31 de maio de 2021

João Almeida sai mais forte da Volta a Itália

© Tim de Waele/Getty Images/Deceuninck-QuickStep
Perder um quinto lugar por menos de um segundo, ter um mau dia logo no início do Giro, ser obrigado a ajudar um companheiro quando também se quer estar na frente da corrida... Falar da Volta a Itália de João Almeida merece mais do que repetir à exaustão o que de mal aconteceu. Muito há a discutir na Deceuninck-QuickStep, é certo. As decisões poderão ter tirado ao ciclista português um melhor resultado. Merecia mais apoio, merecia que não tivesse ficado tão "preso" a Remco Evenepoel. Porém, como de "ses" não reza a história, João Almeida merece que se destaque o que fez de positivo.

Para tal, começa-se pelo fim. A terceira semana (no fundo, cinco dias) foi excepcional. Não só mostrou como estava bem preparado para a corrida e como até foi melhorando com o passar da prova, como evoluiu desde o último Giro, o qual andou de rosa 15 dias. Desta feita não viveu um sonho. A realidade foi bem dura, mas também foi demonstradora do que Almeida é capaz de fazer. Numa fase final da Volta a Itália difícil, exigente, o português foi dos melhores em prova, para não dizer o melhor, entre os que aspiravam o top dez ou até mais.

Almeida não só conseguiu acompanhar o ritmo fosse de Egan Bernal ou Simon Yates, por exemplo, como atacou. Se no último Giro as maiores altitudes acabaram por ser complicadas de ultrapassar, desta feita o ciclista das Caldas da Rainha revelou como evoluiu neste aspecto importante, cimentando o seu estatuto como um dos mais talentosos jovens voltistas. O que aconteceu em 2020 não foi um acidente, ou obra do acaso. Almeida confirmou o potencial que tem, confirmou como continua a trabalhar para se tornar num ciclista cada vez melhor. E está fortíssimo no contra-relógio! Não é de admirar que se fale que há várias equipas a querer contar com Almeida a partir de 2021.

O português, de 22 anos, merece ter companheiros que dediquem a sua corrida em apoiá-lo, pois como se viu no Giro, uma boa equipa faz toda a diferença (Bernal que o diga). Por melhor que se seja individualmente, é sempre preciso apoio e naquele quarto dia de mau tempo (frio e chuva), uma ajuda poderia ter escrito outra história neste Giro. Por mais que não fosse o que quisesse fazer, Almeida mostrou também ser profissional. Ajudou Remco Evenepoel quando assim o teve de fazer. Quando recebeu instruções para o fazer.

Mas mais profissional foi quando lhe deram (finalmente) liberdade. Não desistiu, não se rendeu a uma possível frustração. Foi atrás do melhor resultado possível. Sexto lugar a 7:24 minutos de Bernal na geral (em 2020 foi quarto), ficou tão perto de uma vitória de etapa e não houve jornal, rádio, televisão, site, redes social que não falasse do português. A equipa que o contratar vai ter um ciclista com grande futuro, não apenas fisicamente, mas também mentalmente. Almeida é já um corredor do presente, mas tem muito para dar e ganhar nas épocas que aí vêm.

Almeida vai à Vuelta, a grande volta que inicialmente estava no seu programa. Será desde logo uma das principais figuras, mesmo que seja apenas a sua terceira grande volta. É mais um exemplo de como esta nova geração não precisa de esperar para ganhar destaque.

Remco Evenepoel também está na lista da formação belga. Faltará saber se será o segundo episódio da novela que dominou em demasia este Giro. João Almeida estará então a pouco tempo de terminar contrato, o que acentuará a questão da liderança. Mas a Deceuninck-QuickStep terá as más decisões do Giro a também pesar na decisão que tomar. 

Como se viu no Giro, Almeida sabe ultrapassar estes obstáculos. Sai da Volta a Itália mais forte. E há quem veja como merece ser líder e o queira contratar. Quem? Responsáveis da UAE Team Emirates, Bora-Hansgrohe, Movistar... Os rumores são muitos. Em Agosto, quando abrir o mercado talvez já se saiba. Até lá, que venha a próxima corrida para ver este fantástico ciclista que tanto está a entusiasmar Portugal.

»»Libertem o João e deixem o Remco em paz««