3 de setembro de 2020

Ineos Grenadiers mostrou-se. Jumbo-Visma esteve atenta mas sem razões para se preocupar

© ASO/Pauline Ballet
Pode dizer-se que foi um pequeno aperitivo do que se espera nesta Volta a França. Ou seja, ver a Ineos Grenadiers e Jumbo-Visma terem um frente-a-frente de como se trabalha em equipa para levar o líder à vitória. Foi mesmo pequeno, até porque a exibição da formação britânica não convenceu e teve uma rival atenta e até a agradecer por não ter de gastar forças para "puxar" o pelotão por um dia. E a Mitchelton-Scott também não se importou passar a vez, já que com Adam Yates de amarelo, era a sua responsabilidade, como assumiu durante vários quilómetros.

Ver a Ineos Grenadiers na frente foi um regresso aos bons velhos tempos da Sky, mas foi só algo para a fotografia. Com uma fuga em que os ciclistas se uniram para garantir o seu sucesso, a equipa britânica também se uniu para tentar dizer que há que manter o respeito por quem sabe dominar tão bem o Tour. O respeito não se perdeu, mas o medo sim. Já ninguém tem receio de tentar desfazer esta Ineos Grenadiers e nem precisa de ser a Jumbo-Visma a mostrar que a equipa britânica perdeu o estatuto de dominadora no Tour.

Não ajuda ter um Pavel Sivakov a tentar desesperadamente recuperar das duas quedas daquele malogrado primeiro dia. Andrey Amador, outro que caiu, trabalha, mas não é o ciclista que se esperaria. Não por agora. E depois... "Ele [Egan Bernal] disse 'calma, calma'." As palavras de Bauke Mollema ao canal de televisão NOS estão a levantar mais dúvidas sobre a forma do colombiano.

O holandês da Trek-Segafredo explicou que ouvi Bernal pedir a Michal Kwiatkowski ter calma na última subida. Se está mal, ou se apenas queria um ritmo menor, visto que não iria atacar... Teremos de esperar mais uns dias para perceber.

Durante grande parte daquele trabalho intenso da Ineos Grenadiers ainda se pensou que Bernal poderia querer mostrar-se. Longe disso. Ali, sempre muito perto, esteve a Jumbo-Visma. Até pode dizer que teve o dia de folga quanto à responsabilidade de estar na frente. Controlou totalmente a rival, mas não houve necessidade de entrar em disputa.

Kwiatkowski e Richard Carapaz não deixaram Bernal sozinho desta feita e cortaram a meta juntos, enquanto a Jumbo-Visma teve a dupla que vai chamando cada vez mais a atenção Roglic e Tom Dumoulin na frente.

O frente-a-frente por que tanto se aguarda irá ver-se certamente mais tarde, mas com a primeira semana do Tour a terminar, a Jumbo-Visma dá todos os sinais positivos que o que se viu na preparação para a corrida não foi um acaso - e já ganhou duas etapas, uma com o líder Primoz Roglic e outra com o super ciclista Wout van Aert -, enquanto a Ineos Grenadiers é de facto uma equipa muito diferente dos tempos áureos de Chris Froome. Ainda mais com ciclistas limitados, incluindo Bernal, que abandonou o Critérium du Dauphiné com dores nas costas e que diz ainda está a recuperar. 

© ASO/Pauline Ballet
A primeira vitória de uma fuga

Entendimento total e a grande velocidade. Depois de uma etapa em que nem sequer houve fuga, desta feita houve e triunfou nos 191 quilómetros que ligaram Le Teil a Mont Aigoual. A vontade era tanta que o grupo chegou a ultrapassar os 45 quilómetros/hora de média na fase mais plana.

Primeira fuga a triunfar nesta edição da Volta a França, pois nem a Ineos Grenadiers liderar o pelotão ameaçou o grupo de qualidade da frente, que teve Greg van Avermaet (CCC) a tentar um triunfo que esta no teima em aparecer.

No final, um cazaque à imagem da referência daquele país, Alexander Vinokourov, seguiu à letra as instruções do agora director desportivo da Astana para ganhar. Não é segredo a qualidade de Alexey Lutsenko. Em forma é um ciclista difícil de se bater. E assim foi para tristeza da Cofidis.

A equipa francesa bem quer terminar com uma espera de 12 anos por uma vitória de etapa no Tour. Elia Viviani nem se tem visto nos sprints e Jesús Herrada não aguentou o ataque a cerca de quatro quilómetros da meta de Lutsenko. O espanhol cortou a meta 55 segundos depois. A espera continua, mas ainda assim - mesmo sem Viviani mais competitivo -, esta Cofidis está a apresentar-se melhor que em anos anteriores, muito por culpa de Guillaume Martin, um forte candidato ao top dez na geral.

O Col de la Lusette acabou por ser uma desilusão a nível de espectáculo no que na luta pela camisola amarelo diz respeito, mas começa a ficar claro que as equipas estão a enfrentar este Tour com muito cuidado. O confinamento deixou muitos pontos de interrogação quanto à capacidade de se estar bem nestas três semanas tão importantes de uma temporada curta e incerta.

Talvez no fim-de-semana a acção anime, com duas etapas com muita montanha, antes do primeiro dia de descanso da Volta a França. Até lá, Adam Yates (Mitchelton-Scott) vai desfrutar de uma camisola amarela que Julian Alaphilippe e a Deceuninck-QuickStep lhe ofereceram.

Classificações completas, via ProCyclingStats.

7ª etapa: Millau - Lavaur, 168 quilómetros


Esta sexta-feira será dia para os sprinters. O percurso está longe de ser plano, pelo que as equipas estarão atentas para que os seus homens mais rápidos não percam contacto com o pelotão. E a quilometragem é curta. Porém, o pior poderá ser o vento, que nesta região tem tendência a fazer-se sentir.

»»Alaphilippe perdeu a camisola amarela (afinal aconteceu algo na quinta etapa)««

»»Assim Roglic é imbatível««

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