14 de maio de 2018

Os ciclistas pouco falados no Giro

(Fotografia: Giro d'Italia)
Uns acabam por não estar na linha da frente, mas estão a realizar uma boa Volta a Itália. Outros andam perdidos no pelotão e quase dá para esquecer que lá estão. Muito se fala de Simon Yates, Chris Froome, Elia Viviani ou pela negativa de Miguel Ángel López, mas aqui ficam outros nomes que também merecem destaque, depois de uma primeira semana de corrida bastante intensa, com a segunda a arrancar esta terça-feira e que começa logo com uma segunda categoria nos primeiros quilómetros.

Ben O'Connor (Dimension Data): Anda, como quem não quer a coisa, entre os melhores. Já foi perdendo algum tempo, mas ainda assim são apenas 2:36 (14º lugar) para o maglia rosa Simon Yates. Este jovem australiano (22 anos) apresentou-se na Volta ao Alpes, com uma excelente vitória de etapa, numa fuga solitária bem sucedida. Foi sétimo na geral e venceu a classificação da juventude. Então esteve muito melhor do que o líder Louis Meintjes e o mesmo está a acontecer no Giro. O sul-africano está a 5:44. O'Connor está com um papel livre dentro da equipa, visto que Meintjes não está a corresponder e o australiano aproveita para agarrar a oportunidade. Exibição muito positiva até agora e terá agora a possibilidade de perceber como o corpo reagirá a uma prova de três semanas. Sim, está a fazer a sua estreia em grandes voltas. A juventude poderá ser uma luta a pensar, pois tem 1:16 a recuperar para Richard Carapaz (Movistar).

Patrick Konrad (Bora-Hansgrohe): Está um pouco com Ben O'Connor. Como quem não quer a coisa, lá anda ele a muito bom ritmo. Davide Formolo, o líder, caiu na sexta etapa, do Etna, e perdeu tempo, o que coloca Konrad como o melhor da equipa na geral: 12º, a 2:34. Formolo está a 5:49. O austríaco, de 26 anos, está na Bora-Hansgrohe desde que esta ainda estava no escalão Profissional Continental. Já tem top dez em corridas como Paris-Nice e Volta ao País basco, tendo sido 16 no Giro há um ano. Numa formação que muito apostou na contratação de estrelas, Konrad não perdeu nem a confiança, nem espaço, mesmo que Rafal Majka seja o número um, no que diz respeito a grandes voltas. Konrad continua a sua evolução e com uma primeira semana muito regular, enquanto Formolo poderá ir à procura de etapas, o austríaco poderá pensar em chegar ao top dez.

Jack Haig (Mitchelton-Scott): Que luxo de gregário está este australiano a ser. Se Simon Yates está de rosa e Johan Esteban Chaves em segundo muito se deve ao brilhante trabalho de Haig. Vasil Kiryienka costuma ser uma locomotiva a impor ritmo na Sky, mas neste Giro é Haig que está a ter esse papel, que muitas dificuldades tem provocado aos adversários, "destruindo" as equipas, isolando os líderes. Não é justo salientar apenas Haig, quando Roman Kreuziger e Mikel Nieve também têm estado muito bem, sem esquecer Christopher Juul-Jensen, Sam Bewley e Svein Tuft, estes dois últimos mais chamados antes da alta montanha aparecer. Porém, Haig tem sido uma figura imponente na frente do grupo de favoritos e Yates bem pode oferecer-lhe já uma das maglias rosas que vestiu até ao momento! E atenção, só tem 24 anos!

Sam Oomen (Sunweb): A maioria dos ciclistas escolhidos para estar ao lado de Tom Dumoulin no Giro são muito jovens. Mas qualidade não lhes falta e Sam Oomen continua a comprovar isso mesmo. Estreou-se em grande voltas no ano passado em Espanha, tendo abandonado. No Giro, o holandês tenta afirmar-se no tipo de corridas que aspira um dia estar a discutir. A consistência deste corredor, de apenas 22 anos, está bem patente nos seus números: só num dia terminou fora do top 30 e mesmo assim foi 32º. Seja etapa plana ou de montanha, onde é mais chamado a trabalhar, Oomen está "colado" ao seu líder. Está a 2:54 de Simon Yates, na 17ª posição, o que faz dele o melhor gregário na geral depois de Pello Bilbao (Astana) e que acaba assim por estar também na discussão da juventude, a 1:34 de Carapaz.

Pello Bilbao (Astana): O espanhol ia ser um homem importante na ajuda a Miguel Ángel López, mas perante o descalabro do colombiano, vê-se como o ciclista que está melhor colocado na geral da equipa cazaque. Tem vindo a perder tempo e a diferença entre ambos é de 29 segundos, mas isso significa que Bilbao está no top dez e López não. O espanhol é um bom trepador e cumpre a sua sexta grande volta. É o seu segundo Giro e tem quatro Vueltas. A Astana não estará disposta a "deixar cair" o seu líder, nem que seja para o levar à vitória de uma etapa e à classificação da juventude (tem 1:14 minutos de desvantagem para Carapaz). Porém, com ambos os ciclistas a mais de dois minutos, mas com Bilbao a mostrar-se regular, o espanhol poderá ficar à espera de eventualmente ter um pouco de liberdade. Poderá estar dependente se López recupera ou não tempo neste início de primeira semana. E se ele próprio não continuar a perder tempo.

Depois destes exemplos positivos, temos os ciclistas de quem se esperaria já ter falado bastante mais por boas razões. No entanto, andam discretos. Caso de John Darwin Atapuma. O colombiano tem de ajudar Fabio Aru, é certo, mas o italiano tem ficado isolado muito cedo e Atapuma também não apareceu na luta por uma etapa. Talvez por não ter ordens para o fazer, devido à ajuda a Aru, mas desaparece tão rápido da frente que é uma desilusão não se ver mais deste ciclistas da UAE Team Emirates.

Ben Hermans e Ruben Plaza foram contratados pela Israel Cycling Academy para serem figuras durante este Giro, que começou precisamente na casa da equipa. Já se viu um pouco de Hermans, mas pouco. O veterano espanhol, de 38 anos, vai acumulando tempo - já tem mais de 25 a mais que Yates -, e talvez esteja a tentar um dos seus famosos ataques para conquistar a sonhada etapa por esta equipa. Seja qual for o plano, esperava-se um pouco mais de ambos.

Hugh Carthy (EF Education First-Drapac p/b Cannondale) é um daqueles ciclistas que dá vontade de perguntar: o que é que se passa? Só tem 23 anos, mas está no segundo ano na equipa americana e ainda não conseguiu mostrar o nível que atingiu na Caja Rural. A responsabilidade é diferente, é certo, mas tendo em conta que está com alguma liberdade, como se viu na fuga que integrou no domingo, este britânico não está a conseguir confirmar o que se esperava dele. Mas ainda vai muito a tempo.

Uma pneumonia é algo que dá cabo de qualquer preparação, seja para que corrida for. Foi em Março, a recuperação não foi fácil e se não se esperava que Gianluca Brambilla andasse a discutir a geral (longe disso). Já animar algumas fugas seria um objectivo. Foi muito fugaz o que fez no domingo e não foi convincente. O ciclista viveu momentos incríveis em 2016, quando venceu uma etapa e andou de rosa dois dias. Mudou-se para a Trek-Segafredo, deixando a Quick-Step Floors - para ter um papel de maior destaque, mas terá de fazer bem melhor para justificar a aposta da equipa.

Para terminar, Wout Poels. Que falta está a fazer a Chris Froome. Tudo corre mal ao britânico, mas é impossível não notar como esta Sky está tão diferente daquela que se vê no Tour, com Poels a ser o principal destaque, pela negativa. Desaparece cedo da frente, estando longe da forma desejada.




Que venha a segunda semana do Giro, que terá um fim-de-semana muito interessante à espera do pelotão, mas começa logo com duas etapas de sobe e desce. A desta terça-feira, tem então uma segunda categoria logo no início (ver imagem em baixo), ainda antes dos dez quilómetros. Será também a tirada mais longa da corrida, com 239 quilómetros a ligar Penne a Gualdo Tadino.



»»Simon Yates, um senhor ciclista neste Giro««

»»O dia que Carapaz não irá esquecer««

Sem comentários:

Enviar um comentário