(Fotografia: Facebook Team Sky) |
Geraint Thomas queria aproveitar esta oportunidade de ser líder numa grande volta pela Sky para mostrar que tem o seu valor nas três semanas e que merecia esta aposta. Depois de anos no apoio a Froome, com liberdade em algumas provas de uma semana - ganhou duas vezes a Volta ao Algarve, por exemplo -, liderar a Sky numa grande volta não é fácil, mesmo sendo um ciclista de elevado valor. A concorrência dentro da equipa é forte e a hierarquia é para ser respeitada. Thomas adoptou o treino de Froome, tendo viajado para a África do Sul, onde esteve com o companheiro e amigo a preparar o Giro, enquanto Froome pensa no Tour. Valor Thomas tem, faltava saber se tinha capacidade para aguentar três semanas sempre a ritmo alto, pois é diferente ser líder e ter um papel de gregário. Não será desta que ficamos a saber.
Geraint Thomas terá agora de esperar um ano por nova oportunidade, isto se se confirmar que Froome além do Tour, tentará novamente a vitória na Vuelta, calendário que em condições normais será o do principal homem da Sky. Depois da queda provocada por uma moto da polícia, Thomas respondeu no contra-relógio com o segundo melhor tempo, só batido por um fenomenal Tom Dumoulin (Sunweb). Nesse dia, terça-feira, Thomas afirmou que tinha trabalhado demasiado para atirar a toalha ao chão. O problema é que no dia seguinte perdeu mais 31 segundos e já eram quase sete minutos para recuperar a Dumoulin.
No vídeo (em baixo) a expressão de Thomas não mente: o ciclista está desiludido pela forma como terminou o seu Giro.. Acaba por sair sem glória devido a uma má decisão de um agente da polícia, que logo naquela altura provocou o abandono de Wilco Kelderman (Sunweb). Thomas entra para a azarada história da Sky na Volta a Itália. Sempre que a equipa aposta forte para ganhar, o líder acaba por ir para casa mais cedo.
THANK YOU! @GeraintThomas86 has a special video message for all the amazing fans who have supported him and the team at #Giro100 pic.twitter.com/xZs8lnzFwn— Team Sky 🚲 (@TeamSky) 19 May 2017
Recordando as peripécias. Em 2010 a Sky fez a sua estreia em grandes volta no Giro. Bradley Wiggins era o rosto da equipa e começou logo por vestir a maglia rosa no contra-relógio inicial. No dia seguinte ficou envolvido numa queda, perdeu 37 segundos e a liderança. O pior ainda estava para vir. Num daqueles dias de temporal que de vez em quando marcam esta corrida, Wiggins perderia quase cinco minutos. O britânico terminou a Volta a Itália na 40ª posição a quase duas horas do vencedor, Ivan Basso. Um jovem Chris Froome fez ainda pior: foi expulso da corrida depois de se ter agarrado a uma moto.
Em 2013 Bradley Wiggins regressa com o objectivo bem definido de ganhar o Giro. No ano antes tinha concretizado o grande objectivo da equipa: vencer o Tour. Sabia também que a Sky ia cumprir a promessa feita a Froome de lhe dar a liderança na Volta a França e Wiggins apostou assim tudo no Giro. Com a chuva a marcar os primeiros dias dessa edição, o britânico viveu momentos de pânico nas descidas. Experimentou várias vezes o chão, comprovando todas as suas debilidades a descer, agravadas com a estrada molhada. Ainda recuperou algum tempo perdido, mas na primeira chegada em alto sofreu problemas respiratórios. Perdeu mais tempo. Na 12ª etapa, plana, cortou a meta três minutos do vencedor. Nessa noite foi para casa.
Saltamos para 2015. Richie Porte tem a sua oportunidade como líder, depois de se consagrar como fiel escudeiro. Fez um início de temporada fenomenal e era um dos claros candidatos à vitória no Giro. Começou por dar nas vistas por ter uma autocaravana (de luxo, pois claro) só para ele, enquanto os companheiros ficavam hospedados num hotel. Tudo estava a correr bem até à 10ª etapa. Então estava a 22 segundos do primeiro lugar, ocupado por Alberto Contador. A tirada era plana, mas a cinco quilómetros do fim, Porte furou. Simon Clarke apareceu em auxílio do compatriota e deu-lhe uma roda. Até ajudou a fazer a troca. Porte perdeu ainda assim 45 segundos, mas o australiano acabou por ser sancionado com dois minutos de penalização porque recebeu uma roda de um ciclista de uma equipa diferente, neste caso da Orica-GreenEdge. Os regulamentos determinam que um corredor só pode receber uma roda de um companheiro da mesma equipa, do apoio neutro ou do carro da formação que representa.
Na etapa 13, Porte caiu e lesionou-se no joelho. Perdeu mais dois minutos e não conseguiu recuperar nem em termos físicos, nem animicamente. Dois dias depois chegou com o grupetto perdendo quase meia hora. Decidiu ir para casa. No final do ano deixou a Sky, assinando pela BMC.
A equipa britânica virou-se para Mikel Landa, que em 2015 tinha sido uma das figuras do Giro, tendo sacrificado uma possível vitória em prol do líder da Astana Fabio Aru, que foi segundo atrás de Contador. Venceu inclusivamente duas etapas e subiu ao último lugar do pódio. No entanto, o espanhol tornou-se numa enorme desilusão. Apesar de uma primeira semana promissora, tendo inclusivamente defendido-se bem no contra-relógio, Landa ficou para trás na primeira montanha na etapa 10. De imediato as atenções centraram-se no espanhol que acabaria mesmo por abandonar nesse dia devido a uma gastroenterite. Frustração para a Sky que até tinha pedido aos restantes ciclistas para se deixarem ficar para trás para ajudar o seu líder. Giro perdido.
Com Mikel Landa a perder alguma confiança na estrutura da equipa, este ano a Sky apostou numa liderança partilhada com Thomas, sendo claro que o britânico era o principal, tendo em conta a protecção de que era alvo por parte dos companheiros. Porém, Thomas e Landa ficaram envolvidos na queda no domingo. O espanhol continua na corrida, com quase 43 minutos de desvantagem. Landa já deixou claro que quer salvar algo neste Giro100 e com o abandono de Thomas, voltará a ter toda a pressão sobre si para alcançar pelo menos uma vitória de etapa e ajudar a sarar um pouco um orgulho muito ferido da Sky.
»»Chega de irresponsabilidade. O acidente no Giro não foi ciclismo, foi estupidez««
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