(Fotografia: Wikimedia Commons) |
Jan Ullrich, director desportivo da Volta à Colónia. A notícia provocou uma tempestade no ciclismo. O regresso do ciclista que venceu a Volta a França em 1997, mas que acabaria mais tarde por admitir que tinha recorrido a substâncias dopantes durante a carreira, acabaria por ser curto. Não suportou as críticas de que foi alvo, vindas, disse, principalmente dos meios de comunicação social. Quatro dias depois, demitiu-se.
O alemão é uma daquelas figuras que gera sentimentos contraditórios na modalidade. Por um lado foi um dos ciclistas que muito espectáculo deu na segunda metade da década de 90 e no início do século. Os seus confrontos, primeiro com Marco Pantani e depois com Lance Armstrong, marcaram uma era. Infelizmente também o doping.
Depois de se retirar em 2007, Ullrich teve algumas participações esporádicas no ciclismo, como a função de aconselhamento numa equipa continental austríaca. O cargo de director desportivo da Volta à Colónia parecia ser o seu grande regresso, mas... "Muitos fãs, patrocinadores e media reagiram de forma muito positiva. No entanto, alguma imprensa não conseguiu lidar com isso. Por isso, depois de conversar com os organizadores da corrida, decidi deixar o cargo. Não quero provocar danos à corrida. O cargo de director desportivo irá ficar livre este ano", escreveu Ullrich no seu Facebook.
O passado ligado a uma época negra do doping no ciclismo é algo indissociável de Ullrich. Essa foi a grande questão levantada em vários meios de comunicação social. De recordar que em 2006 o nome do ciclista alemão surgiu no caso chamado Operação Puerto. Foi barrado do Tour nesse ano, juntamente com outros ciclistas também envolvidos no que viria a ser um dos maiores escândalos de doping que afectou a modalidade, apesar de atletas de outros desportos também terem recorrido ao médico Eufemiano Fuentes.
Ullrich sempre desmentiu ter recorrido a substâncias dopantes. Foi despedido da T-Mobile e em 2007 anunciou o fim da carreira. "Nunca fiz batota", disse no discurso de despedida. Porém, em 2012 acabou por admitir que tinha de facto recorrido aos serviços de Fuentes, mas defendeu-se dizendo que o fez para lutar de igual com os outros ciclistas, já que era uma prática recorrente no pelotão. A admissão surgiu depois de ter sido considerado culpado pelo Tribunal Arbitral do Desporto, tendo sido eliminados todos os seus resultados desde Maio de 2005.
No entanto, o doping fez parte da carreira de Ullrich. Chegou a confessar que quando venceu as medalhas de ouro e prata nos Jogos Olímpicos de Sydney (2000) - na prova de estrada e no contra-relógio - também tinha tomado substâncias dopantes. Ao contrário de Lance Armstrong, que devolveu a medalha de ouro do contra-relógio ao Comité Olímpico, Ullrich disse que nunca o faria, justificando novamente que o doping era generalizado. Nunca foi obrigado a devolver as medalhas, pois essas vitórias não lhe foram retiradas.
Desportivamente ficarão na história as batalhas com Pantani. Ganhou o Tour em 1997, com o italiano a ser terceiro, atrás de Richard Virenque. Perdeu no ano seguinte para o Pirata e iniciaria uma colecção de segundos lugares. Somaria mais três, sempre batido por Lance Armstrong. Seria ainda terceiro em 2005. Quando o americano ficou sem as sete vitórias no Tour, Ullrich não foi declarado o vencedor. Dada as suspeições sobre praticamente todo o pelotão daquela época, a decisão foi deixar aquelas anos, de 1999 a 2005, sem vencedor.
Ullrich foi ainda duas vezes campeão do mundo de contra-relógio e venceu a Volta a Espanha, em 1999. Foi considerado um herói na Alemanha, mas o doping não só lhe arruinou a reputação e a carreira, como ainda foi uma das razões que no país se voltou as costas ao ciclismo, chegando ao ponto da televisão estatal nem transmitir a Volta a França. Só recentemente a Alemanha começou a fazer as pazes com a modalidade, mas este regresso de Ullrich apenas serviu para recordar uma era que os alemães querem deixar enterrada no passado.
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