31 de outubro de 2020

O protesto, a estreia a vencer, o empate na frente e a expectativa para o Angliru

© Unipublic/Charly López/La Vuelta
Tudo na mesma entre Primoz Roglic e Richard Carapaz depois da primeira de duas etapas que podem ser decisivas. Continuam empatados depois de um dia que desiludiu na luta pela geral, não só porque talvez se esteja a pensar no Angliru, mas também por algum mal-estar que se instalou no pelotão devido a uma decisão dos comissários, que acabou por dar a liderança a Roglic após a vitória na tirada de sexta-feira.

Mas antes, a etapa. Talvez porque na memória ainda esteja aquele espectáculo no Alto de la Farrapona entre Alberto Contador e Chris Froome em 2014, a expectativa seria que voltasse a ser palco de emoção, desta feita entre Roglic (Jumbo-Visma) e Carapaz (Ineos Grenadiers) e mais alguém que ainda queira intrometer-se entre os dois. O desolador ambiente sem público foi como que um lembrete que nada é como antes neste 2020 atípico. A tensão entre pelotão e comissários antes início da etapa, com o protesto dos ciclistas, talvez tenha sido outro sinal que o dia não cumpriria as expectativas.

A etapa ainda prometeu quando a Movistar colocou Nelson Oliveira na frente - mais uma excelente etapa do português, um incansável trabalhador -, com Marc Soler a juntar-se mais tarde. Mas a equipa espanhola limitou-se a lutar por uma etapa - Enric Mas não se mexeu - que acabou por escapar para David Gaudu (Groupama-FDJ), que conquistou a sua primeira vitória numa grande volta. Uma estreia de um jovem de 24 anos, de quem muito se espera em França.

No grupo de favoritos, Daniel Martin (Israel Start-Up Nation) acelerou um pouco no final, mas o maior efeito foi ganhar uns segundos a Hugh Carthy (EF Pro Cycling), na luta pelo pódio.

Soube a pouco, sendo esta uma etapa com quatro primeiras categorias e uma terceira a abrir (Villaviciosa - Alto de la Farrapona Lagos de Somiedo, 170 quilómetros). Pouparam-se forças para o Angliru. A mítica subida faz novamente recordar Alberto Contador. Foi ali que conquistou a sua última vitória. Aquele último disparo do Pistolero em 2017, antes de se despedir do ciclismo profissional. Ali também ganhou em 2008.

Nenhum ciclista presente na Vuelta ganhou no Angliru (Kenny Elissonde já abandonou), mas muitos sabem como pode quebrar o melhor dos trepadores. São 12,5 quilómetros, com pendente média a 9,9% (ver imagem do lado direito). Porém, é influenciada por uma fase mais plana e até a descer na parte final. Este Angliru chega a passar os 20%!

Ainda haverá muito mais montanha nesta Vuelta. Contudo, com um contra-relógio na terça-feira que poderá beneficiar Primoz Roglic, depois deste sábado ninguém, nem o próprio esloveno, terem atacado, o Angliru é a subida onde muito se poderá jogar o futuro de uma Vuelta que acaba daqui a uma semana. Recorde-se que são apenas 18 etapas e não as 21 normais de uma prova de três semanas.

Um rápido ponto da situação para este domingo: Roglic e Carapaz empatados, Martin a 25 segundos, Carthy ficou agora a 58, Enric Mas (Movistar) a 1:54 e o companheiro Soler está agora a 2:44. Todos os restantes têm mais de três minutos para recuperar.

Classificações completas, via ProCyclingStats.

O protesto

A 11ª etapa começou com o pelotão a fazer um pequeno protesto, atrasando o arranque da etapa. A causa? A mudança de regras que levou Carapaz a perder a camisola vermelha na sexta-feira.

Chris Froome encabeçou o protesto em nome dos ciclistas e em defesa do seu companheiro da Ineos Grenadiers. Os corredores contestaram a decisão dos comissários em alterarem a regra dos três segundos para um. Ou seja, como era considerada uma etapa para sprinters, apesar da fase final ter uma curta subida a 5% para a meta, a regra que estava definida é que só haveria cortes se este fosse de três segundos ou mais do vencedor para os restantes atletas.

Não acabou ao sprint e foi Roglic o vencedor. O esloveno cortou a meta com uma pequena vantagem e os comissários optaram por aplicar a regra do corte por haver pelo menos um segundo entre primeiro e segundo. Isto significou que Carapaz perdeu três. Com os 10 de bonificação por vencer a tirada, Roglic ficou empatado na liderança, mas como tem melhores classificações nas etapas (ajuda as três vitórias), vestiu novamente a camisola vermelha.

Os ciclistas não gostaram da mudança de regras de última hora, com a decisão a ser justificada com os comissários a poderem "interpretar as situações como for necessário e aplicar qualquer excepção", segundo escreveu o jornal As, citando o director da prova, Javier Guillén.

O protesto apanhou a organização desprevenida e no final da etapa houve uma reunião de cerca de 20 minutos com representantes das equipas, em que foi explicado precisamente o que levou à decisão do dia anterior. Além de ser passado o desagrado pela atitude do pelotão, foi ainda dito que todos os finais de etapas seriam revistos quanto à regra dos três ou um segundo. Porém, só a etapa de Madrid, a última, é para sprinters, pelo que o problema não deverá voltar a surgir.

12ª etapa: La Pola Llaviana/Pola de Laviana - Alto de L'Angliru, 109,4 quilómetros

E esta é então a etapa deste domingo. Com cinco subidas, duas de primeira categoria, antes da especial (e o Angliru é mesmo especial) para terminar o dia e a segunda semana da Vuelta. Segunda-feira é dia de descanso.

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