14 de outubro de 2020

Deceuninck-QuickStep na protecção a João Almeida

© Tim de Waele/Getty Images/DeceuninckQuickStep
Diariamente, João Almeida nunca se esquece de agradecer aos companheiros de equipa, enaltecendo o trabalho que têm feito em protegê-lo, em garantir que está bem posicionado no pelotão e em controlar as movimentações potencialmente perigosas para a liderança da Volta a Itália. Quando tem sido preciso assumir ele próprio a responsabilidade de perseguir os seus adversários, Almeida fá-lo e parte da sua capacidade em responder e até atacar, também se deve pela tranquilidade (possível) que consegue devido ao trabalho da Deceuninck-QuickStep.

Mesmo quando Remco Evenepoel era o líder eleito para o Giro, a questão que se colocava era como iria a formação belga ajudar na alta montanha. Não é uma equipa para lutar por gerais em grandes voltas. Aliás, recentemente perdeu Enric Mas para a Movistar por isso mesmo. Pela mesma razão, Daniel Martin e Rigoberto Uran não ficaram nesta equipa, fortíssima nas clássicas e sprints. Bob Jungels também está de saída para a AG2R.

Sem Evenepoel, João Almeida tornou-se no líder da equipa ao vestir a camisola rosa no terceiro dia da corrida. Inicialmente, o plano era Álvaro Hodeg ser a aposta para os sprints e nas restantes etapas haveria liberdade para os ciclistas perseguirem os seus resultados. Tudo mudou não só quando Almeida vestiu a rosa, mas quando demonstrou ter capacidade de liderança e assim ser merecedor de os colegas sacrificarem as suas ambições para estar ao lado do português.

É assim que funciona a Deceuninck-QuickStep. Todos acabam por ter uma oportunidade e todos fazem trabalho de gregário quando necessário. A equipa belga tem a alcunha de Wolfpack (alcateia), que simboliza a união entre os seus atletas.

Cinco dos ciclistas no Giro ou são melhores ao sprint, ou a prepará-lo, ou são fortes em clássicas. Três são mais dotados para a montanha, incluindo João Almeida. O português tem estado bem quando fica mais só, ainda que Fausto Masnada e James Knox estão a ser dois fiéis escudeiros quando as dificuldades aumentam.

Esta quinta-feira será mais uma etapa em que a Deceuninck-QuickStep será essencial. Porém, a grande questão é quando regressar a alta montanha e principalmente as da terceira semana. Naturalmente que aqui também se junta o facto de Almeida nunca ter feito uma prova de três semanas. O português está a viver o dia-a-dia, evitando pensar mais à frente. Para já, além de ter batido Acácio da Silva (vestiu a rosa dois dias não consecutivos em 1989), é o ciclista da história estrutura belga que mais tempo está de camisola rosa.

Mas afinal, quem são os companheiros a que João Almeida tanto agradece?

Fausto Masnada (26 anos): O italiano chegou este ano ao World Tour, estreando-se pela CCC, mas mudou-se para a Deceuninck-QuickStep em Agosto, devido aos problemas da equipa polaca, que irá perder o seu patrocinador. Em 2016, já tinha estagiado na então Lampre-Merida (actual UAE Team Emirates), mas foi na Androni Giocattoli-Sidermec que mostrou todo o seu talento. Em 2019 venceu uma etapa no Giro e é visto como um ciclista que pode conquistar mais vitórias, pois sabe subir muito bem. Irreverente, atacante, é um daqueles corredores de quem se pode esperar espectáculo... quando pode dar. Está no nono lugar da geral, a 1:36, pelo que manter-se com João Almeida até poderá significar um top dez. Masnada tem tudo para ser um importante braço-direito do português na última semana, se a rosa continuar com Almeida (esperemos bem que sim).

James Knox (24 anos): Na equipa desde 2019, a sua evolução tem sofrido com algumas quedas que lhe estragam os planos sempre que quer mostrar-se. O britânico é mais um trepador e está no top 20. É um ciclista que a Deceninck-QuickStep tem esperança possa integrar um bloco de montanha, também a pensar em Evenepoel. Para já, será um elemento importante para ajudar João Almeida.

Pieter Serry (31 anos): Este belga é um autêntico todo-o-terreno. É forte nas clássicas, mas sabe preparar sprints e também sobe bem. É um trabalhador incansável e ainda na louca etapa de terça-feira foi um elemento muito importante. A sua experiência será essencial para guiar o português.

Iljo Keisse (37 anos): E quando se fala de experiência, é o que mais tem este belga. É muito visto nas etapas planas ao lado do português. É um autêntico guarda-costas. Em circunstâncias normais, Keisse estaria mais preocupado em manter Hodeg bem colocado ou em ajudá-lo quando fica para trás. Contudo, perante a situação de corrida, é um valioso membro nas etapas que mais têm parecido clássicas. Esta quinta-feira, por exemplo, poderá ser mais um dia desses. No entanto, quando regressar a alta montanha, Keisse não demorará muito a sair de cena.

Mikkel Frolich Honoré (23 anos): É mais um jovem que foi ao Giro para continuar a ganhar experiência e prosseguir a sua evolução como atleta. É um dinamarquês de muita qualidade (e quem não a tem na Deceuninck-QuickStep), principalmente para as clássicas. Tal como Keisse, esta sua característica tem sido essencial na protecção a João Almeida nas etapas que não são de alta montanha.

Davide Ballerini (26 anos): Não lhe peçam para subir, mas se é preciso puxar na frente do pelotão, fazer alguma aceleração para não deixar alguém sair em fuga, então Ballerini é o homem a escolher. Até já conseguiu sprintar, mas o italiano tem estado focado em tornar este bloco da Deceuninck-QuickStep muito coeso.

Álvaro Hodeg (24 anos): Não era assim que queria que fosse a sua primeira grande volta, mas Hodeg sabe que com Almeida de rosa e a mostrar-se tão forte, que não terá a protecção que esperaria. Tinha (e tem) os sprints como objectivo e ainda esta quarta-feira foi terceiro, atrás de Arnaud Démare e Peter Sagan. Porém, quando ficou para trás em subidas, mesmo com as etapas a serem discutidas ao sprint, Hodeg não teve ajuda. Acabou por ser o sacrificado.

Quarta vitória para Arnaud Démare

Na etapa de terça-feira, Arnaud Démare deu ordens à sua equipa para não gastar forças na perseguição a Peter Sagan (Bora-Hansgrohe), que acabaria por entrar na fuga e vencer a tirada. O eslovaco recuperou também muitos pontos na luta pela camisola ciclamino. Porém, a Groupama-FDJ mostrou que tem tudo controlado.

Na etapa entre Porto Sant'Elpidio e Rimini (182 quilómetros), a equipa trabalhou muito para garantir que fosse decidida ao sprint. No final, mais do mesmo. Se o dia acaba ao sprint, Démare ganha. Quarta vitória e 36 pontos de vantagem sobre Peter Sagan. A luta ainda não acabou, mas o francês está forte de mais. O eslovaco - que está bem melhor neste Giro do que no Tour - vai precisar de mais umas fugas se quer tirar a camisola a Démare.

João Almeida chegou integrado no pelotão, já Ruben Guerreiro perdeu 2:12 minutos. O português da EF Pro Cycling está a preparar a próxima fuga e admitiu que manter a liderança na montanha passou a ser um objectivo.

Classificações completas, via ProCyclingStats.

12ª etapa: Cesenatico - Cesenatico, 204 quilómetros

É mais uma etapa com muito sobe e desce. Com os candidatos a saberem que este Giro está em risco de não chegar a Milão devido aos casos de covid-19, que já levaram à saída da Mitchelton-Scott e Jumbo-Visma, este é um dia para se verem ataques, antes do contra-relógio de sábado. Este poderá ser benéfico para João Almeida. O bloco da Deceuninck-QuickStep será essencial para manter o português de rosa mais um dia.

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