(Fotografia: Giro d'Italia) |
Ainda se diz "praticamente" porque se Yates tem controlado e atacado quase a seu gosto a Volta a Itália, o próprio sabe que tudo pode mudar num instante - que o diga Steven Kruijswijk que não esquecerá quando o Giro lhe escapou na antepenúltima etapa em 2016 - e, por isso, está na altura de mudar a táctica. Desde que vestiu a camisola rosa na etapa do Etna (a sexta) que Yates falava da necessidade de ter de ganhar tempo por causa do contra-relógio. Passou no teste do esforço individudal e com distinção. Agora há que controlar de outra forma a corrida e o próprio admite que como o irá fazer não será tão bonito de se ver.
"[Manter a camisola rosa] muda a minha táctica para os próximos dias. Infelizmente para os fãs serei muito mais defensivo. Vamos ver. O Tom está a um minuto, mas os rapazes atrás dele estão bem mais longe. É uma boa vantagem. Vamos ver o que conseguimos fazer", afirmou Simon Yates. O ciclista manteve sempre um discurso pessimista até ao contra-relógio, dizendo que acreditava que perderia a liderança para Dumoulin. Bluff? Uma forma de se auto-motivar? Ou simplesmente uma perspectiva realista de alguém que sabia que se tinha de superar num dos seus pontos menos fortes? No final, o que interessa é o resultado e esse deixa o ciclista da Mitchelton-Scott numa excelente posição para conquistar a sua primeira grande volta aos 25 anos.
Enquanto Yates confessou que se sentiu bem durante a primeira fase do contra-relógio de 34,2 quilómetros, mas que nos últimos 10 quilómetros morreu "dez mil mortes", expressão que o próprio usou, Dumoulin esteve a bom nível, mas não naquele que precisava para se tornar numa maior ameaça para Yates nas etapas de montanha que aí vêm. O holandês da Sunweb melhorou muito neste terreno, é um bom trepador - senão não teria ganho o Giro há um ano - mas não tem aquela mudança de velocidade que lhe vai fazer muita falta.
Será de facto uma pequena desilusão não ver Yates a continuar a jogar ao ataque. Mas é absolutamente compreensível. Está no comando e na montanha tem estado imbatível. É altura de quem ainda acreditar que pode bater o britânico de se mostrar. De ter a iniciativa. Porém, em causa poderão estar as batalhas pelas posições inferiores. Yates terá de estar atento para ter a certeza que nestas lutas não surge algum ataque que o possa acabar por prejudicar.
Vejamos: Froome está a 39 segundos do pódio, logo estará numa batalha muito particular com Pozzovivo. No entanto, e se numa primeira fase os dois podem aliar-se para tentar tirar Dumoulin do segundo lugar, antes de disputarem entre eles uma posição no pódio? Têm três etapas com chegadas em alto para melhorar as suas posições e principalmente Froome não quer desistir por completo do sonho de chegar à camisola rosa, nalgum golpe de sorte que possa aparecer. Em condições normais, sem incidentes, é o pódio que está na sua mira. Afastado que está o espectro do abandono, o britânico espera não ter mais nenhum dia mau. Se assim for, pode tornar-se num animador deste final de Giro.
O mesmo terá de acontecer com Thibaut Pinot. Foi dos que começou melhor a corrida, mas tem vindo a quebrar. O contra-relógio tornou a luta pela vitória quase impossível, mas o francês não pode, nem deve abandonar o objectivo de pelo menos chegar ao pódio. Há um ano foi quarto e já sabe que em 2019 não irá ao Giro, apesar de ser uma grande volta que lhe parece assentar melhor. O director da Groupama-FDJ, Marc Madiot, já confirmou que a partir de 2019 Pinot estará novamente concentrado a 100% no Tour.
Depois há a disputa pela camisola branca da juventude. Miguel Ángel López (Astana) ganhou mais dez segundos e tem agora 30 de vantagem sobre Richard Carapaz (Movistar). Possíveis movimentações destes dois ciclistas, podem motivar outros a segui-los.
Yates não terá uma missão fácil pela frente. Não basta controlar, pois terá de saber analisar a perigosidade dos ataques que irá sofrer directamente contra ele e aqueles que serão outras batalhas, mas que podem afectar a sua. A Mitchelton-Scott terá um enorme teste pela frente. Até agora tem sido uma equipa perfeita na protecção e ajuda ao seu líder. Mikel Nieve, Roman Kreuziger, Christopher Juul-Jensen e Jack Haig terão um papel importante na montanha no controlo dos adversários. Daria bastante jeito que Johan Esteban Chaves ainda conseguisse dar algo a esta corrida, mas o colombiano não é o ciclista em que neste momento recaiam as maiores das confianças.
Porquê tanto cuidado em não entrar em euforias por Yates? Na memória está ainda o que aconteceu a Steven Kruijswijk em 2016. O holandês da Lotto-Jumbo entrou na 19ª etapa com três minutos de vantagem sobre Chaves, 3:23 sobre Alejandro Valverde e 4:43 sobre Vincenzo Nibali. Uma queda numa descida, um mortal para a neve e foi o adeus à vitória e no dia seguinte perderia também o pódio. Foi Nibali quem fez a notável recuperação para ganhar o Giro nesse ano.
Porquê tanto cuidado em não entrar em euforias por Yates? Na memória está ainda o que aconteceu a Steven Kruijswijk em 2016. O holandês da Lotto-Jumbo entrou na 19ª etapa com três minutos de vantagem sobre Chaves, 3:23 sobre Alejandro Valverde e 4:43 sobre Vincenzo Nibali. Uma queda numa descida, um mortal para a neve e foi o adeus à vitória e no dia seguinte perderia também o pódio. Foi Nibali quem fez a notável recuperação para ganhar o Giro nesse ano.
(Fotografia: Giro d'Italia) |
E Fabio Aru? Que surpresa. Depois de se afundar na classificação no domingo, a expectativa seria que o italiano fizesse um contra-relógio tranquilo a pensar em poupar força para tentar ganhar uma etapa e salvar algo deste Giro. Mas não. Aru fez um dos seus melhores contra-relógio, perdendo apenas 37 segundos para Rohan Dennis. Contudo, no melhor pano cai a nódoa. Aru recebeu uma penalização de 20 segundos por ter beneficiado do cone de vento de uma moto. Ainda assim, se tivesse estado melhor na montanha, o líder da UAE Team Emirates teria uma palavra a dizer na discussão pelo menos do pódio. Mas são 24:34 de desvantagem. Nem o top dez é um objectivo. Este foi um Aru a mostrar o carácter bem conhecido de lutar, mesmo que já nada tenha a ganhar com isso. Se estiver a sentir-se bem, o campeão italiano ainda irá mostrar-se na procura por uma etapa.
Houve mais sanções e que afectaram a UAE Team Emirates. Diego Ulissi desapareceu do top dez do contra-relógio, pois ele e o colega Valerio Conti levaram dois minutos de sanção. Ulissi partiu um minuto depois de Conti e terá beneficiado também do cone de vento. Ben Hermans (Israel Cycling Academy), Mads Pedersen (Trek-Segafredo) e Remi Cavagna (Quick-Step Floors) foram penalizados em 30 segundos. De recordar que este ano está a ser feita a estreia do vídeo-árbitro nas principais competições de ciclismo, entre elas a Volta a Itália.
Houve mais sanções e que afectaram a UAE Team Emirates. Diego Ulissi desapareceu do top dez do contra-relógio, pois ele e o colega Valerio Conti levaram dois minutos de sanção. Ulissi partiu um minuto depois de Conti e terá beneficiado também do cone de vento. Ben Hermans (Israel Cycling Academy), Mads Pedersen (Trek-Segafredo) e Remi Cavagna (Quick-Step Floors) foram penalizados em 30 segundos. De recordar que este ano está a ser feita a estreia do vídeo-árbitro nas principais competições de ciclismo, entre elas a Volta a Itália.
José Gonçalves (Katusha-Alpecin) manteve o seu 20º lugar na geral, estando a 14:51 de Yates. Depois do quarto lugar no contra-relógio inaugural, o português foi 12º, com mais 1:08 que Dennis. Mais um bom resultado do ciclista que é, de longe, o melhor da sua equipa. Maurits Lammertink é o senhor que se segue e já tem mais de uma hora de atraso.
A etapa desta terça-feira fará a passagem para as três de alta montanha onde tudo se irá decidir, antes da consagração de domingo, em Roma. Porém, é melhor não facilitar. O dia começa logo a subir. Serão cerca de 11 quilómetros e nem sequer a dificuldade está categorizada. Só mais à frente aparecerá uma de terceira categoria. Na semana passada, quando apareceu uma subida logo nos primeiros quilómetros, ainda que não logo a abrir como irá acontecer amanhã, foi o descalabro para Johan Esteban Chaves, mas também era uma subida bem mais complicada. No entanto, não haverá margem para erros nos 155 quilómetros entre Riva del Garda e Iseo.
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