Van Aert venceu na Milano-Sanremo, uma semana depois ganhar a Strade Bianche
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Dia importante para a Jumbo-Visma. Primeiro viu no primeiro grande teste do seu tridente frente à Ineos - no Tour de l'Ain -, Primoz Roglic e Steven Kruiswijk passar com distinção. Tom Dumoulin ainda tem trabalho pela frente até à Volta a França. Depois foi Wout van Aert. Como aqui se escreveu há uma semana, está a tornar-se num senhor no seu domínio. Depois da Strade Bianche, conquistou o seu primeiro monumento: Milano-Sanremo. Curiosamente está a "copiar" esta parte da época de Julian Alaphilippe, o ciclista que bateu ao sprint e que em 2019 havia precisamente conquistado estas duas corridas.
O que se viu este sábado foram duas exibições, duas vitórias, que por si só seriam importantes. No entanto, é impossível separá-las de uma semana difícil com a situação de Dylan Groenewegen. Além do ciclista estar sob fogo após ter provocado a muito grave queda de Fabio Jakobsen, a própria imagem da equipa fica sempre inevitavelmente afectada. A melhor resposta foi precisamente aquela dada este sábado. É preciso centrar novamente as atenções nas corridas e no poderio que esta equipa já demonstra, numa altura em que a Volta a França não está assim tão longe (começa a 29 de Agosto, em Nice).
Finalmente um monumento para ver
Com todo o respeito por Roglic, o dia pertence a Wout van Aert. Foi preciso esperar por Agosto para se ter um monumento na estrada. E para a semana há já outro: a Lombardia. A clássica da Primavera, normalmente em Março, foi disputada em pleno Verão e com direito a tudo o que esta época do ano traz: muito calor! É impossível não recordar como em 2013 foi um Milano-Sanremo disputada debaixo de chuva, vento e muito frio!
Em 2020 as circunstâncias são excepcionais, mas valeu a pena esperar. Foi uma corrida um pouco diferente do habitual. Já costuma ser longa, mas desta feita ultrapassou os 300 quilómetros. 305, mais concretamente. Sem surpresa, toda esta quilometragem serviu para desgastar os ciclistas até que se chegasse à tradicional Cipressa e depois ao Poggio, as duas subidas míticas da Milano-Sanremo.
Estas mantiveram-se, mas até lá o percurso foi diferente, pois algumas das habituais localidades não quiseram este ano receber a prova. Fugiu-se da costa, mais para o interior, o que levou ao tal aumento de quilometragem.
No entanto, foi dentro dos 50 quilómetros finais que o pelotão começou a acelerar, depois de um andamento mais controlado, numa clara gestão de esforço perante tantos quilómetros e tanto calor. Mas sem deixar a fuga afastar-se em demasia. Houve uma corrida digna de ser chamada de monumento, houve um final digno de uma corrida assim definida e um vencedor que provavelmente poderá dizer que este foi apenas o primeiro monumento de mais uns quantos.
Nunca é de mais de recordar que há pouco mais de ano Wout van Aert sofreu uma queda gravíssima no Tour, que ameaçou o sua carreira. Mas este belga, de 25 anos, está destinado a muito sucesso. Inteligente a ler as corridas, calmo nos momentos em que parece que as coisas não estão a correr bem (chegou a estar mal colocado no pelotão em zonas difíceis de recuperar posição e mais tarde ainda viu Alaphilippe afastar-se um pouco) e, principalmente, muito confiante nas suas capacidades e forma física. Três pormenores essenciais.
Depois da Cipressa ter mostrado que este não era dia para os sprinters puros, o Poggio foi o momento dos ataques decisivos. Vincenzo Nibali (Trek-Segafredo) tentou repetir a vitória de 2018, mas foi contra-atacado pelo vencedor de 2019. Julian Alaphilippe (Deceuninck-QuickStep) está de regresso à melhor forma. Tentou ser matreiro com Van Aert, como foi há um ano com Peter Sagan.
Quando os dois ficaram isolados e depois da descida ter terminado, "escondeu-se" atrás de Van Aert. Há que elogiar a postura de Van Aert. Não se incomodou. Ficou na frente, sempre de olho no adversário. Dois ciclistas de classe. Dois ciclistas de espectáculo. O belga partiu para o sprint e já se sabe que o faz bem. Alaphilippe também é forte quando o grupo é pequeno. Assim ganhou em 2019. Talvez tenha pago o esforço que fez para recuperar lugar no pelotão quando teve um problema com a bicicleta. Mas 2020 é o ano de Van Aert, que venceu com todo, todo o mérito.
🇧🇪@WoutvanAert of 🇳🇱@JumboVismaRoad wins 🇮🇹@Milano_Sanremo #MilanoSanremo (📺@VTM) pic.twitter.com/YLrxoJAPjD— World Cycling Stats (@wcsbike) August 8, 2020
É tempo de viajar para França e competir nas duas corridas que mais brilhou há um ano, antes da assustadora queda. No Critérium du Dauphiné e Volta a França ver-se-á provavelmente duas versões de Van Aert: esta de procurar vitórias - e atenção aos contra-relógios onde é fortíssimo - e a de homem de trabalho para os líderes voltistas que procuram fazer desde 2020 um ano para recordar para a Jumbo-Visma. Van Aert não tem problema em ficar em segundo plano, em nome do colectivo.
Classificação da Milano-Sanremo, via ProCyclingStats.
De referir Philippe Gilbert. Muito se olhava para o ciclista da Lotto Soudal. Seria desta que fecharia os cinco monumentos? Tentou, fechou top dez, mas terá de tentar de novo em 2021. Tem 38 anos, mas só planeia retirar-se no final de 2022. Difícil, sim... Mas ainda tem tempo!
E falando de líderes voltistas...
O Tour de l'Ain termina amanhã pelo que há que esperar para ver o que acontece. Porém, este sábado foi dada uma lição à Ineos, precisamente numa disciplina em que a equipa britânica domina. Ou se calhar, dominava... Sem medo e sem problema para desde já mostrar que está preparada para assumir uma Volta a França como a Ineos tantas vezes vez, esta Jumbo-Visma quebrou a rival.
Grande trabalho de George Bennett, que talvez nunca venha a ser o líder que chegou a mostrar que talvez pudesse ser, mas pode ser um daqueles gregários tão importante como um líder. Só Egan Bernal resistiu na Ineos, mas o colombiano não consegue sprintar como Primoz Roglic em inclinações menores, como foi a da meta em Lélex Monts-Jura. São dez segundos que separam ambos, num Tour de l'Ain que está a ser uma bela montra para o que nos poderá esperar na Volta a França.
Do tridente da Ineos, Geraint Thomas perdeu quase cinco minutos. Chris Froome, mais de 12!
Uma palavra para João Almeida. Mais um top dez e uma merecida liderança da juventude. Tem 1:04 minutos de vantagem sobre Ilan van Wilder, da Sunweb. O português da Deceuninck-QuickStep está a uma etapa da sua primeira grande conquista na época de estreia no World Tour.
Classificações do Tour de l'Ain, via ProCyclingStats.
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