30 de agosto de 2020

Segundos bónus não seduzem a todos. Mas Alaphilippe agradece

© ASO/Alex Broadway
A ASO, organizadora da Volta a França, repete em 2020 a fórmula de segundos de bónus em algumas etapas, depois da experiência no ano passado. Na prática a intenção é fazer com que haja maior movimentação na tentativa de procurar ganhar tempo, além das habituais bonificações em todas as metas, para os três primeiros. Este domingo estiveram os primeiros em jogo, mas será que os que lutam pelo Tour estão assim tão preocupados com estes segundos?

Em jogo estão oito, cinco e dois segundos, que vão estar disponíveis em mais sete etapas, depois da de hoje. Primoz Roglic (Jumbo-Visma) é um ciclista que gosta de lutar por qualquer segundo que possa estar disponível. A prova é, mesmo quando já não pode ganhar uma etapa, tenta sempre um segundo ou terceiro posto nas provas. E aquelas bonificações têm sido importantes.

Porém, é diferente desgastar-se um pouco na meta e ir à procura de bónus durante a etapa, mesmo que estejam colocados mais perto do final como é o caso neste Tour. Os ciclistas que começam por tentar aproveitar mais estas oportunidades, são atletas como Julian Alaphilippe. O corredor da Deceuninck-QuickStep não é um candidato a vencer a geral, mas para repetir a exibição de 2019, em que esteve 14 dias de camisola amarela vestida, somar estes segundos pode ser uma garantia que vai adiando a entrega da liderança àqueles que a procuram como objectivo máximo.

O trio que disputou os segundos bónus da 2ª etapa
© ASO/Pauline Ballet
Alaphilippe tinha esta segunda etapa marcada para tentar ganhar e vestir a amarela. Atacou na última subida, que nem era categorizada, mas tinha os tais segundos de bónus. Por acaso até foi apenas segundo, com Adam Yates (Mitchelton-Scott) a sprinter para ficar com os oito e o francês com os cinco. Em comum, estes ciclistas têm quererem ganhar etapas e estar de amarelo, mas sem pensar em chegar na condição de líder aos Campos Elísios.

Marc Hirschi (Sunweb) ficou com os dois segundos que restaram, com o pelotão, na altura comandado pela Ineos Grenadiers, a não se preocupar minimamente em colocar os seus líderes na luta pelos bónus. Para Egan Bernal, Roglic, Thibaut Pinot, as diferenças vão fazer-se nas grandes etapas de montanha.

Sprint final, com Hirschi a dar muito espaço a Alaphilippe,
que já não conseguiu recuperar
© ASO/Alex Broadway
Talvez mais adiante na corrida estes segundos de bónus possam tornar-se mais valiosos para os chamados favoritos, principalmente se ninguém estiver a conseguir fazer grande diferença. Se for o caso, então a Jumbo-Visma, que quer de facto ser a patroa do Tour, pode tentar explorar o lado rápido de Roglic em sprints em pequenos grupos.  E, lá está, o esloveno adora ir atrás de qualquer segundo que possa ajudar. Mas a preferência irá sempre para uma vitória de etapa. Pelo prestígio, claro, e porque são 10 segundos para o vencedor, seis para o segundo classificado e quatro para o terceiro.

A ideia de tentar que haja mais luta e logo mais espectáculo com a colocação destes bónus não resultou no imediato, mas Alaphilippe agradece, pois conquistou 15 segundos de bonificação e mais dois na estrada para o pelotão. Yates está a quatro e Hirschi - o novo líder da juventude, tirando a camisola branca a Mads Pedersen (Trek-Segafredo) - a sete.

© ASO/Alex Broadway
Início de nova saga no Tour?

O francês ainda não tinha vencido em 2020, apesar de ter estado perto na Milano-Sanremo (foi segundo, atrás de Wout van Aert) e nos Campeonatos Nacionais, há uma semana. Julian Alaphilippe viveu momentos difíceis com a morte do pai, a quem de imediato dedicou a vitória em Nice. Chorou de emoção, ao mesmo tempo que não escondeu algum alívio. Já se instalava algum nervosismo no ciclista pela falta de vitórias, depois de um 2019 memorável.

Apesar da Deceuninck-QuickStep não ser uma equipa para a montanha, já se percebeu que Alaphilippe é um lutador, que na edição passada até fez os franceses sonharem. Acabou em quinto, mas ainda assim, muito melhor do que se esperaria. Agora já não surpreenderá que faça algo idêntico. Contudo, apesar da exibição de hoje, este não é o Alaphilippe de 2019.

© ASO/Alex Broadway
Mesmo na forma como atacou, sem conseguir que Hirschi e Yates ficassem para trás, é notório que falta algo ao francês. Porém, pode compensar com aquela bem conhecida garra. Alaphilippe pode muito bem manter a camisola amarela por vários dias, com a oitava etapa a ser o pior dos testes, quando surgir a primeira categoria especial, no Port de Balès.

O senão é que Alaphilippe vai ter adversários que também querem vestir a amarela, nem que seja por um só dia. Dentro da margem dos 17 segundos estão, por exemplo, Sergio Higuita (EF Pro Cycling), Esteban Chaves (Mitchelton-Scott), Greg van Avermaet (CCC) e Pierre Latour (AG2R). E exclui-se aqueles que tem objectivos mais altos, ainda que não é de afastar que Tadej Pogacar (UAE Team Emirates) vá tentar fazer um pouco de história para a Eslovénia (Roglic tem concorrência nesta luta nacional).

Sempre que houver mais montanha, qualquer um destes ciclistas (e não só) podem fazer o mesmo que Alaphilippe. Procurar uns segundos bónus para ter aquele momento de amarelo.

Classificação completa, via ProCyclingStats.

Etapas com segundos bónus

  • 2ª - Col des Quatre Chemins
  • 6ª - Col de la Lusette
  • 8ª - Col de Peyresourde
  • 9ª - Col de Marie Blanque
  • 12ª - Suc au May
  • 13ª - Col de Neronne
  • 16ª - Montée de Saint-Nizier-du-Moucherotte
  • 18ª - Montée du plateau des Glières
3ª etapa: Nice-Sisteron, 198 quilómetros



Mesmo com quatro subidas categorizadas, é um dia que os sprinters não vão querer desperdiçar. Vai ser preciso as suas equipas trabalharem, pois também deverá haver quem vai apostar forte na fuga.

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