8 de maio de 2018

E o Giro animou

Tim Wellens ganhou a quarta etapa (Fotografia: Giro d'Italia)
O contra-relógio foi interessante e os sprints de Elia Viviani fizeram valer a pena esperar pelo final das etapas em Israel. Porém, foi no regresso a Itália que o Giro animou. E de que maneira! A etapa com muito sobe e desce tinha tudo para proporcionar ataques, contra-ataques, com várias ciclistas a terem pretensão a ganhar etapa ou mesmo a tentar tirar a camisola rosa a Rohan Dennis (BMC), mas acabou por até colocar em xeque quem luta pela geral. A maglia rosa era o pensamento de José Gonçalves, mas será que não havia mais nenhuma avaria para acontecer ao português? Tanto azar acabou por resultar em perda de tempo. Está mais longe o objectivo da rosa, mas a forma física está lá para lutar por etapas. Quem sabe já amanhã...

No entanto, o foco do dia vai, naturalmente, para o vencedor Tim Wellens, o excelente trabalho da Lotto Fix ALL, as boas indicações de ciclistas como Domenico Pozzovivo e Simon Yates e as mais preocupantes indicações de Chris Froome e Miguel Ángel López. Estamos apenas com quatro etapas realizadas e a alta montanha ainda nem chegou. Está quase. É já na quinta-feira, no Etna. O britânico da Sky ficou 55 segundos de desvantagem para Dennis, que se mantém um à frente de Tom Dumoulin (Sunweb). Quanto ao colombiano a distância passou para 1:14 minutos.

Falta tanta corrida e não há razões para pânico. Froome quer ganhar, López aponta ao pódio, ou pelo menos é o que o o seu director, Alexander Vinokourov, deseja. Mesmo estando as grandes decisões ainda longe, estes são segundos que ninguém com estes objectivos gosta de ter para recuperar com tão pouco tempo decorrido no Giro.

Aquela rampa final fez mossa em muita gente, depois de uns últimos quilómetros muito intensos. No entanto, permitiu perceber que Simon Yates (Mitchelton-Scott) - que já tinha estado bem no contra-relógio - quer e está em condições de se intrometer na muito falada luta Dumoulin/Froome. Para já subiu a terceiro, a 17 segundos da liderança. Reduzir a Volta a Itália a a dois ciclistas é, para já, injusto. Pozzovivo está numa fase de temporada muito interessante. O líder da Bahrain-Merida está a agarrar com tudo o que tem esta oportunidade dada pela equipa numa grande volta. Johan Esteban Chaves atacou, não aguentou o ritmo, mas a Mitchelton-Scott poderá mesmo ter o luxo de jogar com o colombiano e Yates.

Thibaut Pinot (Groupama-FDJ) esteve discreto no meio da alguma confusão que foram aqueles metros finais, mas terminou apenas a quatro segundos. George Bennett (Lotto-Jumbo), Fabio Aru (UAE Team Emirates), Carlos Betancur (Movistar) e Louis Meintjes (Dimension Data) descolaram e deixaram escapar dez, mas ainda assim qualquer um deles demonstrou que aquele top dez vai ser uma bela luta. E quem estará nela será Michael Woods. O canadiano da EF Education First-Drapac p/b Cannondale pode ser visto como outsider, mas terá de receber bastante atenção se os favoritos não quiserem ter de lidar com o que poderá ser uma boa surpresa, ainda que não seja total, tendo em conta o que já fez na última Vuelta (foi sétimo).

Até parece mal deixar Tim Wellens para o fim. O belga está a ter uma época sensacional. São já cinco vitórias, com destaque para a etapa e geral na Ruta del Sol e depois na clássica De Brabantse Pijl. Agora somou a sua segunda no Giro, dois anos depois de ter ganho em Roccaraso. Wellens, que antes do Giro renovou até 2020 com a Lotto Soudal (ou Lotto Fix ALL nesta corrida), realçou que foi especial por uma vez bater o pelotão, sem ter de o deixar à distância. Este é um daqueles ciclistas que tem tendência a ganhar com ataques de timing perfeito. Desta vez, foi uma aceleração final, seguida ainda de um sprint que lhe garantiu a vitória.

Apesar da boa forma e de se querer mostrar nas três semanas, o top dez parece que afinal não entrará já nas contas de Wellens. O ciclista falou de como quer tentar somar mais alguma etapa e ajudar os seus colegas. "Sou o tipo de corredor que pode ir pelas gerais numa corrida de uma semana", salientou, acrescentando também sua aptidão para certas clássicas: "Mas nas grandes voltas prefiro apontar às vitórias de etapas em vez da geral."

Não sendo de excluir completamente que possa eventualmente pensar num bom resultado no final das três semanas, o melhor é tirar-lhe bem as medidas para certas etapas. Numa equipa sem um André Greipel que tantas vitórias lhe rendeu no passado, Wellens nada tem a ver com o sprinter, mas pode não ficar pelo triunfo em Caltagirone. De salientar ainda que a Lotto Fix ALL fez um grande trabalho em preparar o caminho para Wellens. Foi perfeito!

Regressando a José Gonçalves. Que pena os problemas mecânicos que teve. Trocou de bicicleta com um colega, depois parou para lhe ser dada novamente uma dele, mas o guiador não estava bem e lá foram mais uns segundos. Mesmo tendo um gregário de luxo a trabalhar para o ajudar, Tony Martin, Gonçalves acabou por cortar a meta a 27 segundos de Wellens. Com tanto chega a frente para parar novamente, para recuperar outra vez... Foi demasiada energia despendida. Caiu de terceiro para 11º. Há que continuar a acreditar que pelo menos a vitória de etapa é possível, principalmente se tiver esgotado todos os problemas mecânicos neste dia!

Pode ver aqui as classificações, cuja única mudança foi na liderança por equipas. A Katusha-Alpecin de José Gonçalves caiu para oitavo, com a Mitchelton-Scott a ser agora a melhor. Elia Viviani (Quick-Step Floors) lidera nos pontos e o companheiro de equipa Max Schachmann na juventude. Enrico Barbin (Bardiani-CSF) foi novamente para a fuga - terceiro dia consecutivo - para somar mais uns pontos para a montanha.

Quinta etapa: Agrigento-Santa Ninfa (Valle del Belice), 153 quilómetros


A primeira parte do dia é algo "ondulada" mas não deverá causar grandes problemas. Quando chegarem as três contagens de quarta categoria, também nenhuma é particularmente assustadora para alguns dos sprinters, ainda que a descida após a Partanna possa proporcionar algum ataque para aqueles que gostam de correr dessa forma. Mesmo que os sprinters sobrevivam às subidas e descidas, o que não vem categorizado acaba por ser o que poderá eliminar aqueles que se pode descrever como puro sprinter. A cerca de dois quilómetros da meta, uma curta ascensão chega a ter alguns metros a mais de 12%! Mesmo antes da meta haverá nova inclinação, ainda que bem mais simpática.

Etapa curta, que poderá ser movimentada, principalmente por aqueles que na quinta-feira não estarão a pensar em conquistar o Etna, naquela que será a primeira chegada em alto da Volta a Itália. No entanto, depois da intensidade da etapa desta terça-feira e com tantos pretendentes a quererem mostrar-se... Será importante que, pelo menos, mais nenhum segundo seja perdido.


 


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