17 de junho de 2020

Parabéns Canibal!

© Chris Protopapas/Wikimedia Commons
Afinal quem é o melhor? Eis algo que pode gerar algumas discussões seja em que modalidade se esteja a falar. Contudo, parece que quando se questiona quem é o melhor de sempre no ciclismo - ou pelo menos um dos melhores -, muitos responderão com relativa rapidez Eddy Merckx. Às vezes os números de uma carreira não sempre demonstram a qualidade de um ciclista. Mas não é o caso de Merckx! Numa era bem diferente da actual, não foi por acaso que ganhou a alcunha de Canibal. O que havia para ganhar, ganhou. Em diversas corridas, por mais do que uma vez. Merckx está de parabéns! Faz 75 anos. Ou como prefere dizer, três vezes 25!

Teve adversários de nível. Não foi invencível, mas Merckx sempre apresentou uma postura de imbatível e escreveu a sua história como um dos ciclistas que parecia encontrar sempre o caminho da vitória. Na Bélgica, de quando em vez, lá surge um jovem talento que é apelidado de "novo Merckx". Improvável, é certo, mas não deixa de ser um enorme elogio. Se há algo que também ninguém duvida é que Merckx foi único.

Para quem não viu o belga correr, ficam os números. E esses impressionam. Foram quase 300 vitórias numa carreira de cerca de 14 anos, entre a década de 60 e 70. Como destacar tudo?... Vamos aos recordes. 34 etapas na Volta a França (Mark Cavendish bem sonha em lá chegar - tem 30), 64 se se somar as do Giro e Vuelta. Quem ficou mais próximo foi Mario Cipollini com 57 e foi um ciclista totalmente diferente de Merckx, obtendo as suas inúmeras vitórias ao sprint.

Merckx subiu ao primeiro lugar do pódio final nas grandes voltas 11 vezes. O francês Bernard Hinault fê-lo por 10. Venceu o Tour em cinco ocasiões, marca que partilha com Hinault, Jacques Anquetil e Miguel Indurain. No Giro foram mais cinco conquistas, igualando Fausto Coppi e Alfredo Binda.

A Vuelta foi ganha apenas por uma vez. E monumentos? Na Milano-Sanremo foram sete vitórias e sim, é recordista! Liège-Bastogne-Liège ganhou cinco vezes. E é recordista! Três Paris-Roubaix, duas Voltas a Flandres e outras tantas Lombardias (não é recordista). Foi campeão do mundo em três ocasiões, o máximo que alguém conseguiu, partilhando esta marca com Rik van Steenbergen, Óscar Freire, Alfredo Binda e Peter Sagan. Foi também recordista da hora e a lista de feitos continua, continua, continua.

Também teve os seus momentos negros. Testou positivo por doping em três ocasiões. Mas eram de facto outros tempos, com sanções bem diferentes das actuais.

Quando hoje se fala de um todo-o-terreno, ninguém tem as características comparáveis a um Merckx que venceu a subir, em plano, em alcatrão, em pavé... Hoje parece impensável ver alguém que lute por um Tour, estar num Paris-Roubaix com a mesma ambição. Outros tempos, outra forma de preparar os ciclistas, cada vez mais especializados.

Merckx foi de um tempo de ciclismo mais instintivo, sem tecnologias e em que os corredores passavam muito mais tempo em corridas. O próprio refere isso mesmo numa entrevista ao Sporza, quando num ano competiu 195. Afinal os patrocinadores assim o exigiam. Hoje em dia, os mais activos pouco passam os cem dias em competição.

Aos 75 anos, a sua palavra continua a ter peso. Não se inibe de criticar ou de lançar umas provocações, como aconteceu recentemente sobre Remco Evenepoel (o mais recente "novo Merckx"), mas também deixa o seu elogio e Tadej Pogacar pode dizer que tem o respeito deste senhor do ciclismo.

E houve um português que Merckx respeitou e muito: Joaquim Agostinho. Uma vez disse: "Quando pressinto que ele vai fugir, ataco eu, para ficar tranquilo."

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