6 de outubro de 2020

Defender a rosa ao ataque

© Tim de Waele/Getty Images/DeceuninckQuickStep
Primeiro dia de camisola rosa vestida e João Almeida não só sentiu como é ser um líder numa grande volta, com uma equipa dedicada a protegê-lo, como ainda demonstrou que não está disponível para ceder o seu lugar facilmente. O maior perigo do dia era um sprint de bonificação, a cerca de 25 quilómetros da meta. Empatado em tempo com Jonathan Caicedo (EF Pro Cycling), ambos foram à procura de preciosos segundos. Almeida foi mais forte e conquistou dois que lhe deram tranquilidade.

O próprio admitiu isso mesmo. Pode parecer pouco, mas foi o suficiente para o deixar mais calmo para um final de etapa que se sabia que seria complicado, devido às condições meteorológicas e a velocidade que se alcança na preparação de um sprint. Porém, toda a quarta etapa (Catania - Villafranca Tirrena) foi disputada a alta velocidade, o que obrigou a João Almeida e à Deceuninck-QuickStep a uma redobrada atenção e a sacrificar o sprinter, Álvaro Hodeg

Com apenas 140 quilómetros e uma terceira categoria a meio, a Bora-Hansgrohe impôs um ritmo fortíssimo para tentar deixar para trás sprinters como Fernando Gaviria (UAE Team Emirates), Elia Viviani (Cofidis) e o próprio Hodeg. E na subida cederam todos, com o italiano ainda a conseguir regressar ao grupo mais tarde, mas mais uma vez mal se o viu no sprint, tal como aconteceu no Tour.

Com uma camisola rosa para defender, a Deceuninck-QuickStep só manteve Iljo Keisse com Hodeg. João Almeida foi a prioridade e Davide Ballerini teve a oportunidade de ser ele a disputar a etapa. A esta equipa nunca faltam escolhas para estar na ribalta. O italiano foi terceiro, Almeida manteve a ros, com mais três companheiros a estarem no pelotão, enquanto Ballerini atacava sprint.

O momento mais nervoso foi aquele sprint de bonificação. Caicedo foi, sem surpresa, tentar somar segundos que o permitissem tirar a liderança ao português. João Almeida demonstrou que também tem a sua mudança de velocidade e acompanhado de um companheiro de equipa, frustrou as intenções de Caicedo. A melhor defesa, foi mesmo o ataque.

© Tim de Waele/Getty Images/DeceuninckQuickStep
"Sabendo que estava empatado na geral com o Caicedo, ataquei o sprint intermédio e aqueles dois segundos que somei deram-me tranquilidade antes do final. Estou muito feliz por manter a minha camisola. Foi mesmo especial tê-la hoje vestida. Vou continuar a enfrentar uma etapa de cada vez e ver o que acontece", afirmou o ciclista das Caldas da Rainha.

Almeida agradeceu ainda o trabalho da equipa, que o protegeu durante a etapa. Destacou o vento forte em certas zonas e a "descida traiçoeira", que devido ao piso molhado obrigou a muito cuidado.

Em vez de centésimos, Almeida tem agora dois segundos para Caicedo, mas mais de um minuto para alguns dos principais candidatos, excepto para o líder da Trek-Segafredo, Vincenzo Nibali (57 segundos), e para Wilco Kelderman (Sunweb), que está a 44. Pello Bilbao, da Bahrain-McLaren, tem 39 segundos de diferença. Geraint Thomas (Ineos Grenadiers) está fora do Giro, devido a uma fractura na pélvis, após queda ainda antes da partida real para a terceira etapa, na terça-feira.

Ao continuar de rosa, Almeida iguala Acácio da Silva, que também vestiu a camisola da liderança no Giro em 1989 durante dois dias, ainda que não consecutivos. O corredor da Deceuninck-QuickStep terá esta quarta-feira um etapa mais complicada, mas se continuar em primeiro, poderá ficar mais uns dias como líder (perfil da tirada em baixo).

© BORA-hansgrohe/Bettiniphoto & VeloImages
Sagan a aproximar-se da vitória

A Bora-Hansgrohe trabalhou intensamente para eliminar adversários de Peter Sagan. Conseguiu, mas Arnaud Démare resistiu. O sprinter da Groupama-FDJ regressou do confinamento insaciável e já soma 11 vitórias! Sagan continua a zero em 2020. E em Villafranca Tirrena foi por milímetros que perdeu. Sprint emocionante, com Sagan e Démare a terem de esperar alguns minutos para saberem quem era o vencedor, com Ballerini a surgir na luta.

O italiano explicou que a dois quilómetros da meta foi obrigado a desviar-se de um cão, o que prejudicou o seu posicionamento. Gastou forças para recuperar, mas conseguiu disputar o sprint que Démare acabaria por vencer. Sagan foi "compensado" ao vestir a maglia ciclamino (a dos pontos), um dos seus objectivos nesta sua estreia no Giro. Esta é a camisola que lhe assenta melhor, depois de ter sido líder da montanha por um dia, algo que até o próprio achou estranho!

Almeida terminou no pelotão, dentro do top 20. Rúben Guerreiro (EF Pro Cycling) também chegou integrado no grupo principal, com o português a ocupar a 39ª posição, a 7:53 minutos do compatriota. Os seus planos são bem diferentes. Quer aparecer no Giro numa fuga, à procura de vencer uma etapa.

Classificações completas, via ProCyclingStats.

5ª etapa: Mileto - Camigliatello Silano, 225 quilómetros

Depois de uma tirada curta, teremos uma bem longa. Vai ser um constante sobe e desce, muito desgastante, ainda mais se alguma equipa colocar um ritmo forte. Depois de uma subida no Monte Etna bem diferente dos últimos anos, com muitos ciclistas a atacar, esta quarta-feira é mais um dia que poderá proporcionar uma luta interessante. João Almeida não deverá ter um dia nada fácil.

As atenções vão estar na primeira categoria quando os ciclistas já estarão perto de ter nas pernas 200 quilómetros. Serão 25 a subir e apesar da pendente rondar os 5,6% de média, a máxima atinge os 18%.

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