5 de outubro de 2020

João Almeida de rosa e tinha de ser no Etna

© Tim de Waele/Getty Images/DeceuninckQuickStep
Vestiu a camisola ciclamino num dia, a branca noutro, mas eram emprestadas pelo líder das classificações Filippo Ganna. Mas rosa é mesmo dele. João Almeida é o líder da Volta ao Itália ao terceiro dia e tornou o Monte Etna ainda mais especial para o ciclismo português. Há 31 anos, naquela mesma subida siciliana, Acácio da Silva venceu a etapa e vestiu de rosa. Almeida demorou apenas três dias na sua estreia numa grande volta para fazer história.

Acácio da Silva foi líder em Itália e depois no Tour (só Joaquim Agostinho também liderou uma grande volta, no seu caso em França). A rosa vestiu por dois dias (não consecutivos). Almeida até poderá fazer superar a marca. E tudo o que fizer a partir daqui, não será mais do que a confirmação de que a Deceuninck-QuickStep contratou mais um jovem com tudo para se tornar em mais um dos casos de sucesso que esta equipa tem.

No seu primeiro ano de World Tour, esta chamada ao Giro chegou sem o peso de responsabilidade de obter resultados. Sem Remco Evenepoel - a recuperar da grave queda na Lombardia -, a equipa deu liberdade aos seus ciclistas no Giro. Almeida sabia que tinha a oportunidade para se testar. Afinal uma prova de três semanas é algo muito diferente de tudo o que fez. Aos 22 anos, mesmo de rosa, será importante perceber como reagirá à exigência de uma grande volta. Esse sempre foi o objectivo. Mas João Almeida, não hesita em tentar sempre algo melhor. Se conseguir muito bem, se não, tenta de novo.

O segundo lugar no contra-relógio já o tinha deixado satisfeito. Mas na terceira etapa, na difícil subida ao Etna - este ano, ao contrário de edições recentes, muito movimentada, principalmente devido a quebras de candidatos -, Almeida mostrou mais do que potencial, talento e boa forma física. Não estando na sombra de Evenepoel, o ciclista das Caldas da Rainha revelou como já tem boa capacidade de leitura de corrida.

Esteve sempre atento às movimentações das principais referências. Sabendo que Geraint Thomas (Ineos Grenadiers) estava a perder muito tempo devido a uma queda, começou por controlar Simon Yates (Mitchelton-Scott). Quando este cedeu, olhou para Steven Kruijswijk (Jumbo-Visma) e Jakob Fuglsang (Astana). O ritmo não era fácil e seguiram-se ataques e contra-ataques. Almeida ficou um pouco para trás.

Não entrou em pânico. Algo característico do português é saber gerir o seu esforço. Na frente  da corrida, Jonathan Caicedo (EF Pro Cycling), ainda ameaçou, mas perdeu algum segundos que lhe custariam a liderança. Ainda assim, vitória de etapa e os dez segundos de bonificação, obrigavam Almeida a arriscar um pouco mais. A rosa estava ali tão perto, pois o detentor da camisola, Filippo Ganna, ficou a ajudar Thomas. Forçou na fase final e teve o prémio desejado.

"Liderar uma grande volta é um sonho tornado realizado. Esta performance deixou-me sem palavras. Mal consigo encontrar as palavras para descrever como me sinto. Estou feliz e orgulhoso por vestir a icónica maglia rosa e vou tentar mantê-la o máximo de tempo possível. Isso prometo", afirmou.

João Almeida não desperdiça oportunidades. Nunca o fez. Vestiu de rosa e se alguém mais distraído não sabia o nome deste ciclista, agora vai estar bem mais atento. Foi necessário ir aos centésimos de segundo do contra-relógio para dar a camisola a Almeida. Caicedo esteve perto, mas este dia, este monte Etna é para recordar em Portugal.

© Tim de Waele/Getty Images/DeceuninckQuickStep
Era quase impensável esperar que em apenas três dias João Almeida alcançasse tanto no Giro. Além da rosa, agora é ele quem vai emprestar a branca a Harm Vanhoucke, da Lotto Soudal. A diferença na geral, além da igualdade com Caicedo, é de 37 segundos para Pello Bilbao (Bahrain-McLaren), Wilco Kelderman (Sunweb) está a 42, um pouco mais longe, a 55, aparece Vincenzo Nibali (Trek-Segafredo). Outros dos principais nomes estão a mais de um minuto.

É difícil não se sentir orgulho ao ver Almeida chegar tão alto aos 22 anos e ainda haverá muito para subir numa carreira que começa agora a consolidar-se. O miúdo que tanto ganhava nos escalões de formação, agora afirma-se ao mais alto nível.

Este terça-feira, ao olhar-se para aquela maglia rosa durante a etapa, vai ser muito bonito saber que é um português, que é João Almeida quem a veste.

Classificações completas, via ProCyclingStats.

4ª etapa: Catania - Villafranca Tirrena, 140 quilómetros

O percurso não é muito complicado e a terceira categoria a meio não deverá ser um problema de maior para que a etapa não termine ao sprint. Mesmo que algum dos homens mais rápidos fique para trás, haverá, em princípio, tempo para recuperar. Com João Almeida de rosa, a Deceuninck-QuickStep vai estar atenta ao seu líder na geral, sendo que também tentará levar Álvaro Hodeg à vitória de etapa.

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