29 de junho de 2016

Uma daquelas histórias do ciclismo (na primeira pessoa)

Um passeio que poderia ter sido como tantos outros, talvez um pouco mais penoso dado o mais de um mês sem pegar na bicicleta, mas que de repente se transformou num daqueles que nos recorda que o ciclismo é muito mais do que um simples desporto, é um mundo de histórias, de vivências que nunca nos deixam de surpreender e cativar.

Quando pela segunda vez um grupo de três ciclistas me ultrapassou, voltaram a cumprimentar-me. Mas desta vez um deles deixou-se ficar ao meu lado. Pensou que me tinha visto um dia a ser chamada à atenção pela polícia por ter passado um sinal vermelho. Não tinha sido eu, mas foi o mote para o início de uma conversa sobre o respeito (ou falta dele) pelas regras de trânsito por parte de quem utiliza a bicicleta na estrada. Uma conversa enquanto se pedalava. Eis que o senhor se apresenta ao fim de alguns minutos: "Chamo-me Vítor Correia, tenho 70 anos e corri ao lado do Joaquim Agostinho." Soaram os alarmes na minha cabeça. "Aqui está alguém que terá muito para contar", pensei. E pensei bem!

Vítor Correia recordou o primeiro dia em que Agostinho se apresentou no Sporting e como depois do treino ficou à porte do restaurante, pois o único dinheiro que tinha era para pagar o autocarro. "O Sporting paga e se não pagar, pago eu", disse-lhe Vítor Correia. Agostinho teve direito a uma refeição e principalmente nunca esqueceu o gesto do novo colega. "Esta história saiu num jornal sabe?". Não sabia, mas certamente que não a vou esquecer.

A conversa ainda continuou mais um pouco, sobre algumas aventuras nestes passeios matinais, mas a minha falta de ritmo não me permitiu continuar a acompanhar o senhor Vítor Correia que tanta história parece ter para contar. Um dos membros do trio contou-me que infelizmente Vítor Correia acabou por se chatear com quem mandava e não teve a carreira que talvez merecesse, isto numa altura que em que o víamos arrancar por entre os carros. 70 anos? Ninguém tentou acompanhá-lo. "A idade engana", desabou o companheiro de pedaladas, enquanto Vítor Correia desaparecia na estrada a um ritmo de fazer inveja a muita gente.

Foram alguns minutos de convivência que recordam como esta modalidade tem tanto para contar... e que não tem idade para a praticar.

Ao Vítor Correia resta-me desejar muitas e longas pedaladas, esperando voltar a encontrá-lo na estrada. Além das histórias, muito melhorei no ritmo sem ter dado conta... Dei umas horas depois, pagando com uma valente dor de pernas! Mas valeu a pena!

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