2 de março de 2021

Van der Poel é quase tudo, mas Alpecin-Fenix vai mais além

© Photo News/Alpecin-Fenix
Alpecin-Fenix, a ProTeam com regalias World Tour. Vencer o ranking do segundo escalão do ciclismo em 2020, abriu as portas das grandes corridas mundiais, sem ter de esperar por convites. Foi um passo importante numa equipa que tem um dos ciclistas mais importante e mais popular do pelotão. Mathieu van der Poel por si só atrai muitos patrocinadores. Porém, não basta. Há que somar bons resultados, até porque, se não há pretensão de obter uma licença World Tour, mas se se quer ter esse calendário, há que ganhar novamente o ranking. A Alpecin-Fenix está a mostrar isso mesmo. Que pode ser mais do que Van der Poel.

Porém, não restam dúvidas, o holandês será sempre a principal história. Um companheiro ganhou esta terça-feira o Le Samyn... Van der Poel é o destaque porque com a manete direita partida, abdicou de lutar pela vitória e ajudou a preparar o sprint final! Não é qualquer um que faz isso, é certo. No entanto, Tim Merlier merece ser "primeira página" pelo excelente sprint que realizou... E sim, finalizando de forma perfeita o trabalho e esforço de Van der Poel.

O holandês já tem uma vitória, na primeira etapa da Volta aos Emirados Árabes Unidos - a equipa abandonou logo de seguida devido a um caso positivo de covid-19 entre o staff - e, depois de uma época de ciclocrosse onde ganhou, ganhou e ganhou, está na estrada para juntar mais uns grandes triunfos ao monumento da Flandres, conquistado em 2020.

A Alpecin-Fenix fez o que muitos considerariam impossível quando Van der Poel começou a mostrar-se na estrada. "Segurou" o ciclista, mesmo não sendo equipa World Tour. E pretendentes com muito dinheiro não faltaram. O holandês também quis ficar onde se sente bem. Onde é rei e tem uma palavra (ou muitas) a dizer sobre o que faz ou deixa de fazer.

Para equipas que apostam muito num ciclista, há sempre o risco de num ano menos bom, haver poucas vitórias, menor notoriedade e já se sabe que é preciso manter os patrocinadores felizes.

Mesmo sabendo que Van der Poel é notícia por quase tudo (caso da manete é exemplo disso), esteja bem ou esteja menos bem, contratar atletas como Jasper Philipsen (quebrou contrato com a UAE Team Emirates para se juntar à equipa belga), Silvan Dillier (AG2R), Xandro Meurisse (Circus-Wanty Gobert), Edward Planckaert (Sport Vlaanderen-Baloise) ou Laurens de Vreese (Astana), demonstra como a pretensão é não só garantir que a sua estrela tem apoio quando quiser - da forma como anda a atacar, para já tem andado muito por sua conta -, mas também opções para disputar vitórias.

© Photo News/Alpecin-Fenix
Merlier (na foto ao lado, a vencer o Le Samyn) comprovou como há mais soluções, principalmente no que a clássicas e sprints diz respeito. Meurisse pode dar algo mais nas gerais em provas por etapas. Petr Vakoc, Dries de Bondt, Louis Vervaeke são outros ciclistas que podem ser chamados a um papel de primeiro plano em certas ocasiões, tal como Sacha Modolo, ainda que o sprinter italiano há muito que anda longe da melhor forma. E há mais dentro de um vasto plantel, de uma formação que quer aproveitar bem esta regra da UCI que permite uma ProTeam ter vida de World Tour.

É também importante para que todos saibam que Van der Poel é a estrela, mas que eles também têm são valorizados. Um bom ambiente numa equipa é essencial e Van der Poel demonstrou que se for preciso trabalha para um companheiro. Outro pormenor muito importante.

Saber ir além das suas estrelas é uma forma de garantir a sobrevivência. Que o diga a Bora-Hansgrohe que apostou quase tudo em Peter Sagan, mas com o passar das épocas soube contratar e ir além do eslovaco. Quando Sagan começou a obter menos resultados, tinha ciclistas para cobrir o sucesso desportivo, enquanto Sagan continuou a ser a referência para os patrocinadores, mesmo ganhando menos.

Mas claro, por mais que a Alpecin-Fenix queira que vários dos seus ciclistas tragam bons resultados, é Mathieu van der Poel que suporta quase todo o mediatismo da equipa. E vitórias procuram-se nesta fase das clássicas e muita atenção vai haver sobre o holandês quando se estrear no Tour, mais à frente na temporada. Sábado é dia de Strade Bianche e do que se vai falar? Van der Poel vs Wout van Aert (Jumbo-Visma).

Percebe-se porque uma marca como a Alpecin deixou de patrocinar uma equipa do World Tour para se mudar para uma ProTeam que tem Van der Poel. Percebe-se porque a Canyon tenha feito um contrato específico com o ciclista, para que este fosse a imagem da marca de bicicletas. Percebe-se também que a forma de estar do holandês é de correr de forma livre, atacando a 80 quilómetros da meta, como fez na Kuurne-Bruxelles-Kuurne, mas também terá de selar grandes vitórias, daquelas que o colocarão na história como um dos melhores. Contudo, para já, gosta de as alcançar em grande estilo. Alguém consegue esquecer-se da Amstel Gold Race em 2019?!

Classificação completa, via Pro CyclingStats. De referir que o único português em prova, Bernardo Gonçalves (Lviv Continental Cycling Team), não terminou a corrida devido a uma queda aos 86 quilómetros, dos 205,4.

A prova feminina foi ganha ao sprint pela belga Lotte Kopecky (Liv), com a portuguesa Maria Martins (Drops-Le Col s/p Tempur) a também abandonar.

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