10 de outubro de 2020

Calma que este domingo vai doer

© Tim de Waele/Getty Images/DeceuninckQuickStep
Depois do dia mais rápido numa etapa da história da Volta a Itália (média de 51.234 quilómetros/hora), o pelotão resolveu baixar o ritmo e preparar-se para o domingo complicado que o espera. Nem entre os que estão na luta pela geral, nem uma Bora-Hansgrohe a pensar em Peter Sagan, ninguém quis "puxar" e foi uma tirada para a fuga triunfar com quase 14 minutos de vantagem. O pensamento foi recuperar e preparar a nona etapa, de alta montanha. João Almeida terá um teste de fogo à sua liderança.

Para o ciclista português foi um dia de "descanso" bem-vindo (Giovinazzo - Vieste, 200 quilómetros) depois de uma semana a ritmo elevado, com Almeida a apresentar-se sempre muito bem na defesa da sua camisola rosa, a aumentar a distância nas bonificações e a sobreviver ao susto de uma queda. Este domingo, o português sabe bem o que o espera e não terá uma etapa fácil se for tão atacada como o próprio está a prever.

"Hoje foi um dia calmo, durante o qual pudemos descansar as pernas para amanhã e ninguém quis perseguir os fugitivos. Os últimos sete dias foram bastante duros e stressantes, por isso, as equipas quiseram ter uma etapa mais fácil, a pensar no domingo, que será um dia muito difícil, com muitas subidas", referiu João Almeida. O ciclista da Deceuninck-QuickStep realçou que "será uma etapa importante para a classificação geral" e salientou: "Não tenho dúvidas que os ciclistas vão estar na ofensiva para ganhar tempo, enquanto eu vou tentar defender a camisola rosa."

Almeida reiterou como juntamente com a equipa foi feito um trabalho duro para manter a liderança, prometendo que na nona etapa vai dar o seu melhor para continuar vestido com a maglia rosa. Não será fácil, até porque além dos ataques esperados, falta saber como irá o ciclista reagir ao desgaste da primeira semana na posição de líder e como irá a equipa ajudá-lo, visto não ser uma formação dotada para a alta montanha.

Porém, do lado do português está a boa forma que está a apresentar, a confiança que foi aumentando de dia para dia e o facto de estar a competir sem a pressão de ter de manter a camisola. Aconteça o que acontecer, o que João Almeida já fez deixa todos na formação belga satisfeitos. Mas que ninguém pense que o português não vai dar luta. A vantagem que detém, com muitos dos principais nomes a estarem a mais de um minuto de distância, faz Almeida sonhar que pode e que tem boas possibilidades de prolongar a sua aventura de rosa.

O corredor de 22 anos já conquistou o respeito das principais figuras. A liderança de Almeida não está a ser vista como um simples acaso. A sua qualidade no contra-relógio e como se está a apresentar nas subidas, obriga a quem quer tirar-lhe a camisola a começar a mexer-se.

E recordando como está a geral, espera-se que uma Bahrain-McLaren, Sunweb e Trek-Segafredo possam ser as equipas que mais interessadas estarão em tornar domingo um dia complicado para João Almeida:

  • Pello Bilbao (Bahrain-McLaren), a 43 segundos
  • Wilco Kelderman (Sunweb), a 48
  • Harm Vanhoucke (Lotto Soudal), a 59
  • Vincenzo Nibali (Trek-Segafredo), a 1:01 minutos
  • Domenico Pozzovivo (NTT), a 1:05
  • Jakob Fuglsang (Astana), 1:19
  • Steven Kruijswijk (Jumbo-Visma), a 1:21
  • Patrick Konrad (Bora-Hansgrohe), a 1:26
  • Rafal Majka (Bora-Hansgrohe), a 1:32
A Jumbo-Visma e a Astana também estarão atentas, ainda que no caso da equipa cazaque, sem Miguel Ángel López e Aleksandr Vlasov (já abandonaram) as escolhas são limitadas para ajudar Fuglsang. Já a Mitchelton-Scott perdeu o seu líder, com Simon Yates a sair do Giro depois de testar positivo de covid-19. Apresentou sintomas ligeiros, segundo a equipa, e o teste confirmou o diagnóstico. A corrida já não lhe estava a correr bem e não terá a oportunidade de tentar recuperar tempo na montanha. Yates e Geraint Thomas (Ineos Grenadiers), duas potenciais figuras do Giro, já estão de fora.

© Giro d'Italia
Triunfo da fuga

O dia pertenceu aos fugitivos, com Alex Dowsett a dar a primeira vitória ao mais alto nível à Israel Start-Up Nation. A estrutura ainda não tinha uma vitória numa grande volta, nem sequer numa corrida World Tour. O momento surgiu na primeira época em que está no principal escalão e num Giro em que esteve há dois anos pela primeira vez.

A Israel Start-Up Nation apostou forte nesta etapa, pois além de colocar Dowsett na frente, o britânico foi acompanhado por Matthias Brändle. A dupla funcionou bem e Dowsett acabou por afastar-se de Salvatore Puccio (Ineos Grenadiers), Matthew Holmes (Lotto Soudal) e Joey Rosskopf (CCC). A demora na reacção custou caro.

Dowsett fez 17 quilómetros de um autêntico contra-relógio, a sua especialidade. Em 2013 já havia vencido uma etapa no Giro, mas a carreira do britânico não foi a esperada. Há muito que anda afastado das boas exibições, conquistando alguns triunfos em corridas secundárias e títulos nacionais de contra-relógio. Mas prometeu mais no início da carreira. Aos 32 anos, emocionou-se com nova vitória no Giro. Quem sabe, agora ganhe nova motivação para fazer algo que há muito promete, mas ainda não concretizou: tentar ser novamente o recordista da hora.

Classificações completas, via ProCyclingStats.

9ª etapa: San Ralvo - Roccaraso, 208 quilómetros

A Volta a Itália deixa a zona costeira e começa a ter um percurso mais interior. A nona etapa leva o pelotão aos Montes Apeninos. Só neste domingo os ciclistas vão ter pela frente quatro mil metros de acumulado! Duas primeiras categorias e duas segundas pelo meio. Não haverá descanso, apesar da primeira fase da etapa ser mais plana. A última subida será de cerca de dez quilómetros, com uma média de 5,7%. O derradeiro quilómetro chegará aos 12%. Segunda-feira é dia de descanso.

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