28 de outubro de 2020

Roglic irresistível (e Carapaz não lhe fica atrás)

© Photo Gomez Sport/La Vuelta
É difícil não sentir alguma admiração e principalmente um enorme respeito por Primoz Roglic. Ainda se está por descobrir o que pode deitar abaixo este ciclista. É que se perder a Volta a França no contra-relógio final - quando até é uma especialidade sua - não o fez, então não ia ser o casaco ou uma falta de pernas num dia que o iria fazer desistir de lutar pela Vuelta. Roglic sofre, pode passar alguns dias menos bons, mas não lhe digam que não pode fazer mais nada. Não que fosse preciso, mas o esloveno lá deixou mais uma prova da sua forma de estar no ciclismo com a exibição no Alto de Moncalvillo.

A batalha com Richard Carapaz está a tornar-se numa bem espectacular. Ataque, contra-ataque, um dia está um mais forte, noutro dia está outro... Quando perdeu a camisola vermelha, Roglic desculpou-se com problemas em vestir o casaco, sendo que houve depois falta de força para responder a Carapaz, depois de ter sido obrigado a recuperar o tempo perdido para chegar ao grupo de favoritos.

Sem desculpas, o Roglic de Moncalvillo foi aquele que se viu a ganhar a primeira etapa e aquele que já se viu tantas vezes nos últimos três/quatro anos. Quando mete as mãos em baixo no guiador já se sabe que é provável que se vá assistir a algo especial. E assim foi. Carapaz resistiu, mas acabou por ceder 17 segundos, contando com as bonificações. São 13 que os separam, com vantagem para o equatoriano. E se Daniel Martin (Israel Start-Up Nation) e Hugh Carthy (EF Pro Cycling) não deve ser retirados da equação, cada vez mais esta Vuelta está a escrever-se com a rivalidade Roglic/Carapaz.

A capacidade que este esloveno tem de ultrapassar desconfianças, como as que talvez não fosse um voltista, que talvez não fosse o líder para a Jumbo-Visma, que talvez não pudesse discutir uma grande volta... Roglic parece motivar-se ainda mais! Havia a incerteza como se apresentaria depois de perder o Tour de forma tão dramática. Está fortíssimo mentalmente e fisicamente também.

Aliás, o mesmo se pode dizer de Carapaz. Na Movistar andou na sombra dos líderes Alejandro Valverde, Nairo Quintana e ainda Mikel Landa. Sabia-se que tinha qualidade, mas não era apresentado como líder, não era visto como candidato, não era visto como um ciclista que chegaria ao topo da hierarquia rapidamente. Foi ao Giro de 2019... Mostrou que era um atleta que não ia ficar à espera, só porque havia um tridente de nomes fortes, mas poucos resultados.

Seguiu para a Ineos Grenadiers e esbarrou com as mudanças forçadas devido às alterações de calendário. Teve de ser gregário de Egan Bernal, ainda que tenha acabado a tentar salvar a equipa de uma Volta a França para esquecer. Não foi ao Giro - o seu plano inicial, quando ainda estávamos em tempos, digamos, normais - e chegou à Vuelta com Chris Froome ao seu lado. O britânico é a figura uma história que está a ter um capítulo bem triste de ver. Carapaz é o líder, merece esse estatuto, e que bem tem estado em Espanha, numa Vuelta de loucos, mas que não perturba em nada este ciclista.

Esloveno e equatoriano fizeram história ao tornarem-se os primeiros dos seus países a vencerem uma grande volta, precisamente em 2019 (Vuelta e Giro, respectivamente). Roglic (30 anos) e Carapaz (27) são dois lutadores, habituados a que nada seja fácil, habituados a desconfianças, mas também já bem habituados a ganhar, principalmente Roglic.

Alto de Moncalvillo foi difícil (dia com 164 quilómetros, que começaram em Logroño), Roglic assim o admitiu depois de se tornar no primeiro vencedor da subida da zona de La Rioja, no norte de Espanha - pendente média acima dos 9%, com rampas a 15% -, mas ainda virá pior, com os olhos postos no mítico Angliru, no domingo. E mal se pode esperar para ver este dois ciclistas estarem novamente frente-a-frente.

E o melhor de tudo? É que nesta Vuelta quem parece poder estar a ficar fora de cena, tem duas etapas no fim-de-semana para mostrar que também tem o poder de luta para se intrometer entre Roglic e Carapaz. Enric Mas e a Movistar bem precisam de puxar dos galões. Trabalharam muito esta quarta-feira - vénia a Nelson Oliveira -, mas o seu líder não cumpriu na subida final. Marc Soler e Alejandro Valverde também não estiveram melhor. Pelo contrário.

Classificações completas, via ProCyclingStats.

9ª etapa: B.M. Cid Campeador Castrillo del Val - Aguilar de Campoo, 157,7 quilómetros

Atenção! Vamos ter duas etapas quase sem montanha! Até parece estranho! A desta quinta-feira é completamente plana, sexta haverá apenas uma terceira categoria. É melhor não celebrar muito, porque este dois dias para os sprinters, serão importantes os candidatos à geral recuperarem forças. O que o pelotão terá de enfrentar no fim-de-semana é de testar o mais resistente dos ciclistas.

»»Como controlar na Volta a Espanha? A pergunta de difícil resposta««

»»A importância da força mental««

Sem comentários:

Enviar um comentário