16 de outubro de 2020

A evolução do Pantera que mantém o sonho rosa vivo

© Stuart Franklin/Getty Images/Deceuninck-QuickStep
João Almeida tem-se apresentado ao mundo do ciclismo e de que maneira. Até se pode dizer que se tem apresentado a Portugal. Felizmente, os seus feitos estão a ser acompanhados de perto pelos principais meios de comunicação social com uma atenção que nem a Volta a Portugal recebe. Dos canais de televisão, aos jornais, sem esquecer as rádios (mesmo as que não fazem das notícias a sua principal aposta), Almeida tornou-se tema de conversa, reportagens e de muita especulação. Por esta altura, quando a segunda semana do Giro aproxima-se do fim, cada vez mais se ouve e lê a pergunta: será que pode mesmo ganhar a Volta a Itália?

O mais difícil ainda está para vir, a começar com o contra-relógio desde sábado. O próprio João Almeida é o primeiro admitir. A terceira semana terá três etapas de altíssima montanha que vão incluir: Madonna di Campiglio, Laghi di Cancano no mítico Stelvio, Colle dell Agnello, Col d'Izoard e Sestriere. Pelo meio há mais um contra-relógio. E nunca o português fez uma prova de três semanas. Aos 22 anos até está a ser a sua estreia no World Tour. É terreno desconhecido para Almeida.

Por agora vive-se o sonho rosa, mas há mais do que isso a acontecer no Giro. Tem sido um curso intensivo para João Almeida. Apesar do lugar de responsabilidade, este é um ciclista ainda em evolução. A Deceuninck-QuickStep já o seguia há algum tempo antes de o contratar. Até fez estágios com a equipa belga, apesar de continuar a representar a americana Hagens Berman Axeon. 2020 seria um salto para uma nova fase de aprendizagem.

E lá isso está ser, ainda que não a esperada. Afinal o líder para o Giro era Evenepoel. A oportunidade Almeida deveria chegar um pouco mais adiante na sua carreira. Mas como aqui já foi dito várias vezes: este ciclista não gosta de desperdiçar quando surge um momento para se mostrar.

Alguns pormenores das suas características como ciclista e pessoa já eram conhecidos. A sua personalidade calma - não entra em pânico quando perde contacto com a frente da corrida é um bom exemplo -, a sua forma de pedalar a ritmo nas subidas, preferindo evitar responder a grandes acelerações de adversários, a sua capacidade de posicionamento no pelotão (algo que no início da temporada até disse que tinha de melhorar) e a sua capacidade de trabalho para um líder. Remco Evenepoel bem beneficiou desta qualidade do português. Há ainda o seu potencial no contra-relógio. Foi campeão nacional de sub-23 em 2019.

O que se assistiu neste Giro foi a toda uma nova realidade que João Almeida tão bem se adaptou, demonstrado mais daquilo que é como ciclista. A começar a sua capacidade de liderança. Para já muito na forma como respeita e agradece aos seus colegas e de como assume a responsabilidade na corrida quando chega o momento de o fazer. Esta sexta-feira foi mais um exemplo disso. A continuar este caminho, com esta evolução tão positiva, não demorará muito a ter uma voz de comando na equipa.

© Stuart Franklin/Getty Images/Deceuninck-QuickStep
Outra característica que Almeida demonstrou é, apesar de ser um ciclista que gosta de manter o seu ritmo, é capaz de acelerações e principal consegue fazê-lo no final das etapas. É assim que tem ganhou segundos de bonificação. Na 13ª etapa, que terminou em Monselice (192 quilómetros), fez um autêntico sprint, com direito a preparação da equipa especialista nesta área.

Os principais sprinters estavam fora da discussão, pelo que foi a oportunidade perfeita para Almeida até tentar ganhar a etapa. Diego Ulissi (UAE Team Emirates) estragou esse plano, mas o segundo lugar dá mais seis segundos a Almeida, são 14 no total só em bonificações e Wilco Kelderman (Sunweb), o segundo classificado, está agora a 40 segundos.

De dia para dia, cresce a confiança e Almeida vai crescendo também como ciclista, num autêntico curso intensivo que a Deceuninck-QuickStep tenta controlar, libertando o jovem corredor de pressão - dentro do possível - e valorizando as suas prestações. Como? Garantindo que os seus colegas fazem tudo por ele. Até Fausto Masnada! O italiano está desejoso de conseguir algo mais para si além do top dez, mas nesta sexta-feira não teve outra solução que não garantir que Tao Geoghegan Hart (Ineos Grenadiers) não lançasse um ataque potencialmente perigoso.

Classificações completas, via ProCyclingStats. De referir que Ruben Guerreiro (EF Pro Cycling) aumentou ligeiramente a sua vantagem na classificação da montanha: de oito para 11 pontos, com Giovanni Visconti (Vini Zabù-KTM) a continuar a ser quem está mais próximo.

14ª etapa: Conegliano - Valdobbiadene (CRI), 34,1 quilómetros

Neste contra-relógio, João Almeida vai tentar comprovar o que mostrou no primeiro dia. Então foi segundo, atrás de Filippo Ganna (Ineos Grenadiers), o campeão do mundo da especialidade. Almeida tem vindo a melhorar no esforço individual e esse crescimento foi notório quando assinou pela Hagens Berman Axeon, em 2018. No ano passado foi a Melgaço garantir o título nacional de sub-23, como já se referiu.

Este contra-relógio tem um pouco mais do dobro dos quilómetros do que abriu o Giro e o percurso também é bastante diferente. O primeiro começou com uma pequena subida e depois uma descida antes de se tornar plano.

Este sábado começa assim, plano, mas os sete quilómetros até ao topo do Muro di Ca’ del Poggio, com a pendente a chegar aos 19%, não serão fáceis. Seguir-se-á um traçado com alguns altos e baixos, algo técnico e que termina com uma subida a 5,5%.

Almeida parte às 14:52 (hora de Portugal Continental) e Ruben Guerreiro às 13:57.

Começa agora um novo Giro. A fase decisiva, pois domingo haverá montanha. A mãe de Almeida tratou-o por Pantera. Inevitavelmente já o chamam de Pantera Cor-de-Rosa.

Resta dizer: força Pantera! Mantém esse sonho rosa vivo.

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