-Visma, pelo que chegou de uma vez por todas o momento da Ineos Grenadiers seguir um novo caminho e reconstruir a equipa.
A formação britânica não poderia deixar escapar o menino prodígio da Grã-Bretanha, Thomas Pidcock, mas também aposta em ciclistas já com experiência, fortalecendo assim o bloco das grandes voltas. E Richie Porte traz mais do que isso. O australiano, mesmo regressando à equipa para deixar de ser líder, será um gregário com voz de comando para pôr "ordem na casa", numa altura em que Chris Froome se prepara para sair e Geraint Thomas tem tido um discurso pouco (ou nada) unificador.
"Esta época, vimos uma mudança tanto nos níveis de performance individual, como na força colectiva das equipas. Os ciclistas estão melhor preparados e as equipas mais organizadas. A intensidade da competição está a aumentar e está a ficar mais difícil ganhar. Estamos a apreciar este desafio e focados em regressar mais fortes. Os corredores são o coração das equipas e cada uma das novas contratações forma uma parte da evolução da equipa", afirmou Dave Brailsford, o director da Ineos Grenadiers.
Os reforços
Adam Yates (28 anos) era uma pretensão antiga. Tanto ele como o irmão decidiram assinar pela então Orica GreenEDGE (actual Mitchelton-Scott) quando se tornaram profissionais. Apesar de terem a mesma formação de outros britânicos que foram para a Sky nos primeiros tempos do projecto, os gémeos não quiserem ter um papel secundário e foram para a formação australiana. Agora, Adam vai procurar ter protagonismo numa equipa que não só tem Bernal, mas também o compatriota Iván Ramiro Sosa, Eddie Dunbar, Pavel Sivakov e mesmo Tao Geoghegan Hart, todos a ambicionarem serem mais do que gregários.
Contudo, os últimos dois ainda não renovaram, assim como Filippo Ganna, que esta sexta-feira se sagrou campeão do mundo de contra-relógio. Michal Kwiatkowski está entre os da "velha guarda" que também ainda não prolongou o vínculo, mas o polaco já fez saber que a primeira opção passará por continuar.
Entre os reforços hoje anunciados, Thomas Pidcock era um nome há algum tempo relacionado com a estrutura britânica. Tem apenas 21 anos, mas é visto como um autêntico prodígio. Rei do ciclocrosse nas camadas jovens, a passagem para a estrada também foi feita com sucesso, tendo, por exemplo, ganho o Paris-Roubaix de juniores em 2019 e este ano já venceu o Giro para o seu escalão. Evoluiu na extinta Team Wiggins, mas foi adiando um passo maior, principalmente porque sempre quis garantir que poderia continuar a competir no ciclocrosse. Na Ineos Grenadiers será altura de se concentrar mais na estrada e juntar-se ao grupo de jovens talentos, espalhados por várias equipas, que já está a tomar conta do World Tour.
Quando em 2019 assinou pela Jumbo-Visma deixando a Quick-Step Floors, Laurens de Plus foi à procura de maior destaque nas grandes voltas. Parecia estar a caminho de se tornar um homem importante para o bloco de Primoz Roglic, não sendo segredo que queria mais, eventualmente. Acabou desaparecer aos poucos da equipa, ainda mais este ano, quando cedo foi noticiado que estaria a caminho da Ineos Grenadiers. Tem apenas 25 anos, margem para progredir e percebe-se porque foi contratado. Em forma, este ciclista é um incansável trabalhador e com potencial para tentar ganhar, quando e se lhe forem dadas oportunidades.
Já Daniel Martínez será curioso ver como encaixa. O recente vencedor do Critérium du Dauphiné e de uma etapa no Tour já tinha conquistado estatuto na EF Pro Cycling com quem ainda tinha contrato, mas resolveu mudar-se mais cedo. Percebe-se que a Ineos Grenadiers lhe dará outras condições nas provas por etapas, mas a concorrência interna também será grande, ainda mais se Sivakov, renovar. Aos 24 anos falta-lhe maior estabilidade nas grandes voltas para lutar por top dez (acontece sempre algo para perder tempo), mas já se percebeu que Martínez tem o que é preciso para ser mais um colombiano de sucesso. A equipa americana vai sentir a perda deste ciclista.
Se os dois primeiros assinaram até 2023, tanto Martínez como Richie Porte só rubricaram acordo para 2021. No caso do australiano é compreensível. Aos 35 anos, Porte tinha assumido que este seria o seu último ano como líder, ainda que quisesse despedir-se em grande da Trek-Segafredo. Conseguiu finalmente um pódio numa grande volta e que merecida foi aquela presença no terceiro lugar da Volta a França, nos Campos Elísios.
Falta ainda a vitória numa etapa, mas já é uma alívio para este ciclista ter alcançado este feito, pois quando deixou a Sky em 2015, depois de quatro temporadas, para não estar dependente das escolhas de Chris Froome, o repto era ser um líder ganhador. Quedas, perda de tempo em etapas de vento, furos... aconteceu de tudo a Porte, mesmo quando se apresentou em grande forma, tanto na BMC, como na Trek-Segafredo.
Ainda se falou da possibilidade de assinar pela Israel Start-Up Nation, para retomar a parceria com Froome, com Porte a ter sido um gregário de luxo. Porém, o australiano vai assumir um papel de ajuda na reconstrução da agora Ineos Grenadiers.
Juntamente com Luke Rowe (30 anos) será certamente um capitão, ficando agora a dúvida onde entrará Geraint Thomas (34) nesta reconstrução. Para o galês seria importante ganhar a Volta a Itália se quer ter uma palavra a dizer em 2021 (último ano do seu contrato), numa altura em que já pouco o vão ouvindo.
Sem comentários:
Enviar um comentário