26 de agosto de 2020

Excelente exibição colectiva merecia mais nos Europeus


Até ao problema com Rui Costa, Equipa Portugal esteve sempre muito
bem colocada no pelotão (© Ilario Biondi/BettiniPhoto©2020/UEC)
Não é muito habitual ter a selecção nacional com seis ciclistas numa prova do nível de uns Europeus. José Poeira não teve, por isso, problema em perseguir um bom resultado. Aliás, não teve de problema em assumir a corrida como já tinha previsto e como as circunstâncias chegaram a exigir. Infelizmente, o ciclismo tem destas coisas. Mais um problema mecânico e mais uma hipótese de disputar talvez mais do que um top dez acabou por se gorar. Ainda assim, Rui Oliveira não se coibiu de tentar dar à selecção um merecido prémio. Sprintou e fechou na 14ª posição.

Soube a pouco, pois qualquer um dos seis ciclista eleitos por José Poeira merecia mais, a começar pelo próprio Rui Oliveira. Incansável no trabalho para fechar espaços na fase final da corrida e antes na protecção a Rui Costa, o jovem ciclista ainda encontrou forças para sprintar, quando foi chamado a essa responsabilidade, mas também não teve sorte.

Rui Costa foi sempre protegido pelos seus companheiros de equipa
"Foi das melhores exibições que fizemos enquanto selecção nacional. Estivemos sempre na frente, ajudando-nos mutuamente, todos a um nível excelente. No final, como a corrida não se fez tão dura quanto seria necessário para o Rui Costa, a segunda cartada era resguardar-me para o sprint. Já cheguei um pouco fatigado, mas entrei bem posicionado. Ia, certamente, para um top 10, mas fui um pouco apertado por um ciclista da República Checa. Tive de travar e perdi posições. Melhorei o resultado do ano passado, mas queria mais", afirmou Rui Oliveira, citado pela Federação Portuguesa de Ciclismo.

Além dos "Ruis", Ivo Oliveira, Ruben Guerreiro, Rafael Reis e Rafael Silva estiveram perfeitos. Protegeram o líder tão bem! Inclusivamente conseguiram evitar duas quedas que marcaram a corrida em Plouay. A zona de Bretanha francesa não teve um percurso fácil de 177,45 quilómetros. O circuito teve estradas muitos estreitas, que exigiram uma constante boa colocação.

Ruben Guerreiro tentou a sua sorte numa fuga
(© Ilario Biondi/BettiniPhoto©2020/UEC)
Quando a corrida ficou definitivamente lançada, entre os 50 e 60 quilómetros finais, a Equipa Portugal mantinha-se no grupo, sempre bem posicionada. Sem surpresa, Ruben Guerreiro, o eterno irrequieto, tentou a sua sorte numa fuga. Mais um português sem sorte, pois os "companheiros" não foram os ideais e o seu esforço não foi compensado. Profissional como é, assumiu de imediato o apoio a Rui Costa.

Mas este sim, pode considerar-se o maior azarado. Um problema no selim tirou a possibilidade de Rui Costa tentar o ataque previsto para evitar uma chegada ao sprint, onde Portugal tinha menor hipótese de chegar às medalhas. Teve de pedir assistência duas vezes e na pior das alturas. Na frente o ritmo já era infernal.

"Quando devíamos estar à frente, tivemos o azar de estar atrás. Já não foi possível atacar a corrida para tentar um bom resultado com o Rui Costa. Com um grupo tão numeroso, o plano passou a ser tentar levar o Rui Oliveira nas melhores condições para a discussão do sprint. Foi nesse sentido o ataque do Rui Costa, para desgastar os adversários", referiu José Poeira.

A Rui Costa restou tentar um ataque, onde se agarrou à roda do britânico Thomas Pidcock, já com a meta muito próxima. O objectivo já não era mais do que tentar desgastar um pouco mais os ciclistas que impunham ritmo, principalmente uns italianos muito representados para preparar o sprint de Giacomo Nizzolo.

O sexteto eleito pelo seleccionador José Poeira (© Federação Portuguesa de Ciclismo)
A exibição da Equipa Portugal foi quase perfeita, que merecia de facto mais que ficar à mercê de um problema mecânico. Aliás, já no contra-relógio de segunda-feira, Rafael Reis se pode queixar que Plouay não foi um local feliz. Um problema nas mudanças tirou-lhe um muito provável top dez.

Se se pode argumentar que o pelotão dos Europeus não era o de maior nível - tem sido habitual, mas este ano sofreu ainda com o receio de algumas equipas "libertare" os seus atletas com o Tour à porta -, ainda assim, Itália, França, Países Baixos e Bélgica apresentaram blocos muito fortes, o que ajudou a animar a corrida.

Com seis atletas, Portugal mostrou que tinha qualidade para fazer frente às selecções mais fortes e com mais homens (oito). O selim tramou o plano final, mas a imagem que ficou da equipa foi muito, muito positva.

O vencedor

(© Ilario Biondi/BettiniPhoto©2020/UEC)
Com a corrida a decidir-se num prevísivel sprint, Giacomo Nizzolo continua a ser daquelas pessoas que vai ter boas razões para se recordar de 2020! Poucos dias depois de se sagrar campeão nacional, é o novo campeão europeu.

Sucedeu a outros dois italianos: Elia Viviani (2019) e Matteo Trentin (2018), com este último a ser desta feita um importante homem de trabalho. Em cinco Europeus - desde que foram abertos aos profissionais - Itália tem assim três vitórias, contra uma da Noruega (Alexander Kristoff, em 2017) e uma da Eslováquia (o inevitável Peter Sagan, em 2016).

(© Ilario Biondi/BettiniPhoto©2020/UEC)
Nizzolo - que antes do confinamento já tinha ganho uma etapa no Tour Down Under e outra no Paris-Nice, numa muito feliz mudança para a NTT - bateu outro sprinter num bom momento de forma: o francês Arnaud Démare. O ciclista da Groupama-FDJ - que também se sagrou há dias campeão nacional, mas pela terceira vez - não escondeu a desilusão de não ter ganho no seu país.

Curiosamente, os Europeus até eram para se ter disputado em Itália, com Trentino como destino, mas foram desmarcados devido à pandemia e tiveram mesmo em risco de não se realizarem

O alemão Pascal Ackermann fechou o pódio, com Mathieu van der Poel a escolher a trajectória errada, caso contrário o campeão nacional dos Países Baixos poderia ter surpreendido os chamados puros sprinters. Certo é que Van der Poel está a começar a subir de forma.


A equipa de elite de Portugal pode sair de Plouay orgulhosa do que fez, pois é um daqueles casos em que as classificações não dizem tudo sobre o excelente trabalho realizado:

14º Rui Oliveira, m.t.
29º Rui Costa, a 4 segundos
41º Ruben Guerreiro, a 11 segundos
60º Ivo Oliveira, a 3:27 minutos
80º Rafael Silva, a 8:26 minutos
87º Rafael Reis, m.t.

Esta quinta-feira será a vez dos sub-23 entrarem em acção, logo às 8 horas (mais uma em França). A Equipa Portugal estará representada por Afonso Silva, Guilherme Mota, Miguel Salgueiro e Pedro Miguel Lopes nos 136,6 quilómetros, ou seja, dez voltas ao circuito de Plouay.

Veja aqui a classificação completa, via ProCyclingStats.

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