30 de outubro de 2020

Uma classe própria

© Photo Gomez Sport/La Vuelta
Nem sprinters, nem puncheurs, o vencedor da etapa foi um ciclista de uma classe muito própria. Que mais se pode dizer de Primoz Roglic? É uma autêntica máquina de procurar vitórias, nunca estando satisfeito. E não pára de dar razões para se falar dele e de o elogiar.

Já se viu esta versão avassaladora do esloveno, que depois viria a quebrar num Giro que lhe serviu de lição para meses mais tarde ganhar a Vuelta. Isto foi 2019, porque em 2020, há um Roglic a saber aliar melhor a táctica a uma sede insaciável de triunfos. Ajuda (e muito) ter uma equipa fortíssima. Mas no Tour no único dia em que esteve mal, perdeu a corrida. Na Vuelta... simplesmente parece estar a aproveitar todos os dias em que se sente forte. É para ganhar, mas sem grandes calculismos ou à espera de momentos perfeitos.

Para Roglic, basta uma chegada ter uma inclinação que já é perfeita para atacar e vencer. Adora segundos de bonificação. Podendo aliar um triunfo a ganhar ou, neste caso, recuperar tempo perdido com 10 segundos e um pouco mais na estrada (desta feita três segundos), isso sim, é perfeito para ele. E já é líder novamente!

Demorou quatro dias a recuperar do erro que o levou a perder a camisola liderança para Richard Carapaz (Ineos Grenadiers). Disse que teve problemas com o casaco, mas o que importa nesta altura, é que o ciclista da Jumbo-Visma já recuperou os 30 segundos que havia perdido. Agora está empatado com o equatoriano, mas reassume a dianteira da Vuelta, já somando três vitórias de etapas.

Triunfo após triunfo, arranque após arranque a poucos ou a vários metros da meta, é impossível não se sentir uma admiração pela forma de correr deste esloveno, que celebrou 31 anos na quinta-feira. Aquela derrota amarga do Tour, quase parece nem ter acontecido.

Pode já não ser da nova geração, alguns dos melhores voltistas que estão a surgir são quse dez anos mais novos que o esloveno. Mas é dos mais velhos que nesta fase de mudança de figuras no ciclismo consegue debater-se com os mais novos. Perdeu para Tadej Pogacar (22 anos) no Tour, é certo, mas a idade não foi o problema.

Roglic despontou tarde no ciclismo - é bem conhecida a sua história desportiva, que começou nos saltos de esqui -, mas é um ciclista que faltam adjectivos para descrever tudo o que faz, o quanto entusiasma, o quanto dá espectáculo.

Porém, como foi dito, sabe o que é ter começos explosivos e depois ceder. Sobe à liderança antes de um fim-de-semana que chamar de alta montanha, até parece pouco. É um fim-de-semana mesmo ao estilo da Volta a Espanha!

Talvez por isso, todas as movimentações finais da 10ª etapa desta sexta-feira (Castro Urdiales - Suances, 185 quilómetros) não deixaram de surpreender um pouco. Ontem houve descanso, hoje já praticamente todos os homens da geral mostraram ter intenções para atacar naquela curta subida final, perto da meta, com 5% de inclinação. A maioria dos sprinters nem se posicionou para tentar vencer. E os restantes, ficaram sentados a ver Roglic acelerar, como tantas vezes faz e como tantas vezes fica sem resposta à altura.

Agora terá de mostrar a mesma boa forma na alta montanha. Richard Carapaz não baixa os braços e a Movistar prometeu atacar, pela voz de Alejandro Valverde. O fim-de-semana na Vuelta promete.

Classificações completas, via ProCyclingStats.

11ª etapa: Villaviciosa - Alto de la Farrapona Lagos de Somiedo, 170 quilómetros

Subir, subir, subir. Não vai haver descanso. É daquelas etapas em que já se assistiu na Vuelta ataques de longe. É um tipo de percurso muito difícil de controlar, ainda mais quando não há equipas muito fortes. Dia difícil para a Jumbo-Visma, mas também para quem quiser ameaçar Roglic. Há que medir bem o esforço. É que domingo é dia de Angliru. Vão ser duas etapas a não perder.

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