19 de outubro de 2020

Uma Vuelta de despedida para Froome e com muitos portugueses

© Luiz Angel Gomez/PhotoGomezSport/La Vuelta
Isto de haver grandes voltas a realizarem-se ao mesmo tempo é tão estranho, que quase dá para esquecer que esta terça-feira a Volta a Espanha vai mesmo para a estrada. É uma versão mais curta - 18 etapas em vez de 21 -, pois a Vuelta acabou por ser a mais prejudicada das provas de três semanas no calendário possível em tempo de pandemia. E não haverá a passagem prevista por Portugal.

A dúvida persistia se, perante o crescimento de casos de covid-19 no país, a corrida iria para a estrada. Vai, com medidas apertadas, subidas sem público e, tal como no Tour e no Giro, sempre com a ameaça de um cancelamento abrupto. É neste ambiente que Chris Froome fará o adeus à Ineos Grenadiers, a eterna Sky, numa Vuelta para trepadores. O britânico não surge como favorito e até dá a Richard Carapaz a liderança da equipa. Será bluff?

Desde 2018 que Froome não faz uma grande volta. Aquela queda no Critérium do Dauphiné afastou-o da competição em 2019 e em 2020 a sua falta de forma afastou-o do Tour. O sonho da quinta vitória foi adiado e na Vuelta poucos acreditam que o ciclista será o bom velho Froome. No entanto, há curiosidade sobre o estado do ciclista. Agora que poderá mostrar que não está acabado, poderá mostrar que a Israel Start-Up Nation pode ficar descansada, que contratou um corredor para 2021 ainda capaz de lutar por grandes vitórias.

É Froome, não desiste, mas Richard Carapaz quer assumir-se de uma vez por todas como figura na Ineos Grenadiers. Andou a ser "puxado" e "empurrado" para as grandes voltas que não era suposto fazer. Primeira versão: líder no Giro. Após o confinamento: ajudar Egan Bernal no Tour, podendo ser um plano B. Quase tudo correu mal à equipa na corrida. Acréscimo ao calendário: vai à Vuelta. Ganhar seria essencial para em 2021 ter mais voz dentro da equipa.

Vuelta para salvar época

Se há algo que não muda na Volta a Espanha, é ser uma grande volta em que alguns ciclistas tentam salvar a temporada, depois de falharem no Giro ou no Tour. O destaque tem de ir para Thibaut Pinot. O líder da Groupama-FDJ caiu no primeiro dia da Volta a França e falhou por completo quando chegaram as etapas de montanha. Em 2019 venceu na Vuelta, na passagem pelo seu país: Tourmalet. Pinot tem de se mostrar.

Também a Jumbo-Visma quer algo mais nesta Vuelta. Primoz Roglic (vencedor de 2019) e Tom Dumoulin estão novamente juntos, mas, desta feita, o holandês poderá ter um papel mais livre. Depois da desilusão no Tour de Roglic, com a vitória escapar no derradeiro contra-relógio para Tadej Pogacar (UAE Team Emirates - não vai à Vuelta), com a saída da equipa do Giro depois de Steven Kruijswijk ter testado positivo à covid-19, é o tudo ou nada para terminar 2020 com uma grande volta.

Há ainda a Movistar. Alejandro Valverde tem o dorsal um da equipa espanhola, mas Marc Soler não poderá ser colocado de lado, tal como Enric Mas. Está a ser uma temporada fraca, com a histórica estrutura a ser a penúltima do ranking, entre as formações do World Tour. E logo no ano em que celebra 40 de existência.

Para os trepadores

Nos últimos anos, a Vuelta tem feito percursos que não agradam aos sprinters. Os trepadores são novamente aqueles que mais podem mostrar-se e haverá assim momentos para poder ver alguns ciclistas que estão a suscitar interesse. 

O russo Aleksandr Vlasov (24 anos) abandonou muito cedo o Giro e surge na Vuelta com a possibilidade de ter mais liberdade dentro da Astana. Michel Ries (22) é um daqueles ciclistas da nova geração que traz bons resultados da sua formação e irá estrear-se numa grande volta com a Trek-Segafredo. Num ano em que os jovens tanto dominam as manchetes, a ver vamos se Ries consegue mostrar-se também logo à primeira.

Entre nomes mais conhecidos, temos: Esteban Chaves (Mitchelton-Scott), Wout Poels (Bahrain-McLaren) - será o líder  da equipa - Daniel Martin (Israel Start-Up Nation), Daniel Martínez e Michael Woods (EF Pro Cycling), Will Barta (CCC) e Guillaume Martin (Cofidis). O francês prometeu na primeira semana do Tour, mas foi caindo na classificação. É um ciclista a não perder de vista.

Mas também haverá sprinters: Sam Bennett (Deceuninck-QuickStep), Pascal Ackermann (Bora-Hansgrohe) e Jasper Philipsen (UAE Team Emirates), por exemplo.

A armada portuguesa

Enquanto se vai sofrer e muito a ver a última semana do Giro, com João Almeida (Deceuninck-QuickStep) a lutar para manter a camisola rosa e com Ruben Guerreiro (EF Pro Cycling) a querer ganhar a classificação da montanha, na Vuelta não faltarão portugueses.

Rui Costa, Ivo e Rui Oliveira (UAE Team Emirates), Nelson Oliveira (Movistar) e Ricardo Vilela (Burgos-BH) vão variar entre procurar ganhar etapas (primeiro e último dos nomes que se referiu) e trabalhar para os líderes.

De salientar que será a estreia dos gémeos Oliveira numa grande volta, com Rui a ter feito o seu primeiro monumento no domingo, na Volta a Flandres.

Teremos de dividir a atenção entre duas grandes voltas. Não é a mesma coisa, mas espera-se que seja a mesma emoção. A do Giro está em alta, muito por causa de Almeida. Mas a expectativa é que a Vuelta seja mais uma vez uma corrida de grande espectáculo, mesmo sem público. Espera-se também que o pelotão parta esta terça-feira de Irun, no Pais Basco, e possa chegar a Madrid, a 8 de Novembro.

Pode ver a lista de inscritos completa neste link, via ProCyclingStats.

1ª etapa: Irun - Arrate. Eibar, 173 quilómetros

Só para não se ter dúvidas que é uma Vuelta para trepadores, começa-se logo com uma etapa de média montanha. As subidas não são as mais difíceis do percurso da Vuelta, mas o Alto de Arrate é já uma primeira categoria e pode determinar as primeiras diferenças.

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