22 de maio de 2018

Yates avisa que vai mudar de táctica, infelizmente para os fãs

(Fotografia: Giro d'Italia)
Os 2:11 minutos de vantagem não só chegaram como ainda sobraram 56 segundos para gerir nos próximos quatro dias. Isto tendo em conta o segundo classificado e o especialista de contra-relógio, Tom Dumoulin, por sinal, o campeão do mundo da especialidade. Como o holandês preocupa um pouco menos na montanha, foi para Domenico Pozzovivo e Thibaut Pinot que o britânico fez contas mal terminou a sua etapa. Ganhou tempo a ambos. O italiano da Bahrain-Merida até se defendeu bem e manteve a terceira posição, mas está agora a 3:11 (estava a 2:28). Já o francês da Groupama-FDJ fez um contra-relógio a roçar o miserável e de 2:37 passou para uma diferença de 4:19. Perdeu o quarto lugar para Chris Froome (Sky), que apesar de ter recuperado 1:02 minutos, os 3:50 que o separam de Yates tornam a sua missão de conquistar o Giro praticamente impossível.

Ainda se diz "praticamente" porque se Yates tem controlado e atacado quase a seu gosto a Volta a Itália, o próprio sabe que tudo pode mudar num instante - que o diga Steven Kruijswijk que não esquecerá quando o Giro lhe escapou na antepenúltima etapa em 2016 - e, por isso, está na altura de mudar a táctica. Desde que vestiu a camisola rosa na etapa do Etna (a sexta) que Yates falava da necessidade de ter de ganhar tempo por causa do contra-relógio. Passou no teste do esforço individudal e com distinção. Agora há que controlar de outra forma a corrida e o próprio admite que como o irá fazer não será tão bonito de se ver.

"[Manter a camisola rosa] muda a minha táctica para os próximos dias. Infelizmente para os fãs serei muito mais defensivo. Vamos ver. O Tom está a um minuto, mas os rapazes atrás dele estão bem mais longe. É uma boa vantagem. Vamos ver o que conseguimos fazer", afirmou Simon Yates. O ciclista manteve sempre um discurso pessimista até ao contra-relógio, dizendo que acreditava que perderia a liderança para Dumoulin. Bluff? Uma forma de se auto-motivar? Ou simplesmente uma perspectiva realista de alguém que sabia que se tinha de superar num dos seus pontos menos fortes? No final, o que interessa é o resultado e esse deixa o ciclista da Mitchelton-Scott numa excelente posição para conquistar a sua primeira grande volta aos 25 anos.

Enquanto Yates confessou que se sentiu bem durante a primeira fase do contra-relógio de 34,2 quilómetros, mas que nos últimos 10 quilómetros morreu "dez mil mortes", expressão que o próprio usou, Dumoulin esteve a bom nível, mas não naquele que precisava para se tornar numa maior ameaça para Yates nas etapas de montanha que aí vêm. O holandês da Sunweb melhorou muito neste terreno, é um bom trepador - senão não teria ganho o Giro há um ano - mas não tem aquela mudança de velocidade que lhe vai fazer muita falta.

Será de facto uma pequena desilusão não ver Yates a continuar a jogar ao ataque. Mas é absolutamente compreensível. Está no comando e na montanha tem estado imbatível. É altura de quem ainda acreditar que pode bater o britânico de se mostrar. De ter a iniciativa. Porém, em causa poderão estar as batalhas pelas posições inferiores. Yates terá de estar atento para ter a certeza que nestas lutas não surge algum ataque que o possa acabar por prejudicar.

Vejamos: Froome está a 39 segundos do pódio, logo estará numa batalha muito particular com Pozzovivo. No entanto, e se numa primeira fase os dois podem aliar-se para tentar tirar Dumoulin do segundo lugar, antes de disputarem entre eles uma posição no pódio? Têm três etapas com chegadas em alto para melhorar as suas posições e principalmente Froome não quer desistir por completo do sonho de chegar à camisola rosa, nalgum golpe de sorte que possa aparecer. Em condições normais, sem incidentes, é o pódio que está na sua mira. Afastado que está o espectro do abandono, o britânico espera não ter mais nenhum dia mau. Se assim for, pode tornar-se num animador deste final de Giro.

O mesmo terá de acontecer com Thibaut Pinot. Foi dos que começou melhor a corrida, mas tem vindo a quebrar. O contra-relógio tornou a luta pela vitória quase impossível, mas o francês não pode, nem deve abandonar o objectivo de pelo menos chegar ao pódio. Há um ano foi quarto e já sabe que em 2019 não irá ao Giro, apesar de ser uma grande volta que lhe parece assentar melhor. O director da Groupama-FDJ, Marc Madiot, já confirmou que a partir de 2019 Pinot estará novamente concentrado a 100% no Tour.

Depois há a disputa pela camisola branca da juventude. Miguel Ángel López (Astana) ganhou mais dez segundos e tem agora 30 de vantagem sobre Richard Carapaz (Movistar). Possíveis movimentações destes dois ciclistas, podem motivar outros a segui-los.

Yates não terá uma missão fácil pela frente. Não basta controlar, pois terá de saber analisar a perigosidade dos ataques que irá sofrer directamente contra ele e aqueles que serão outras batalhas, mas que podem afectar a sua. A Mitchelton-Scott terá um enorme teste pela frente. Até agora tem sido uma equipa perfeita na protecção e ajuda ao seu líder. Mikel Nieve, Roman Kreuziger, Christopher Juul-Jensen e Jack Haig terão um papel importante na montanha no controlo dos adversários. Daria bastante jeito que Johan Esteban Chaves ainda conseguisse dar algo a esta corrida, mas o colombiano não é o ciclista em que neste momento recaiam as maiores das confianças.

Porquê tanto cuidado em não entrar em euforias por Yates? Na memória está ainda o que aconteceu a Steven Kruijswijk em 2016. O holandês da Lotto-Jumbo entrou na 19ª etapa com três minutos de vantagem sobre Chaves, 3:23 sobre Alejandro Valverde e 4:43 sobre Vincenzo Nibali. Uma queda numa descida, um mortal para a neve e foi o adeus à vitória e no dia seguinte perderia também o pódio. Foi Nibali quem fez a notável recuperação para ganhar o Giro nesse ano.

(Fotografia: Giro d'Italia)
Regressando a 2018. Rohan Dennis frustou o objectivo de Tony Martin e da Katusha-Alpecin de sair do Giro com uma vitória no contra-relógio. O australiano da BMC não desiludiu e foi o mais forte, numa vitória que já tinha procurado na primeira etapa, mas que Dumoulin lhe tirou por dois segundos. Além do triunfo, Dennis reentrou no top dez, saltando de 11º para sexto, a 5:04 de Yates. O ciclista não escondeu a sua satisfação, mas para o que falta do Giro, admitiu que a sua estratégia passará por aguentar o melhor que puder nas três etapas de montanha que faltam. Uma etapa e um top dez seria um excelente resultado para Dennis.

E Fabio Aru? Que surpresa. Depois de se afundar na classificação no domingo, a expectativa seria que o italiano fizesse um contra-relógio tranquilo a pensar em poupar força para tentar ganhar uma etapa e salvar algo deste Giro. Mas não. Aru fez um dos seus melhores contra-relógio, perdendo apenas 37 segundos para Rohan Dennis. Contudo, no melhor pano cai a nódoa. Aru recebeu uma penalização de 20 segundos por ter beneficiado do cone de vento de uma moto. Ainda assim, se tivesse estado melhor na montanha, o líder da UAE Team Emirates teria uma palavra a dizer na discussão pelo menos do pódio. Mas são 24:34 de desvantagem. Nem o top dez é um objectivo. Este foi um Aru a mostrar o carácter bem conhecido de lutar, mesmo que já nada tenha a ganhar com isso. Se estiver a sentir-se bem, o campeão italiano ainda irá mostrar-se na procura por uma etapa.

Houve mais sanções e que afectaram a UAE Team Emirates. Diego Ulissi desapareceu do top dez do contra-relógio, pois ele e o colega Valerio Conti levaram dois minutos de sanção. Ulissi partiu um minuto depois de Conti e terá beneficiado também do cone de vento. Ben Hermans (Israel Cycling Academy), Mads Pedersen (Trek-Segafredo) e Remi Cavagna (Quick-Step Floors) foram penalizados em 30 segundos. De recordar que este ano está a ser feita a estreia do vídeo-árbitro nas principais competições de ciclismo, entre elas a Volta a Itália.

José Gonçalves (Katusha-Alpecin) manteve o seu 20º lugar na geral, estando a 14:51 de Yates. Depois do quarto lugar no contra-relógio inaugural, o português foi 12º, com mais 1:08 que Dennis. Mais um bom resultado do ciclista que é, de longe, o melhor da sua equipa. Maurits Lammertink é o senhor que se segue e já tem mais de uma hora de atraso.

A etapa desta terça-feira fará a passagem para as três de alta montanha onde tudo se irá decidir, antes da consagração de domingo, em Roma. Porém, é melhor não facilitar. O dia começa logo a subir. Serão cerca de 11 quilómetros e nem sequer a dificuldade está categorizada. Só mais à frente aparecerá uma de terceira categoria. Na semana passada, quando apareceu uma subida logo nos primeiros quilómetros, ainda que não logo a abrir como irá acontecer amanhã, foi o descalabro para Johan Esteban Chaves, mas também era uma subida bem mais complicada. No entanto, não haverá margem para erros nos 155 quilómetros entre Riva del Garda e Iseo.



Pode conferir aqui as classificações após a 16ª etapa.



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