31 de maio de 2018

Roma em risco de perder o final da Volta a Itália

(Fotografia: Giro d'Italia)
A ideia de tentar tornar Roma num local simbólico para terminar a Volta a Itália, um pouco como acontece com Paris no Tour, pode ser abandonada após uma edição. O Giro terminou com alguma polémica, quando os ciclistas começaram a protestar pelo estado da estrada, que consideraram ser perigoso. Carlos Betancur, Elia Viviani e eventualmente Chris Froome mostraram o seu descontentamento e o britânico assumiu-se como voz do pelotão para negociar com a organização a tomada dos tempos mais cedo do que o previsto, permitindo assim que quem não quisesse lutar pela etapa pudesse ficar para trás. Chegou-se a acordo, mas o mal estava feito. O resultado desta situação poderá ser uma quebra do contrato que era suposto durar quatro anos.

A 101ª edição acabou há menos de uma semana, mas a 102ª já está a ser preparada. No final da etapa de Roma houve troca de acusações, o que não será bom sinal para que a cidade venha a receber o pelotão, pelo menos no derradeiro dia. Da parte da organização do Giro veio o alerta que os responsáveis da cidade sabiam que iam receber a competição há cerca de um ano. A presidente da câmara, Virgina Raggi, nem foi ao pódio e limitou-se a dizer que os ciclistas tinham completado a etapa e que, por isso, não se deveria tornar num grande problema sobre que tinha acontecido.

Nos últimos anos, os ciclistas muito têm lutado para garantir que competem na maior segurança possível. O protocolo de condições meteorológicas extremas foi uma das principais vitórias, já a questão dos veículos - principalmente as motos - no pelotão ainda não encontrou um consenso. Mas as reclamações sobre outros problemas são cada vez mais ouvidas, como foi exemplo em Roma. Além de parte do circuito de 11 quilómetros de Roma ser corrido em empedrado, a revolta foi maior devido a alguns buracos. De facto os ciclistas terminaram, mas nenhum estava particularmente satisfeito com o risco que foi obrigado a correr. Os homens da geral chegaram à meta muito depois dos primeiros e Johan Esteban Chaves (Mitchelton-Scott) até foi dobrado.

Milão tem sido dos finais mais tradicionais em anos recentes e está novamente na calha para receber a derradeira etapa, segundo o Cycling Weekly. Porém, Verona ou Brescia podem ser hipótese. Quanto a montanhas, o site avança que o Mortirolo e Stelvio estão na equação e a confirmar-se esta última hipótese, teremos assim a Cima Coppi (ponto mais alto) a 2758 metros, além de ser uma das subidas mais míticas do ciclismo. De regresso poderá estar o Tre Cime di Lavaredo, que em 2013 teve Vincenzo Nibali como grande vencedor, num dia marcado por muito mau tempo, com neve, frio... Uma daquelas etapas que marca a carreira de qualquer ciclista.

A partida será desta feita bem mais próxima. Depois de pela primeira vez uma grande volta ter começado fora da Europa, em Israel, a RCS Sport, organizadora do Giro, pondera ficar em casa. O sul de Itália (no continente e não nas ilhas) é possibilidade, contudo, a Polónia manterá o seu interesse em levar o Giro até ao leste da Europa, algo que já se fala desde o ano passado. A cidade francesa de Marselha também já foi referida.


30 de maio de 2018

Betancur pode estar de saída da Movistar já em Agosto

(Fotografia: Movistar)
O mercado de transferências só abre a 1 de Agosto, mas a maioria dos ciclistas e das equipas gostam de resolver a próxima época antes da Volta a França. Alguns dos contactos até costumam ser feitos durante os dias de descanso do Giro. Também por isso começam a surgir nesta altura da temporada possibilidades de contratações e nem sempre apenas de quem está em final de contrato. No ciclismo é raro um corredor quebrar o vínculo, mas não é inédito. O nome de Carlos Betancur foi lançado como um hipótese para deixar a Movistar já em Agosto, contudo, o colombiano, afirmou que não sabe de nada e que só pensa em recuperar do esforço do Giro e regressar à competição a pensar na Vuelta e numa eventual presença nos Mundiais. Tem contrato até 2019.

Com a época de 2017 a terminar, Betancur não quis ficar na sombra de Nairo Quintana, Alejandro Valverde e do anunciado reforço para o ano seguinte, Mikel Landa. O colombiano tinha dado demonstrações que estava a recuperar a sua melhor versão (ou pelo menos uma melhor versão) e as imagens de Betancur com o rosto ferido, a cortar a meta em Cuenca, na Vuelta, como que serviram de prova para a mudança de atitude de um ciclista que quando esteve na AG2R chegou a nem sequer dar notícias à sua equipa do seu paradeiro e a deixar-se engordar.

Betancur aproveitou o estado de graça que tinha conquistado na Movistar com algumas vitórias e outros bons resultados, para pedir a oportunidade para liderar a Movistar numa grande volta. Entretanto renovou contrato por mais dois anos. Eusebio Unzué, que acreditou que poderia recuperar este ciclista - que chegou a ser dos mais promissores colombianos há cinco anos -, abriu-lhe as portas do Giro. Com ele iria o jovem talento Richard Carapaz. Betancur acabou completamente ofuscado pelo equatoriano e teve mesmo de ajudar o companheiro, que não só lutava pela camisola da juventude, como estava no top dez. E ganhou uma etapa.

Betancur foi 15º, a uns longíquos 41:48 minutos de Chris Froome. A performance abaixo do desejado poderá significar que o colombiano dificilmente terá uma nova oportunidade. Além do trio referido e de Richard Carapaz ser a próxima grande aposta da equipa, a Movistar tem ainda Marc Soler (vencedor do Paris-Nice) e Jaime Rosón está como que na "fase de formação" e a Volta Espanha poderá ser o palco em que o espanhol começará também ele a conquistar o seu espaço. A Betancur não restará nada mais do que o papel de gregário. A Gazzetta dello Sport escreve que o ciclista, de 28 anos, não verá com maus olhos uma possível mudança já em Agosto e que a Movistar não estará satisfeita com as recentes exibições do colombiano. O destino? A UAE Team Emirates, onde está o português Rui Costa.

Betancur até terá como primeira missão a de ajudar Fabio Aru, caso o italiano não vá ao Tour - que poderá ficar apenas para Daniel Martin - e seja escalado para a Vuelta. As deficiências colectivas da equipa dos Emirados ficaram completamente expostas no Giro e a má forma do seu líder também não ajudou. Aru acabaria mesmo por abandonar. Betancur poderá estar a ser visto não só como um homem importante para ajudar, mas para eventualmente ser mais uma opção para as grandes voltas. Ficaria como o terceiro na hierarquia, por assim dizer, atrás de Aru e Martin.

Porém, Betancur disse que só teve conhecimento deste alegado interesse pela notícia do jornal italiano. "Só penso em fazer um bom papel na  [Volta à] Polónia e logo verei a que outras corridas a equipa me levará. Espero que a Movistar esteja bem no Tour e eu gostaria de render bem na Vuelta e, quem sabe, assim ser seleccionado para os Mundiais", referiu o ciclista à Marca Claro Colombia. Já o seu empresário disse ao Cycling News que "todas as possibilidades estão em aberto".

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29 de maio de 2018

Froome não é uma lenda e recorreu ao doping, diz... uma lenda do ciclismo

(Fotografia: Giro d'Italia)
Ao vencer o Giro, Chris Froome juntou-se a Eddy Merckx e Bernard Hinault como os únicos ciclistas a conquistarem as três grandes voltas de forma consecutiva. O feito já foi dito e escrito muitas vezes nos últimos dias, com o britânico a ser elevado ao nível de duas das maiores lendas do ciclismo, ainda que à condição. Porém, uma dessas lendas diz que Froome não o é, nem à condição. Para Hinault não há zonas cinzentas no caso do salbutamol. O francês considera que Froome recorreu ao doping e que, por isso, deveria estar suspenso e não a competir.

Hinault venceu cinco Tours, três Giros e duas Vueltas tendo sido uma das grandes figuras do ciclismo entre os anos 70 e 80. Não é surpresa que as suas palavras tenham um grande peso, ainda mais aquelas que disse sobre Froome. Não esteve com meias medidas. "Froome não pertence àquela lista. Ele deu positivo na Vuelta e, depois, a contra-análise, confirmou o positivo. Por isso, ele recorreu ao doping e deveria estar suspenso. Ele nunca deveria ter sido autorizado a começar o Giro", afirmou Hinault ao jornal belga Het Laatste Nieuws.

O antigo ciclista, agora com 63 anos, mostra-se ainda revoltado pela demora na resolução do processo, que se arrasta desde Setembro, quando foi detectado o dobro da substància salbutamol - utilizada para a asma - na amostra recolhida durante a Vuelta: "Porque temos de esperar tanto tempo por um veredicto? Os dois italianos que tiveram a mesma coisa [Alessando Petacchi e Diego Ulissi] foram suspensos muito mais rápido. Que direito é o que o Froome tem para dispor de tanto tempo para encontrar uma explicação? É por a Sky ter tanto dinheiro?"

Hinault junta-se às vozes que consideram que a situação do britânico é prejudicial para a imagem da modalidade. O francês mostra-se triste com o que está a acontecer, dizendo mesmo ser "um verdadeiro escândalo" e que "tem de parar". "Froome não faz parte das lendas do desporto porque que imagem está ele a dar ao ciclismo?" Mais uma questão que Mauro Vegni, director do Giro, também já tinha levantado quando se tornou claro que o processo não seria concluído antes da grande volta italiana.

E como também não parece que estará antes do Tour, em França estará a pensar-se impedir a presença do ciclista da Sky na corrida, em Julho. A ASO, organizadora da prova, poderá precisamente alegar danos para a imagem como forma de bloquear a inscrição de Froome, que tem como objectivo conquistar o seu quinto Tour e assim igualar... Hinault, Merckx e também Jacques Anquetil e Miguel Indurain.

David Lappartient tem dito várias vezes que a possibilidade do processo estar concluído antes da Volta a França é muito reduzida. O jornal espanhol As perguntou ao presidente da UCI por que razão está a demorar tanto tempo, pois se Froome não vir a sua entrada no Tour bloqueada, a dúvida sobre os resultados poderá ser comum aos responsáveis pelas três grandes voltas.  A resposta até segue a linha das questões levantadas por Hinault: "Trata-se de um caso muito complexo, com muitos advogados, muitos interesses, muita documentação e muito dinheiro pelo meio. Tomaremos a decisão o mais cedo possível, mas não existe limite de tempo. O procedimento será alargado: as nossas dúvidas deverão ser contestadas e os seus estudos terão de ser valorizados. As duas partes dispõem de representantes legais poderosos e tudo acaba por ser mais complicado do que o costume."

A equipa e o ciclista mantêm a postura de quem está concentrado apenas nas corridas, acreditando que quando o processo chegar ao fim, o veredicto lhes será favorável. No Twitter têm sido partilhadas imagens que consagram as três conquistas. De recordar, que a substância em causa não acarreta uma suspensão imediata e é por isso que Froome pode continuar a competir.

Ciclistas como Romain Bardet já se mostraram contra Chris Froome estar a competir. Tom Dumoulin chegou a dizer que se fosse ele não teria tomado essa decisão, até porque a sua equipa, a Sunweb, pertence ao Movimento por um Ciclismo Credível. Ou seja, estaria longe das corridas até o caso estar finalizado. A Sky não está nesse movimento, até porque diz que as suas regras são mais exigentes. 

Depois da vitória no Giro, Froome não conseguiu evitar as perguntas sobre o processo, mas repetiu a frase que disse quando venceu o seu primeiro Tour, isto é, que a vitória no Giro iria persistir no tempo, realçando ainda que tem divulgados os seus dados, mais do que a maioria dos ciclistas.

Froome poderia de facto ser, por estes dias, a figura principal da história das lendas do ciclismo. Contudo, irá continuar a ver o seu nome arrastado para a lista de suspeitas enquanto o processo não chegar ao fim. E se a ASO tomar a decisão de impedir o britânico de estar no Tour, então vai-se continuar a falar muito sobre este tema, sobre estas suspeitas e não sobre as competições, sobre o que está a acontecer na estrada.

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28 de maio de 2018

A transformação de José Gonçalves

(Fotografia: Katusha-Alpecin)
Quando José Gonçalves fez o tempo mais rápido no ponto intermédio do contra-relógio individual, anunciou que estava na Volta a Itália para se mostrar. O que não se percebeu de imediato é que estava para mostrar um lado pouco conhecido dele: o de voltista a lutar por um lugar na geral. Nesse primeiro dia só ficaram à frente do português o campeão do mundo (Tom Dumoulin), um que tem tudo para o ser mais cedo ou mais tarde (Rohan Dennis, que é o campeão australiano) e o campeão europeu (Victor Campenaerts).  E foram apenas 12 os segundos que o separaram de Dumoulin. Este foi o início de uma corrida que poderá ter definido uma nova fase na carreira do gémeo de Barcelos.

Não se vai entrar em precipitações e dizer que José Gonçalves está feito num voltista. Porém, comprovou que pode ser mais do que um excelente homem de trabalho - e isso foi notório no ano passado no Giro, quando esteve ao lado de Ilnur Zakarin -, ou um caça-etapas, como aconteceu quando representou a Caja Rural na Vuelta. A exibição de Gonçalves não foi uma que se proporcionou, como às vezes se acontece. Sem um líder definido para a Volta a Itália, o português demonstrou estar bem e José Azevedo deu-lhe mais do que a esperada liberdade para lutar por vitórias de etapas. O director da Katusha-Alpecin não hesitou em dizer que queria tentar ver ou Gonçalves ou Alex Dowsett - que também esteve bem no contra-relógio - com a camisola rosa naqueles primeiros dias. Não demorou muito a perceber-se que a primeira aposta seria sempre o ciclista português, com a equipa a protegê-lo e a colocá-lo bem no pelotão.

Não houve rosa, nem vitória de etapa (ainda foi terceiro na quinta), mas a resposta de Gonçalves ao repto que lhe foi lançado foi fabulosa. Chegou a alta montanha e o ciclista manteve-se com os primeiros. Chegaram as etapas mais difíceis e manteve uma regularidade que o permitiu terminar num inesperado 14º lugar, a 34:29 de Chris Froome. Inesperado, quando começou o Giro, porque com o passar dos dias, ficou claro que o top 20 era um objectivo. Com o passar dos dias também ficou claro que era bem possível.

A postura do português quando estava entre os líderes das equipas que procuravam ganhar o Giro, passava a ideia de quem estava bastante confortável com a responsabilidade de alcançar uma boa classificação. Não entrou em loucuras de tentar seguir ritmos que lhe poderiam custar caro mais tarde. Fez a sua corrida e a regularidade por premiada. Para a Katusha-Alpecin foi também a salvação de uma prova em que Tony Martin esteve perto, mas ainda não foi desta que regressou às vitórias nos contra-relógios e russos Viacheslav Kuznetsov e Maxim Belkov estiveram muito abaixo das expectativas.

Nesta transformação que a equipa tem estado a trabalhar nos últimos dois anos, quebrando muito com as origens russas, só há por agora um homem para a geral: Ilnur Zakarin, um russo que José Azevedo não abre mão e vai apostar forte no Tour. Ver José Gonçalves, de 29 anos, mostrar esta capacidade para a geral numa grande volta não significa que se esteja a querer transformá-lo noutro líder. É intrigante pensar no que poderá vir a seguir. Mas certo é que se for novamente chamado para estar ao lado de Zakarin, a Katusha-Alpecin terá um homem com potencial para se tornar num braço direito do líder. Ou seja, José Gonçalves poderá ser um ciclista que ficará até o mais tarde possível com Zakarin, dando um apoio mais prolongado do que aquele que o ciclista tem recebido. No Tour poderá fazer uma enorme diferença ter um corredor assim ao lado do russo.

No entanto, também se abrem outras portas a Gonçalves, principalmente no que diz respeito a Giro e Vuelta, além de o tornar ainda mais competitivo em corridas que já conta com vitórias importantes, como são as competições de uma semana. Já venceu a Volta à Turquia (pela Caja Rural) e no ano passado a Ster ZLM. Na sua segunda temporada na Katusha-Alpecin, a performance de Gonçalves na Volta a Itália ajudou-o a elevar o seu estatuto na equipa. José Azevedo está a explorar todo o potencial deste ciclista, revelando um lado que não se pode dizer que surpreenda dada qualidade que Gonçalves tem, mas que nesta fase da carreira talvez já não se esperaria ver.

Este resultado no Giro e a forma física em que se apresentou - aparentava estar mais magro - talvez ajude a explicar porque na fase das clássicas do pavé Gonçalves não tenha nenhuma. A sua preparação estava a ser pensada para outros voos. Depois de um curto descanso, o ciclista português tem no seu calendário uma viagem até à Suíça, primeiro no GP du canton d'Argovie e depois à Volta daquele país, uma das principais de preparação para o Tour. No entanto, ainda não se sabe qual será a próxima grande volta para o português. Se for a França, será uma estreia, contando com duas presenças no Giro e três na Vuelta.

Esta mudança de José Gonçalves também tem tudo para ser benéfica para a Selecção Nacional. Com uns Mundiais de Innsbruck, na Áustria, à espera de trepadores, ter este ciclista com esta capacidade e em boa forma, será algo que agradará e muito a José Poeira quando chegar o momento de escolher os ciclistas.

José Gonçalves pode ter chegado tarde ao World Tour, mas chegou muito a tempo de deixar a sua marca e até para se transformar num ciclista diferente daquele homem de ataque que estávamos habituados a ver e que não ficará preso a um papel de gregário.


27 de maio de 2018

"Se estiver nas condições do ano passado, acredito que posso vencer uma etapa e até a Volta"

É difícil imaginar que um ciclista que esteve tão bem na Volta a Portugal, no ano passado, tinha pensado várias vezes durante a época em desistir. Aconteceu com António Carvalho, um dos principais corredores portugueses no pelotão nacional e que mostrou que até poderia ter condições para discutir a corrida se assim se tivesse proporcionado. Um ano depois tudo está diferente. O ciclista da W52-FC Porto está feliz e motivado. Nem os consecutivos azares que o têm perseguido em 2018 o desmoralizam. Recusa em assumir-se como líder da equipa na Volta, mas não esconde que está preparado para o fazer se assim se proporcionar. Vencer? Porque não!

Numa altura em que vai arrancar uma fase com algumas das corridas mais importantes para as equipas portuguesas, António Carvalho espera que a sua sorte mude: "É uma questão que tenho abordado com as pessoas que me são mais chegadas e colegas de equipa. Tenho tido muito azar. Já foram mais de dez vezes este ano!" O ciclista de 28 anos brinca dizendo que se tiverem de acontecer azares - e os furos não o largam -, então que seja agora, para que possa chegar à Volta a Portugal sem surpresas que lhe estraguem a prova. Por isso, com tantos azares, a época tem sido discreta, mas a sua voz exalta a confiança de quem reencontrou o prazer de ser ciclista. "Foi o ano que me apliquei mais no Inverno. Por norma deixo-me engordar 12, 14, 16 quilos e este ano só engordei seis quilos", contou ao Volta ao Ciclismo. Outra das razões que o levam a não ter resultados de nota nesta altura da época é porque a preparação foi apontada mais para o que aí vem no calendário.

A questão do peso leva-o a admitir que em 2017 estava a perder a vontade de continuar uma carreira que se augura que venha a contar com muitas grandes vitórias. "Para ser sincero, as coisas não me estavam a correr bem e eu quando algo não me corre bem viro-me muito para o comer. Um dos meus maiores prazeres é cozinhar e principalmente pastelaria. Gosto muito de fazer bolos. Cheguei a um ponto que só me apetecia fazer bolos. Não me apetecia treinar, só me apetecia comer bolos", confessou. Recuperou a forma física a tempo de ser uma importante figura na vitória de Raúl Alarcón, terminando na sexta posição. Até poderia ter sido melhor, mas manteve-se leal a Gustavo Veloso quando este sofreu na Serra da Estrela.

"[A minha mulher] fez-me ver que se me aplicasse poderia andar melhor durante o ano e os resultados poderiam acontecer. Foi logo a partir da Volta que o meu chip mudou"

"Este ano estou bem mais magro do que nos últimos anos. Os watts têm aparecido, sei que tenho treinado bem e que estou numa boa condição física. Chega a hora da verdade e as coisas não têm saído, mas o mais importante é saber que o trabalho está a ser feito, os valores a nível de treino estão lá e sei que mais cedo ou mais tarde vai dar os seus frutos", assegurou. E é mesmo caso para dizer que por trás de um grande homem está uma grande mulher, pois foi a esposa de António Carvalho que o ajudou a "mudar o chip", como explicou: "Fez-me ver as coisas de outra forma, principalmente no ano passado, depois da Volta. Fez-me ver que se me aplicasse poderia andar melhor durante o ano e os resultados poderiam acontecer. Foi logo a partir da Volta que o meu chip mudou. Não me deixei engordar tanto." Carvalho conta como quando vivia com os pais, por cima do supermercado que têm, não resistia quando via a carrinha dos donuts chegar: "Vou ser sincero e isto é muito mau para um atleta, mas chegava a comer seis ou oito donuts ao pequeno-almoço. Sou muito doceiro!" Agora já consegue controlar melhor este seu gosto por doces.

Não hesita em dizer que encontrou a sua motivação e que a mudança psicológica foi importante. "Com o aproximar da Volta não terei de fazer tantos sacrifícios como no ano passado. Agora é encarar o resto da época e vêm aí corridas muito importantes para a equipa e para mim", disse. Uma dessas competições, é o Grande Prémio Jornal de Notícias - que já venceu - e que começa esta segunda-feira em Viseu. "Tenho sempre grande ambição [nesta prova]. Não quer dizer que seja para mim. Temos de ver que tem dois contra-relógios. Irei tentar defender-me. Irá passar um pouco pela táctica da equipa. Não podemos ser aquela W52-FC Porto a levar toda a gente às costas, pois na parte final podemos pagar a factura", referiu.

António Carvalho fará o que o director desportivo, Nuno Ribeiro, lhe pedir, quer seja o líder ou não, mas realça como a corrida também dita as suas condições e como na equipa todos estão dispostos a sacrificar-se pelo colega que esteja em melhores condições para vencer. Será assim no Grande Prémio Jornal de Notícias, já foi assim na Volta a Portugal - com a vitória de Rui Vinhas em 2017 como o melhor exemplo - e poderá ser também na próxima edição da Grandíssima.

Era inevitável perguntar se o ciclista se vê a lutar pela vitória em Agosto. "Se estiver nas condições [físicas] do ano passado, acredito que posso vencer uma etapa e até a Volta, mas depende muito da estratégia", respondeu. Porém, é peremptório em afirmar que não se coloca como líder da equipa que tem dominado a Volta nos últimos anos: "É bom realçar que isto não quer dizer que serei chefe-de-fila ou o quer que seja na Volta a Portugal. No ciclismo todos sabem que existem quatro vencedores da Volta nesta equipa, por isso, não significa que seja chefe-de-fila. Não me quero pôr aqui em bicos de pés. Nem o director, Nuno Ribeiro, me permite, nem os meus colegas merecem isso."

"Ficou-me atravessado! Se tivesse sido tacticamente um Rui Costa - para mim é dos melhores a nível mundial a ler corridas - poderia ter vencido os Nacionais"

Recordando como os adeptos lusos olham para António Carvalho como um potencial vencedor, sabendo-se como por cá se gosta de ver um ciclista português ganhar, o corredor mostrou-se satisfeito como os atletas nacionais são apoiados, dando novamente como exemplo a vitória de Rui Vinhas. "A partir do momento em que vestiu a camisola amarela, o público todo, por ser português, esteve de volta dele e isso é de louvar. Também me lembro no ano em que o Cândido Barbosa pediu aos portugueses para colocarem as bandeiras cá fora. Toda a gente aderiu e acho que os portugueses preferem sempre que ganhe um português, independentemente da equipa. Eu sou apenas mais um português na W52-FC Porto e terei de trabalhar nas alturas que terei de trabalhar. Caso isso não aconteça e se tiver de assumir a equipa, irei assumir", realçou. E acrescentou: "Se chegar à Volta e andar o que andei no ano passado, assino já por baixo e já dava a Volta como realizada." Mas claro que se puder fazer melhor, pelo menos vencendo uma etapa, então ainda melhor.

Não se cansa de repetir o quanto está a desfrutar mais do ciclismo este ano, não perdendo a oportunidade para realçar que na W52-FC Porto o importante é a equipa e que esta saia vitoriosa nas corridas, independentemente do ciclista que vença. Nem ao recordar os momentos difíceis que passou devido ao excesso de peso perde o sorriso ou a confiança. Porém, quando se fala dos Campeonatos Nacionais, há um suspiro mais profundo. "Ficou-me atravessado! Se tivesse sido tacticamente um Rui Costa - para mim é dos melhores a nível mundial a ler corridas - poderia ter vencido os Nacionais", frisou, ao lembrar-se da edição do ano passado, em Gondomar. "Foi das corridas que mais me revoltou. Apesar de ter feito sexto, senti que poderia ter vencido. O Ruben Guerreiro venceu, mas sei que poderia ter estado na discussão."

Elogia de imediato o actual campeão nacional, afirmando que se está perante um dos melhores jovens ciclistas e que já está numa equipa do World Tour, a Trek-Segafredo. Contudo, recorda como quem estivesse a ver na televisão tudo o que aconteceu naquela corrida: "Eu ainda ataquei com o Tiago Machado e com o César Fonte. Tínhamos 3:30 de atraso e conseguimos chegar à frente, quando já era impensável. Mal chegámos à frente da corrida, torna-se a partir e eu fiquei no grupo de trás e eu fui sozinho a recuperar para cinco ciclistas, com quatro deles no World Tour. Ainda consegui chegar à frente, mas já ia vazio." Considera que Ruben Guerreiro "foi felino" pela forma como o atacou e venceu os Nacionais, mas irá para Belmonte com uma enorme vontade de finalmente vestir a camisola de campeão português. "Já fiz segundo, fui batido pelo Manuel Cardoso a 25 metros da meta. Vou sempre com o objectivo tentar vencer. Não me passa pela cabeça ir para os Nacionais para fazer segundo ou terceiro", salientou.

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E para terminar o Giro...

(Fotografia: Giro d'Italia)
Volta a Itália de reviravoltas, de enormes quebras físicas de vários ciclistas, da revelação de Richard Carapaz, da confirmação de Miguel Ángel López, de um Tom Dumoulin a mostrar que a vitória no Giro100 não foi por acaso e de um Chris Froome de carácter. Foi uma corrida interessante, ainda que muita da acção ficasse guardada mais para os finais de etapa. Simon Yates foi dos que mais espectáculo deu, mas será sempre aquela etapa 19 de Froome que será recordada neste Giro. Não foi só a melhor (além de inacreditável) desta edição, mas uma das melhores exibições de sempre. Aqui ficam as individualidades analisadas dentro das exibições das equipas. Afinal, o ciclismo é um desporto colectivo, ainda que no final seja um nome a ficar gravado na história. Desta feita, Chris Froome, o primeiro britânico a ganhar a Volta a Itália, além de ter entrado no restrito grupo dos que ganharam as três corridas de três semanas e no ainda mais restrito grupo de quem as conquistou de forma consecutiva.

Sky: Parecia  que havia uma espécie de maldição a afectar a equipa no Giro. Bradley Wiggins, Richie Porte, Mikel Landa, Geraint Thomas, todos foram para a vencer e não saíram com grandes recordações. Não foi a equipa dominadora de outros tempos e foi quase à vez que ia aparecendo alguém a tentar ajudar Chris Froome. Kenny Elissonde foi dos mais regulares numa primeira fase, Sergio Henao teve altos e baixos e Wout Poels apareceu no fim. E na altura certa. A Sky cumpriu o objectivo de ganhar o Giro, vendo o seu líder demonstrar grande carácter ao enfrentar todas as suspeitas, todas as contrariedades que lhe foram surgindo neste Giro. Foi dado como fora da luta pela vitória, até se especulou sobre um possível abandono. Chegou a Roma de rosa depois de uma etapa que ficará para a história: 80 quilómetros em solitário na etapa rainha da corrida. E não esquecer que conquistou também o Zoncolan. Foi uma Sky q.b. para ganhar em Itália e leva ainda a classificação colectiva e Froome venceu também a da montanha.

Astana: Faltou a etapa e a certa altura pareceu que o Giro iria ser uma desilusão. A aposta em Miguel Ángel Lopez era total, mas o colombiano não começou nada bem. Porém, há que elogiar a reacção do colombiano que o levou ao terceiro lugar. Não baixou os braços, foi subindo na classificação, tirou a camisola branca a Richard Carapaz e entrou numa interessante luta com o equatoriano e, com uma ajuda das quebras de Simon Yates, Fabio Aru e Thibaut Pinot, chegou ao desejado pódio. Pello Bilbao confirmou as expectativas e foi além de ser um bom apoio para López. O espanhol fechou em sexto. Tem sido das equipas mais ganhadoras este ano, mas mesmo sem uma vitória de etapa, a Astana tem razões para ficar satisfeita com o seu Giro. Agora "só" falta encontrar um maior equilíbrio para López. Já se sabia que tinha capacidade para terminar bem as grandes voltas, mas não pode começar a perder tanto tempo.

(Fotografia: Giro d'Italia)
Bora-Hansgrohe: Nota muito positiva para a equipa alemã que não tinha nenhuma das suas grandes estrelas na corrida, pois essas ficam guardadas para o Tour. Há um ano a equipa começou o Giro com uma vitória de etapa e ainda levou as camisolas todas nesse dia. Desta feita foi brilhando durante toda a corrida. Sam Bennett finalmente ganhou numa grande volta e logo por três vezes, incluindo a última etapa, em Roma. Patrick Konrad mostrou que está a atingir uma maturidade que o poderá levar para outro tipo de apostas mais ambiciosas (foi sétimo, a 13:01). Já Davide Formolo provoca um misto de satisfação e frustração. A queda no Etna atirou-o para fora de uma luta pelos lugares cimeiros, mas o italiano não desistiu e foi ainda fechar o top dez, a 15:16.

Sunweb: Levou uma equipa muito jovem para apoiar Tom Dumoulin, o vencedor do Giro no ano passado. Se em alguns momentos poderia ter beneficiado de maior ajuda, não foi por isso que não ganhou a corrida. Sam Oomen confirmou o que se esperava dele. Aos 22 anos é um voltista em formação e como gregário fechou na nona posição, a 14:18! Dumoulin foi dos ciclistas do top dez que foi mais regular. Ganhou a primeira etapa, desceu para segundo no dia seguinte e não mais saiu daquela posição. Terminou a 46 segundos de Froome e ficará sempre a sensação que poderia ter chegado à segunda vitória. Esteve abaixo do seu nível no contra-relógio, esteve muito melhor na montanha, mas perdeu tempo nas descidas na 19ª etapa, a tal em que Froome fez história. Ainda assim, foi um bom Giro. Agora é esperar para ver se Dumoulin irá ao Tour, ou se "saltará" para a Vuelta. Seria estranho se repetisse o calendário do ano passado, quando só fez a Volta a Itália.

AG2R: Pouco se falou desta equipa, ainda que tenha colocado um ou outro ciclista em fugas. Porém, Alexandre Geniez esteve a bom nível, fechando na 11ª posição, a 17:30. O objectivo da AG2R é 100% o Tour e Geniez irá estar ao lado de Romain Bardet, pelo que não surpreendeu esta postura mais discreta.

Movistar: Carlos Betancur teve a oportunidade que pediu para liderar a equipa, mesmo que soubesse que Richard Carapaz teria também liberdade para perseguir um bom resultado. O colombiano não aproveitou, tendo sido muito irregular e nem no top dez fechou (foi 15º, a 41:48). Não será fácil para Betancur voltar a ter este papel porque já não bastava estar numa equipa fortíssima, ainda viu aparecer a nova estrela. Carapaz venceu uma etapa, andou de camisola branca, lutou até ao fim por ela e ainda foi fazer um brilhante quarto lugar na geral, a 5:44 de Froome. E esta foi apenas a sua segunda grande volta.

Lotto-Jumbo: Cumpriu. Talvez se esperasse um pouco mais de George Bennett que raramente conseguiu andar com os melhores. Porém, foi oitavo (a 13:17) e o top dez era o primeiro objectivo. Enrico Battaglin deu uma vitória de etapa, já Danny van Poppel não consegue discutir sprints com os melhores. Depois de ter visto escapar o Giro há dois anos quando Steven Kruijswijk caiu perto do final, a equipa holandesa coloca grandes esperanças em Bennett e não tem razões para as perder.

Uma imagem que marcou o Giro na etapa do Etna. Mas Chaves e Yates acabariam
por ter enormes quebras ((Fotografia: Giro d'Italia))
Mitchelton-Scott: Cinco vitórias de etapa (empate com a Quick-Step Floors), 12 dias de camisola rosa... O Giro tinha tudo para ser de sonho não fosse ter escapado. Será difícil não ver esta corrida assim. Simon Yates foi fenomenal e nem a quebra de Johan Esteban Chaves no início da segunda semana estragou tanto os planos da equipa como se chegou a temer. Mas três semanas pedem regularidade. Quase todos os candidatos tiveram maus dias. Mas Chaves e Yates tiveram uns péssimos. A Mitchelton-Scott pensou que o trabalho de transformação para uma equipa que pode vencer uma grande volta seria premiado em Itália, mas afinal ainda há muito a aprender, principalmente a compreender o que aconteceu aos seus dois líderes. São dois excelentes ciclistas, que estiveram rodeados por outros que até ao descalabro de Yates estavam a formar a melhor equipa no Giro. Yates ficou a mais de uma hora de Froome e Chaves a mais de três e até foi dobrado o último dia, no circuito de Roma. Ficam as vitórias nas etapas, três de Yates, uma de Chaves e outra de Nieve. Neste aspecto, foi excelente e a formação australiana tem de estar orgulhosa, pois não se esperava tanto.

UAE Team Emirates: De equipa teve pouco, Fabio Aru andou em esforço praticamente desde o primeiro dia e teve pouca ou nenhuma ajuda. Foi mais um dos que simplesmente apagou no Giro e depois de mostrar uma grande reacção no contra-relógio, afinal tinha andado atrás de uma moto. Acabaria por abandonar a corrida e a equipa sai sem qualquer ponto de nota nesta corrida, como aliás tem sido basicamente toda a temporada. E o pior, é que nem surpreendeu. Aru chegou ao Giro sem convencer na preparação e confirmou que não estava nada bem. A UAE Team Emirates vai estar sobre enorme pressão no Tour, dado o alto investimento que foi feito e que não está a ser traduzido em vitórias.

Groupama-FDJ: Faltava uma etapa para a equipa justificar a aposta em levar Thibaut Pinot a Itália, que até preferia estar concentrado no Tour. No entanto, diga-se, que é o Giro que parece assentar-lhe melhor. No ano passado ficou à porta do pódio. Este ano estava lá e quando se pensava que teria "apenas" de se defender de Miguel Ángel López para cumprir o objectivo, Pinot também quebrou. Foi de tal forma que acabou o dia no hospital e nem partiu para a etapa de Roma. Começou bem, fraquejou um pouco, recuperou e depois acabou tudo mal. De referir que também não foi bonito ver como Pinot agiu na etapa 19, não ajudando Tom Dumoulin na perseguição a Froome, quando o seu companheiro, Sebastien Reichenbach não tinha forças para o fazer. Giro perdido para a Groupama-FDJ.

Bahrain-Merida: Domenico Pozzovivo viu escapar-lhe o pódio. Este pequeno italiano, de 35 anos, deu mostras de estar num dos seus melhores momentos da carreira. Acabou por ser sempre muito defensivo e a ligeira quebra (comparado com a de outros) na 19ª etapa custou-lhe o terceiro lugar. Um pouco mais ambicioso e assumindo algum risco em certos dias e Pozzovivo poderia ter terminado num sonhado pódio. Matej Mohoric deu uma vitória de etapa e para uma equipa sem o seu líder, Vincenzo Nibali, mesmo com Pozzovivo fora dos três primeiros (foi quinto, a 8:03), a Bahrain-Merida sai do Giro com nota mais.

Androni-Sidermec-Botecchia: Depois de ficar sem convites para o Giro, a equipa resolveu a questão ganhando a Taça de Itália e garantindo assim a presença. E ainda bem. É de facto uma equipa que anima etapas, sempre ao ataque. Pode não ter conseguido a vitória, mas não passou de todo despercebida e foi a melhor entre as Profissionais Continentais.

Dimension Data: A difícil temporada que está a ter poderia ter recebido uma dose de motivação se o jovem Ben O'Connor tem conseguido terminar a corrida no top 15. No entanto, caiu e abandonou. O Giro foi assim uma desilusão. Louis Meintjes começou mal, foi piorando, melhorou ligeiramente... e abandonou. Igor Anton ainda tentou repetir a vitória no Zoncolan, mas não conseguiu e... abandonou. Esta equipa precisa urgentemente de bons resultados. O seu melhor ciclista foi Ben King a mais de duas horas do vencedor.

BMC: Rohan Dennis até esteve bem melhor do que se esperava. Por momentos sonhou com o top dez. Foi 17º, a 56:07. Este australiano demonstrou novamente que está longe de ser um voltista que possa lutar por vitórias. Aposta perdida e só não se pode dizer que o Giro foi também perdido porque Dennis venceu o contra-relógio e andou de rosa. Mas para uma das melhores equipas do pelotão internacional, soube a muito pouco.

Katusha-Alpecin: Numa perspectiva nacional, José Gonçalves esteve muito, muito bem. Apareceu diferente do esperado. Ganhar uma etapa era um objectivo, mas depois do excelente arranque (quarto no contra-relógio inaugural), o português foi extremamente regular, sem quebras grandes e isso valeu-lhe um excelente 14º lugar, a 34:29. Contudo, na perspectiva da equipa, é pouco. Ver Tony Martin fazer um dos melhores contra-relógios desde que assinou pela estrutura não chega, já que não ganhou. Alguns ciclistas entraram numa ou outra fuga, mas sem resultados. José Gonçalves salvou a honra da Katusha-Alpecin, que é mais uma equipa a precisar desesperadamente de resultados.

EF Education First-Drapa p/b Cannondale: Michael Woods falhou no objectivo do top dez, Sacha Modolo falhou nos sprints, Hugh Carthy continua sem confirmar expectativas... Giro negativo para a equipa americana.

Trek-Segafredo: Também pouco se pode dizer da outra estrutura dos Estados Unidos. Nem Gianluca Brambilla, nem Jarlison Pantano (uma das grandes desilusões)... Nada correu bem e não surpreende que esta seja uma das equipas que está mais atenta ao que se passa no mercado na procura de reforços, com um líder para as três voltas à cabeça. E bem precisa.

(Fotografia: Giro d'Italia)
Quick-Step Floors: Cinco vitórias de etapas (quatro por Elia Viviani e outra por Max Schachmann), a classificação dos pontos... Este ano não houve a da juventude como em 2017 - Bob Jungels vai desta feita ao Tour -, mas sendo a aposta principal no seu sprinter, só se pode dizer uma coisa: que equipa fenomenal! Perder para Sam Bennett em Roma, na etapa final, não terá deixado Viviani muito satisfeito, contudo, a senda continua. A Quick-Step Floors vai com 36 vitórias em 2018.

Israel Cycling Academy: Não deixa de ser uma desilusão. A equipa israelita reforçou-se a pensar no mais que provável convite para o Giro, já que o início seria no seu país. Ben Hermans ficou muito aquém do que pode fazer, enquanto Ruben Plaza apostou tudo numa etapa, mas foi segundo. Kristian Sbaragli nem se viu nos sprints e Guillaume Boivin acabou por ser dos que mais se viu, ao estar nas fugas nos primeiros dias. O letão Krists Neilands, vencedor da juventude na Volta a Portugal, também pouco se viu. Fica para história Guy Sagiv, o primeiro israelita a terminar uma grande volta. 

Lotto Fix ALL: Tim Wellens começou bem, ganhou uma etapa, avisou que não queria lutar pelo top dez (tem potencial para ambicionar mais, mas é a sua escolha), mas acabou por abandonar e a equipa desapareceu. No entanto, missão foi cumprida com a vitória de Wellens e Adam Hansen terminou a 20ª grande volta consecutiva.

Bardiani-CSF: Tinha muito a provar depois de há um ano ter visto dois ciclistas serem excluídos por doping no dia antes do Giro100. Recebeu novamente o convite este ano, o que não deixou de ser surpreendente. Mas há que referir que os seus corredores mostraram merecê-lo. Enrico Barbin começou por andar nas fugas e vestido com a camisola da montanha. Quando vieram as principais etapas apareceu a futura estrela italiana (pelo menos assim promete): Giulio Ciccone. Não conseguiu a etapa, nem a classificação da montanha (foi segundo), mas bem tentou.

Wilier Triestina-Selle Italia: Ter Filippo Pozzato e uns patrocinadores fortes, ajuda a que esta equipa não falhe os Giros. Mas se já com a sua estrela a equipa pouco faz para merecer os convites, sem ela... Pozzato anunciou que não iria ao Giro pouco antes do início, devido a um problema de saúde do pai. Sobrou Jakub Mareczko. O sprinter cumpriu, estando nas disputas. Fez mais um segundo lugar, mas foi para casa na etapa nove. É uma equipa que pouco ou nada traz de mais valia à corrida.



As classificações finais via ProCyclingStats.


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26 de maio de 2018

A vitória mais bonita e brutal

(Fotografia: Giro d'Italia)
Chris Froome era um ciclista que funcionava como uma máquina programada para realizar o programa perfeito, com a ajuda de peças infalíveis, ou seja, alguns dos melhores gregários do mundo, alguns dos quais até têm tudo para serem também eles bons líderes. No Giro, o ciclista da Sky foi humano. Já o tinha demonstrado no último Tour. Ganhar a Vuelta não foi uma questão de controlar como tem acontecido em França. Em Itália, as diferenças foram ainda maiores para o tradicional Froome. Fraquejou, deu sinais que não deviam dá-lo como carta fora do baralho, voltou a ceder e num dia elevou-se a uma condição de super-herói. Um momento inesquecível de ciclismo aquela etapa 19! Talvez por se ver um Froome menos mecânico e mais humano, se tenha a tentação de considerar esta a mais bonita vitória das seis que agora tem em grandes voltas.

Muito se passou neste Giro que quase se pode dizer que teve duas histórias: a de Simon Yates, que quase se tornou num conto de fadas com final feliz para o jovem britânico da Mtichelton-Scott, e a de Chris Froome, que inevitavelmente fica muito centrada no dia em que esteve 80 quilómetros numa fuga. Sozinho!

Acabou mesmo por ser um britânico a ganhar este Giro. O primeiro, um ano depois de Tom Dumoulin ter feito a estreia para a Holanda. A etapa deste sábado, com três subidas de primeira categoria nos últimos 80 quilómetros, acabou por ser uma mais típica de quando Froome está com a camisola de líder. A Sky não foi a toda poderosa, mas apareceu nestas últimas duas etapas para garantir que Froome se juntasse a uma lista restrita, pois apenas Eddy Merckx e Bernard Hinault também ganharam as três grandes voltas de forma consecutiva.


(Fotografia: Giro d'Italia)
Dumoulin fez o que lhe competia. Atacou, contra-atacou e atacou mais umas vezes. Nem é a sua forma de correr, mas com 40 segundos a separá-lo da rosa, tinha de tentar. Caiu de pé e as grandes voltas ganharam definitivamente mais um ciclista que as pode discutir. A vitória de 2017 no Giro não foi um acaso, foi o início.

Mikel Nieve ganhou a etapa no dia em que celebrou 34 anos e atenuou um pouco a dor da Mitchelton-Scott por ter visto o Giro escapar-lhe 24 horas antes. E para terminar, mais uma quebra daquelas que marcaram esta corrida. Thibaut Pinot (Groupama-FDJ) foi o autor do "trambolhão" do dia, perdeu o pódio (e não é que Miguel Ángel López, da Astana, finalizou uma brilhante remontada até ao terceiro lugar!), o top dez e por pouco não ficou de fora dos 20 primeiros. Sairá de Itália com um amargo 16º lugar, a 43:46... Ou com um abandono. A equipa alertou entretanto que Pinot sofreu de desidratação e febre, estando no hospital a receber acompanhamento médico. Só de manhã haverá mais novidades.

Com Rohan Dennis a cair mais uns lugares, até ao 17º, José Gonçalves foi premiado pela sua regularidade e subiu mais duas posições: é 14º a 34:29 de Froome. Foi o melhor da Katusha-Alpecin e se ganhar uma etapa teria sido tão bonito de se ver, esta exibição ajudará à afirmação do português na equipa, num papel que vá além de gregário ou caça-etapas.

A preparação da Sky para a loucura de Froome

Mas o dia é de Chris Froome. 33 anos e seis grandes voltas conquistadas. À condição. Infelizmente não há nada que tire aquela sombra chamada salbutamol - substância para a asma - e que poderá custar ao britânico a Vuelta e este Giro. Talvez por isso seja tão complicado escrever ou falar sobre uma vitória que foi talvez a mais bonita de Froome. A mais épica certamente que foi. Mas será que ficará registada?

Até que caso fique resolvido - e arrasta-se desde Setembro -, o que se assistiu na sexta-feira, foi o que decidiu este Giro. E não será possível recordar esta edição sem falar daquela etapa, que foi preparada ao pormenor. Pode ter sido uma loucura, como descreveu Froome, mas foi uma planeada pela Sky. Há que saber preparar loucuras de 80 quilómetros!

Recuperando as declarações de Dave Brailsford, director da equipa, ao Eurosport, o responsável explicou que ao ver Simon Yates ceder no início do Colle delle Finestre, a equipa ganhou um moral extra. "A segunda fase era livrarmo-nos do Tom [Dumoulin]", referiu Brailsford. A subida que levaria ao ponto mais alto deste Giro, a 2178 metros, era metade feita em sterrato. Froome até disse que o fez lembrar dos tempos em que vivia em África (nasceu no Quénia). A decisão foi que seria nessa terreno que o ciclista tentaria um golpe que tanto poderia ser de génio, como um falhanço total. Mas na altura já pouco havia a perder.

No ciclismo não se ganha sozinho. E se os companheiros prepararam o terreno, foram os massagistas, os mecânicos, o próprio Brailsford e nem o assessor de imprensa escapou, a ajudarem Froome. "Todos os membros do staff, eu incluído, estávamos na berma da estrada para colocar em prática a estratégia de reabastecimento, para garantir que ele não seria batido. Foi o que mudou o jogo", realçou. "Tentámos segmentar. Sabemos quanto alguém vai queimar e quanto vai precisar para repor, então sabemos onde será preciso comer. Depois é preciso fazer com que aconteça e colocar em prática [o plano]", acrescentou.

Nas imagens televisivas era bem visível que Froome estava constantemente a alimentar-se, algo que não acontecia com quem o perseguia. Há que ter em conta que em causa não estava só a etapa, mas é preciso pensar que o Giro ainda tinha mais um dia de montanha. Para Brailsford, o trabalho feito por todos na berma da estrada foi decisivo. O resto fez Froome, que nunca deixou de olhar para o seu potenciómetro, tendo no final dito que nunca excedeu os seus limites. Como curiosidade, a bicicleta de Froome foi uma das oito que ontem foi ao raio-X para garantir que não tinha nenhum motor.

"Este Giro foi brutal", descreveu Froome depois de cortar a meta neste sábado, ao lado de Wout Poels. Aquele mini sprint foi justificado para garantir a classificação da montanha, que até já estava assegurada, pois o último esforço de Giulio Ciccone (Bardiani-CSF) não foi recompensado.

Há Tour ou não?


Froome e Poels, uma dupla que apareceu em grande no momento exacto
(Fotografia: Giro d'Italia)
Neste domingo Froome terá direito ao seu champanhe e à sua consagração em Roma, mas não demorará muito a ter de pensar no futuro próximo. O objectivo número um da temporada está alcançado. Bom, talvez seja o número dois, já que resolver o caso do salbutamol sem sofrer uma sanção, deverá ser uma prioridade. Mas na estrada, a ambição passa por se juntar ao exclusivo grupo de ciclistas que venceram cinco Voltas a França e quebrar o enguiço que dura desde 1998, quando Marco Pantani se tornou no último a vencer Giro e Tour no mesmo ano.

Porém, esta missão poderá ser barrada. A resolução do seu processo não tem fim à vista e até o presidente da UCI, David Lappartient, avisa que não acredita que haja uma conclusão antes do Tour, que arranca a 7 de Julho.

O principal problema de Chris Froome é a ASO. A empresa que organiza a corrida francesa, estará disposta a tentar impedir a presença do ciclista no Tour. A táctica poderá passar pela defesa da imagem da competição, que a presença do ciclista poderá colocar em causa dada a indefinição quanto ao uso do salbutamol, substância que acusou o dobro do permitido na Vuelta (pode ler aqui pormenores sobre esta questão).

A presença no Tour é assim uma incógnita e talvez por isso não se tão estranho quanto isso ver Egan Bernal ser chamado pela Sky para fazer uma estreia logo naquela que continua a ser vista como a principal das corridas de três semanas. Não se está à espera de ver o jovem colombiano (tem apenas 21 anos) ser um líder e lutar pela vitória, mas ter Geraint Thomas como possível número um, não parece chegar para uma equipa que se recusará passar despercebida na competição que tem dominado nos últimos anos. E claro, que a postura da Movistar em colocar todas as suas armas em jogo no Tour, também poderá ter a sua influência nesta decisão. O natural sucessor de Froome no papel de líder na Sky estará só à espera de saber se o terá de assumir de imediato, ou se poderá ganhar experiência, livre de uma pressão bem maior.

Mas Froome ganhou o direito de celebrar por Roma uma vitória memorável. Talvez a mais bonita. Talvez a mais brutal. Daqui a uns meses lá se saberá se ficará mesmo registada, ou se Tom Dumoulin se verá na sempre desconfortável posição de receber um troféu que não ganhou na estrada. Foi o que aconteceu com Andy Schleck e Michele Scarponi, que tiveram dificuldades em sentir que era deles as vitórias no Tour de 2010 e Giro de 2011, respectivamente, quando Alberto Contador foi desclassificado. O espanhol também fez a Volta a Itália à condição.



Aqui ficam as classificações da 20ª etapa da 101ª edição da Volta a Itália. Froome vence a classificação geral e a da montanha, Elia Viviani veste a camisola ciclamino dos pontos, Miguel Ángel López aguentou Richard Carapaz e ficou como o melhor na juventude, a Sky fechará como vencedora por equipas.

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Grande Prémio Jornal de Notícias em versão alargada arranca segunda-feira

(Fotografia: Federação Portuguesa de Ciclismo)
É uma das corridas que está sempre entre os principais objectivos das equipas portuguesas. O Grande Prémio Jornal de Notícias vai para a sua 28ª edição (não consecutivas) e este ano cresce nos dias de prova, mas terá etapas mais curtas do que o habitual. A W52-FC Porto tem dominado nos últimos anos esta competição, com três vitórias (a primeira ainda como W52-Quinta da Lixa): António Carvalho, Rafael Reis (actualmente na Caja Rural) e Raúl Alarcón. Em 2013 o vencedor foi César Fonte, que agora também representa a equipa que tem dominado o ciclismo nacional.

Porém, há quem queira dar luta. A Aviludo-Louletano-Uli teve excelente primeira fase da temporada e parte para uma altura em que se entra em contagem decrescente para a Volta a Portugal, com ambição de juntar mais uma grande vitória, depois de ter conquistado a Volta ao Alentejo e o Troféu Liberty Seguros. O Sporting-Tavira não está a realizar uma muito época vitoriosa, mas alguns dos seus ciclistas estão a demonstrar um crescendo de forma, como é o caso de Frederico Figueiredo.

Daniel Mestre tem estado em destaque na Efapel e sabe o que é vencer etapas no Grande Prémio Jornal de Notícias. Na Rádio Popular-Boavista é Domingos Gonçalves quem tem estado constantemente na luta pelos lugares da frente, com Luís Gomes a ter dado recentemente a última vitória à equipa de José Santos, no Grande Prémio Anicolor. A Vito-Feirense-BlackJack está a realizar uma época de estreia muito positiva, com Edgar Pinto a conquistar há três semanas a Volta à Comunidade de Madrid. A motivação dificilmente poderia ser maior para os ciclistas de Joaquim Andrade.

Quanto às equipas de sub-25 do escalão Continental - Liberty Seguros-Carglass, Miranda-Mortágua e LA Alumínios - partem à procura de uma vitória que vá além da disputa entre os seus jovens ciclistas. Mas claro que conquistar esta classificação será sempre um objectivo.

Quanto ao percurso, serão sete etapas, mais duas do que em 2017, com 823,6 quilómetros à espera do pelotão. Tudo começará em Viseu, na segunda-feira, com Vila Nova de Gaia à espera de consagrar o vencedor no domingo. Pelo meio, o pelotão passará por Viana do Castelo, Monção, Barcelos, Santo Tirso, Valongo, Esposende, Ovar, Porto, isto para referir apenas os locais de partida e chegada.

A primeira etapa começa e acaba em Viseu, na Avenida Europa (126,6 quilómetros), com o arranque marcado para as 14:50 e o final previsto para as 18 horas. No segundo dia, o pelotão vai até ao alto Minho, para 127,5 quilómetros entre Viana do Castelo (14:20) e Monção (17:30). Segue-se uma jornada dupla. Às 8:55 começará, em Monção, a curta viagem de 78 quilómetros até Viana do Castelo (10:50), uma inversão dos locais de partida e chegada do dia anterior. À tarde, a partir das 16 horas, decorre em Barcelos o contra-relógio de 9,5 quilómetros. 

Em dia de feriado, 31 de maio, corre-se a quarta etapa, num percurso de 154,4 quilómetros, com partida às 11:50, em Santo Tirso e com a chegada a Valongo prevista para as 15:40, na segunda passagem pela meta. A quarta tirada será um contra-relógio por equipas de 18,8 quilómetros, em Esposende (15 horas).

Para o fim-de-semana ficam duas exigentes etapas. No sábado, 2 de Junho, esperam os ciclistas 144,9 quilómetros entre Ovar (11:50) e Santo Tirso (15:37). Depois de uma primeira passagem pela meta, o pelotão irá subir até à Nossa Senhora da Assunção, onde no ano passado António Barbio (então na Efapel, representando agora o Miranda-Mortágua) venceu na Volta a Portugal.

Para fechar, o Porto recebe a partida (11:50) da decisão final, enquanto a Avenida D.João II, em Gaia, espera pelo vencedor (16 horas). Os 162,4 quilómetros terão uma subida de primeira categoria, uma de segunda e duas de terceira.

"Sem desprimor para outras provas, esta é uma corrida em que todos querem ganhar devido ao prestígio que confere. Pela forma como estruturámos o percurso, acredito que vai ficar tudo em aberto até ao último dia, fazendo com que seja emocionante seguir todas as etapas", afirmou, aquando da apresentação, o director da corrida. Carlos Pereira justificou ainda as etapas mais curtas como uma forma para que "haja mais competitividade e menos monotonia".