13 de junho de 2016

Esta sensação que falta algo na Volta a Portugal

O slogan diz que é "a mais dura e longa dos últimos". Se a distância pode ser comprovada pelos números, já a dureza fica aberta à opinião de cada um. A quarta, quinta e sexta etapa poderão ser decisivas, mas se a tradição na Senhora da Graça se mantém, passar duas vezes pela Torre sem cortar lá a meta, dá a sensação que falta algo à Volta a Portugal (de 27 de Julho a 7 de Agosto).

Não é inédito não haver uma chegada em alto na Serra da Estrela, mas tirar a Torre da Volta a Portugal é como tirar o Alpe d'Huez à Volta a França, na sua devida proporção de importância no ciclismo, claro: acontece, mas a exclusão nunca é pacífica. No caso da Torre a situação é ainda mais grave. Se em França são várias as subidas míticas, Portugal tem basicamente duas (há que admitir que cada vez mais o Alto do Malhão ganha o seu lugar como a terceira, com a ajuda de uma internacional Volta ao Algarve).

A verdade é que a Torre tem um grande simbolismo numa prova que continua a entusiasmar os portugueses. Já não atrai a atenção de outrora de equipas estrangeiras, mas cá dentro, as formações nacionais estão um ano a preparar aqueles dez dias de competição. Aqueles dez dias em que a atenção finalmente se centra nelas. Os adeptos, uns mais apaixonados pela modalidade, outros pela convivência que só ciclismo proporcionam, aguardam pelas grandes etapas. Será possível ver o pelotão passar duas vezes na Torre, o que é sempre agradável... mas faltará a celebração de um vencedor.

Serão ainda cerca de 70 quilómetros que separam a última passagem na Serra da Estrela da meta, uma distância que poderá permitir recuperações, podendo assim tirar alguma daquela pressão de uma etapa que normalmente assume carácter de decisiva.



Mas não sejamos fatalistas, a Volta terá o seu espectáculo e na segunda etapa a introdução de um troço de 2,2 quilómetros em terra batida, em Fafe, famoso no Rali de Portugal, é algo de entusiasmante. Provavelmente mais para quem assiste do que para quem terá de o enfrentar. Está colocado a apenas 18 quilómetros da meta, o que significa que algum problema (furo, problema mecânico, queda, por exemplo) poderá custar tempo precioso.

Tirando a questão da Torre, o percurso da Volta até se apresenta como muito interessante e há que dar as boas-vindas à Nazaré e Arruda dos Vinhos, que se estreiam nestas andanças, e, principalmente há que destacar que a Volta a Portugal volta a incluir o sul, com uma partida em Alcácer do Sal. Já começava a parecer demasiado estranho uma Volta que tinha os municípios do norte e centro do país como constantes escolhas. Mas ainda não é desta que regressará ao Algarve, algo que as equipas do Tavira e Louletano certamente gostariam.

Uma escolha que foi bastante correcta foi o contra-relógio a terminar. Em voltas curtas, etapas de consagração parecem um desperdício de dia. Se é para lutar, é para lutar até o fim. Os 32 quilómetros entre Vila Franca de Xira e Lisboa assumem uma importância extrema e será emoção até ao último metro. Ou pelo menos assim se espera.




Afinal quem é mais beneficiado?

Desde o anúncio que a Torre não receberia o final em alto que surgiram as críticas, principalmente dos candidatos portugueses. Joni Brandão apresenta-se como o principal pretendente luso, mas não ficou satisfeito com percurso. Para o ciclista da Efapel, sem a chegada à Torre e com o contra-relógio final, quem irá beneficiar serão os espanhóis Gustavo Veloso (W52-FC Porto) - vencedor das duas últimas edições -  e Alejandro Marque (LA Alumínios-Antarte). Mas os espanhóis refutam essa ideia.

Com apenas a chegada em alto na Senhora da Graça, os trepadores puros podem ser um pouco prejudicados, principalmente se tiverem dificuldades em defender-se no contra-relógio. É o caso de Joni Brandão. Tem revelado estar cada vez mais em forma rumo à Volta a Portugal, mas o português assume que o contra-relógio é algo que tem de ser trabalhado. Se conseguir melhorar, então boas prestações nas etapas mais difíceis poderão valer-lhe a conquista do tempo necessário para se defender no esforço individual da última etapa. Já Veloso e Marque poderão enfrentar a corrida com tácticas diferentes. São excelentes trepadores e não têm problemas no contra-relógio. Joni Brandão terá de atacar nas subidas, os espanhóis podem jogar mais friamente e estar mais à defesa.

Veloso e Marque estarão mais satisfeitos com o percurso, mas não são vencedores antecipados. A mudança da Torre implicará tácticas diferentes, no entanto, haverão hipóteses de se ganhar tempo para aqueles que têm mais problemas com o contra-relógio.

Porém, no jogo das palavras, Joni Brandão sai na frente. Colocou desde já a pressão do lado dos adversários, tentando dar a si próprio um papel um pouco mais secundário. Ainda assim, não engana ninguém e é nele que recai a maior esperança de voltar a ter um português a vencer a Volta, depois de Ricardo Mestre o ter feito em 2011.

Mais candidatos

A Volta a Portugal não será feita apenas de três ciclistas. São os principais candidatos, mas atenção a Rinaldo Nocentini. Aos 38 anos o italiano pode estar a preparar o final da carreira, mas o segundo lugar na Volta ao Azerbaijão comprova que Nocentini ainda quer fazer algo pelo Sporting-Tavira que aposta muito no experiente ciclista.

Quanto a portugueses, aos 25 anos Amaro Antunes (LA Alumínios-Antarte) deverá mostrar-se, mas as expectativas são muito altas para Rafael Reis. Aos 23 anos, a mudança para a W52-FC Porto está a ser muito positiva. Esta cada vez mais forte no contra-relógio e já lhe são reconhecidas as capacidades de trepador. Poderá estar tapado por ter Gustavo Veloso como líder, mas é ainda assim um outsider a ter em conta e está a realizar uma temporada espectacular.

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