(Fotografia: Giro d'Italia) |
O australiano alcançou um feito sempre importante ao conseguir vestir as três camisolas de líder das grandes voltas. Em Itália não conseguiu no contra-relógio, como no Tour e na Vuelta, mas vestiu a maglia rosa no segundo dia após ter perseguido os segundos de bonificação nos sprints intermédios. E não mais a largou. Nas duas etapas pela Sicília, os finais não foram nada fáceis. Mas Dennis aguentou. Até aqui não há surpresas. É um ciclista que passa bem a pequena e média montanha. Porém, para quem afirmou querer ser o próximo grande voltista australiano, o tempo passa e nada demonstra que o venha a ser. A alta montanha tem sido um obstáculo que não consegue evoluir fisicamente para o conseguir ultrapassar.
Dennis (27 anos) afirmou que defenderia a camisola rosa com tudo o que tem e pode dar, ainda que admitisse que eventualmente alguém a tiraria do seu corpo. Mas quer estar na luta até Roma. Será que consegue? Aí está o Etna, com toda a sua imponência, condições atmosféricas que não facilitam em nada (o vento pode ser um enorme inimigo, como aconteceu há um ano) e os adversários do australiano são alguns dos melhores do mundo neste tipo de corridas. Se Dennis quer ser um campeão, então tem de bater os melhores. Chegou a sua oportunidade de mostrar que pode fazer mais do que apenas demonstrar vontade de fazer algo especial através de palavras.
Há ainda um outro factor a ter em conta. Os ciclistas da BMC estão cada vez mais em xeque relativamente ao futuro. Com a equipa a poder fechar portas, Dennis não poderá estar a pensar num plano para se tornar voltista que montou com esta estrutura. É altura de apresentar resultados, pois se é o caminho que quer seguir na sua carreira, então terá de mostrar que tem capacidade para ser um voltista, senão terá de negociar outro tipo de papel caso seja obrigado a mudar de equipa.
Dennis pode estar de rosa, mas os actores principais são, na antevisão da subida ao vulcão, Dumoulin e Froome, a dupla que mais se quer ver. O muito esperado embate na alta montanha entre os dois vencedores das grandes voltas de 2017 irá começar o Etna. Só que poderá haver quem roube as atenções. É um cliché, mas é irresistível dizer: o pequeno Domenico Pozzovivo está enorme! Quem bem esteve no contra-relógio (10º) e nestas duas últimas etapas tão movimentadas nos quilómetros finais, esteve onde devia estar. Nesta quarta-feira até apanhou um susto ao ficar para trás após uma queda que cortou o pelotão. Teve de recuperar, mas não demorou até estar na frente a acelerar a corrida. Aos 35 anos, o ciclista da Bahrain-Merida está numa forma fantástica.
José Gonçalves recuperou muitos lugares no sprint final
para fechar em terceiro (Fotografia: Giro d'Italia) |
Enrico Battaglin foi o vencedor em Santa Ninfa. A Lotto-Jumbo retira desde já essa pressão de cima dos seus ciclistas, o que poderá ajudar George Bennett a ser ainda mais aposta para o top dez. Grande temporada para a equipa holandesa, já com 12 vitórias, metade em provas do World Tour.
E José Gonçalves deu mais uma boa razão para se falar dele. Foi terceiro. Excelente início de Giro para o português da Katusha-Alpecin. Desta feita sem problemas mecânicos, Gonçalves foi ao sprint final. A colocação nas duas últimas curvas não terá sido a melhor e quando arrancou já estava em desvantagem para Battaglin e Giovanni Visconti (Bahrain-Merida). Ainda assim, depois de uma quarta etapa com tanto azar, Gonçalves fez mais um bom resultado e reentrou no top dez: é oitavo, a 32 segundos de Rohan Dennis.
Sexta etapa: Caltanissetta-Etna, 164 quilómetros
Quando se fala do Monte Etna, o ciclismo português tem o seu destaque. Recuamos a 1989 e aí vemos Acácio da Silva a vencer a etapa no Giro e a vestir a maglia rosa. Um feito que continua a ser único na história da modalidade em Portugal.
Numa entrevista ao Observador, publicada no ano passado o ciclista, agora com 57 anos, recordou o momento decisivo daquela que foi a segunda etapa da Volta a Itália: "Saquei a rosa em Etna. Lembro-me perfeitamente. Foi uma chegada em pelotão, todos juntos, muito juntos. Nos últimos 10 quilómetros, havia uma subida de 6% de inclinação. Depois, a 400 metros da meta, havia uma curva. Quando faço a curva, já fui com o propósito de arrancar decidido. E lá fui. Acabei com duas bicicletas de avanço, à frente do [Luis] Herrera, [Tony] Rominger, [Ivan] Ivanov e [Marino] Lejarreta. Estava forte, no máximo das minhas capacidades."
O francês Laurent Fignon viria a vencer aquele Giro, com Acácio da Silva a terminar na 48ª posição, a mais de uma hora. Mas é a este ciclista que pertence uma das páginas mais bonitas do ciclismo nacional, não esquecendo que na sua carreira venceu cinco etapas na grande volta italiana e três no Tour, tendo também vestido a camisola da liderança na corrida francesa.
Regressamos a 2018. A subida ao Etna será então a primeira chegada em alto da 101ª edição e o que mais se espera é que não seja a desilusão de há um ano. Com o vento de frente, ninguém dos favoritos se mexeu. Beneficiou Jan Polanc (UAE Team Emirates), que alcançou uma bonita vitória na sua carreira. E o esloveno está novamente no Giro, no entanto, a história poderá ser diferente. O percurso tem algumas alterações, pelo que é possível que o vento possa até chegar a "bater" pelas costas.
A pendente média ronda os 6,5%, mas há zonas a oito e nove, com a máxima a atingir os 15%. Se o vento não estragar novamente a "festa", será possível que se tente fazer algumas diferenças, ou pelo menos para testar alguns ciclistas.
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