22 de outubro de 2020

Isto é apenas o início

© Tim de Waele/Getty Images/DeceuninckQuickStep
O Stelvio não perdoa. Não importa se se é o mais talentoso dos trepadores, ou um dos grandes campeões de ciclismo. Nesta icónica subida já há quem saiba o que é perder a Volta a Itália. Era o maior teste a João Almeida, principalmente depois da etapa de sábado ter sido reformulada. O ciclista português cedeu, mas não quebrou. Defendeu como pôde a camisola rosa e honrou-a até ao fim. Percebeu que não continuaria como líder, mas não desistiu de sair deste Giro com um resultado que lance em alta a sua carreira nestas corridas. O sonho rosa desfez-se, mas isto é apenas o início do que João Almeida tem para dar... do que tem para ganhar.

Foram 15 dias de liderança. Nem Joaquim Agostinho, nem Acácio da Silva o conseguiram fazer numa grande volta. E João Almeida tem apenas 22 anos. Está a ser a sua primeira grande volta, no seu ano de estreia no World Tour. Eis mais um jovem da nova geração para entrar nas contas daqueles que podem deixar a sua marca na próxima década ou mais. E este é português. Nas últimas semanas tornou-se no orgulho nacional, fazendo recordar os bons velhos tempos em que o ciclismo era quase rei em Portugal.

Mas isto é apenas o início. João Almeida chegou ao mais alto nível somando bons resultados nos escalões de formação. Nada disto aconteceu por acaso, ainda que um pouco mais cedo do que o esperado. Porém, este é um ciclista que não desperdiça oportunidades. Não estava escalado para o Giro, mas ao ser chamado quis mostrar-se. Não se poderia pedir mais! Foi brilhante.

Fica aquela tristeza de ver que faltam três etapas para o fim e Almeida estava tão perto. Mas, naquele Stelvio de 25 quilómetros, com pendente média de 7,5%, o português perdeu a liderança, mas foi grande. A rosa já não é dele, mas terá tempo para um dia voltar a vesti-la. E a amarela do Tour... E a vermelha da Vuelta e outras camisolas que demonstrou poder vir a discutir. Tem todo um futuro à sua frente. Veio para o Giro para saber como era correr três semanas. Sai sabendo que é um voltista.

Até deu para esquecer que este é um ciclista ainda em evolução. Teve um curso intensivo de uma grande volta ao vestir ao terceiro dia a camisola rosa. Cresceu como atleta e não demorará a ver-se o resultado dessa aprendizagem. Isto é apenas o início!

A Deceuninck-QuickStep tem mais um ciclista para as provas de três semanas. Não só Remco Evenepoel. Esta equipa belga tem muito a pensar como quererá abordar os próximos anos. O director Patrick Levefere disse, em 2019, que estaria disposto a mudar um pouco a política de contratações se Enric Mas ficasse.

O espanhol saiu para a Movistar. Contudo, a Deceuninck-QuickStep tem agora dois bons voltistas e se os quiser manter, terá de ter mais ciclistas para montanha e não apenas um Fausto Masnada que está a precisar de perceber que tem de trabalhar para colegas quando assim se impõe. Ainda mais numa equipa que se auto apelida de Wolfpack (alcateia).

Isto é apenas o início para um João Almeida que, apesar de não estar numa equipa para as grandes voltas, é a certa para ele neste momento. Vai ter apoio para evoluir, sabendo que terá de trabalhar para colegas, mas que terá as suas oportunidades. Depois de 15 dias de rosa subiu o seu estatuto dentro da equipa. Isto é apenas o início.

E o Giro ainda não acabou. Saiu do pódio, mas segurou o top cinco e porque não olhar para cima. Ficou a 2:16 minutos do novo líder, Wilco Kelderman. Está a 57 segundos do quarto lugar (Pello Bilbao, Bahrain-McLaren). O pódio está a 2:01 (Tao Geoghegan Hart, Ineos Grenadiers, é terceiro classificado.

Jai Hindley (Sunweb) tornou-se no real camisola branca, com Hart atrás. Também essa classificação ficou complicada para o português. Mas, aconteça o que acontecer nas próximas três etapas, João Almeida fez história. Isto é apenas o início!

© Giro d'Italia
Uma camisola quase garantida

Ruben Guerreiro há-de ter o destaque merecido. O ciclista da EF Pro Cycling foi o primeiro a tentar ajudar Almeida a manter a camisola rosa, tal era a importância do feito. Porém, é dele um momento marcante da história do ciclismo nacional. Está perto de se tornar no primeiro português a vencer uma classificação numa grande volta. A camisola azul da montanha é dele se chegar a Milão.

Giovanni Visconti (Vini Zabù-KTM) era o rival mais sério, mas abandonou. Guerreiro entrou novamente na fuga, controlou a outra possível ameaça, Thomas de Gendt (Lotto Soudal) e depois de vencer uma etapa no final da primeira semana, é o rei da montanha. É a sua segunda grande volta e, aos 26 anos, afirma-se finalmente ao mais alto nível, depois de principalmente dois anos marcados por quedas e problemas de saúde.

Que Giro tão fantástico para Portugal. Apostar na formação vale a pena!

Classificações completas, via ProCyclingStats.

19ª etapa: Morbegno - Asti, 253 quilómetros

Wilco Kelderman é assim o novo líder da Volta a Itália, ainda que não parece ter o maior apoio da Sunweb, que não obrigou Jai Hindley a ficar com o o líder. O australiano está a 12 segundos do companheiro de equipa, após vencer a etapa que acabou por ser a rainha do Giro (Pinzolo - Laghi di Cancano, 207 quilómetros). Tao Geoghegan Hart recolocou a Ineos na luta pela geral, estando a 15 segundos de Kelderman.

A etapa de sábado vai ser emocionante. Até porque agora há rivalidade até dentro da Sunweb. Já esta sexta-feira, os sprinters que resistiram, têm uma última hipótese para ganhar, pois no domingo, o Giro termina com um contra-relógio. É dia para os candidatos à geral recuperar forças para a derradeira tirada de montanha no sábado.

»»Giro perde duas das subidas mais difíceis. Táctica para etapa desta quinta-feira pode mudar««

»»Ao ataque por muito mais do que dois segundos««

Sem comentários:

Enviar um comentário