25 de junho de 2020

Pelotão à espera de uma Volta a Portugal adiada e sem previsão de nova data

© João Fonseca Photographer
Primeiro foi Viana do Castelo, seguiu-se o autarca de Guarda a avisar que estava a avaliar se iria ou não receber a Volta a Portugal e depois foi de Viseu que veio a mensagem que Volta sim, mas em 2020 não. Quase que parecia inevitável que a corrida sofresse um adiamento. Ou será cancelamento?

De pouco valeu as garantias deixadas por Delmino Pereira numa entrevista à RTP, que era possível organizar uma Volta a Portugal com toda a segurança em tempo de pandemia. O presidente da Federação Portuguesa de Ciclismo (FPC) reiterou que a Direcção-Geral de Saúde tinha aprovado o plano sanitário apresentado e salientou: "O grande problema não está nas normas. O grande problema está na nossa sociedade que está permanentemente a ser incumpridora das normas que a DGS definiu."

No entanto, a Podium, entidade responsável pela organização da Volta a Portugal, anunciou esta quinta-feira que não se irá avançar com a corrida nas datas previstas, entre 29 de Julho e 9 de Agosto. Uma decisão feita com a FPC.

"Com a evolução da pandemia, nos termos propostos na revisão do plano sanitário e tendo em conta as manifestações públicas e particulares de não autorização da passagem e permanência da Volta a Portugal em Bicicleta por diversos municípios integrantes do percurso da prova, as duas entidades [Podium e FPC] concluíram que não se encontram reunidas, por ora, as condições necessárias para a realização da 82ª Volta a Portugal Santander no mês de Agosto", lê-se no comunicado.

As equipas portuguesas tinham respirado de alívio quando a Direcção-Geral da Saúde tinham aceitado o plano sanitário da FPC para a realização da Volta, mas agora a incerteza paira novamente. Se a posição dos municípios se mantiver, poderá ser difícil a Volta ir para a estrada em 2020.

"A Volta é um incontornável evento nacional e motor desta grande modalidade desportiva que é o ciclismo, por essa razão a Podium e a FPC estão neste momento a equacionar outros cenários e a procurar activamente encontrar com os seus parceiros uma data alternativa para a realização do evento, ainda em 2020. Tencionamos dar nota dos resultados destas negociações a breve trecho", afirma a entidade.

Futuro das equipas

A viver muitas vezes no limite da sobrevivência financeira, as equipas portuguesas esperaram ansiosamente que a DGS desse luz verde ao regresso do ciclismo à estrada. Quanto tal finamente aconteceu, houve um suspiro de alívio, pois é na Volta a Portugal que as formações nacionais apostam quase toda uma temporada em termos de dar retorno à aposta que os patrocinadores fazem nelas.

Apesar de ser a Volta ao Algarve a corrida com categoria mais alta no país, é a Volta a Portugal aquela que continua a ser o ganha-pão das equipas lusas. A Algarvia tem um pelotão com algumas das melhores formações mundiais, o que significa que em termos mediáticos é na Volta a Portugal que as equipas nacionais recebem toda a atenção e mais lutam por vitórias.

Televisão, jornais (muitas vezes com mais do que uma página), rádios e claro nos sites, é na Volta que as equipas vêem o seu nome espelhado com destaque. Há algum tempo que a Volta a Portugal se tem centrado nas equipas de cá, sendo menos habitual ver uma equipa estrangeira que venha com intenções de discutir a geral. Ficam-se muitas vezes por ganhar alguma etapa. É preciso recuar a 2006 para ver uma formação não portuguesa vencer a geral: a Comunidad Valenciana, então com David Blanco.

Se a Volta não for para a estrada em 2020, algumas equipas nacionais poderão não sobreviver até 2021. Actualmente há nove no escalão Continental e poucas podem dizer que estão financeiramente estáveis, numa altura em que a crise económica vai ganhando forma e as empresas também se debatem por manter os seus negócios.

O restante calendário

Sem Volta falta igualmente saber como será o resto do calendário. O que estava a ser preparado tinha como intenção ajudar as equipas a ganhar forma competitiva a pensar, claro está, na Volta a Portugal. A primeira corrida está agendada para 5 de Julho, um contra-relógio individual em Anadia, seguindo duas provas de um dia em Oliveira de Azeméis, que incluí o Memorial Bruno Neves, além do Troféu Joaquim Agostinho. Este tem a região de Torres Vedras como palco.

Não seria surpresa que mesmo com a Volta a Portugal a realizar-se em 2020, os efeitos da pandemia na economia seriam sentidos no ciclismo. Se a Volta não for para frente, adivinham-se tempos muito complicados na modalidade no país.

Há que não esquecer também os restantes escalões. Os sub-23 por exemplo, já sofrem por falta de corridas próprias para a categoria, fazendo grande parte da temporada com as de elite. A Volta a Portugal está vedada às chamadas equipas de clube, mas sem previsões de mais provas ou mesmo da sua própria Volta, as dificuldades tendem a aumentar.

Estamos em ano de eleições na Federação Portuguesa de Ciclismo. Delmino Pereira (presidente há dois mandatos) sabe que tem Rui Sousa como adversário. E uma coisa é certa, um dos maiores desafios para manter vivo o ciclismo nacional está pela frente.

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