5 de outubro de 2020

Como não estrear-se como campeão do mundo

© Jumbo-Visma
Parecia tirado de um manual de como não agir num final de corrida. Julian Alaphilippe irá ter o seu nome entre um dos melhores momentos do ano (sagrar-se campeão do mundo em Imola), como num dos mais insólitos. Até Tadej Pogacar levou a mão à cabeça ao ver o disparate do francês. Alaphilippe queria tanto começar de forma perfeita o seu reinado com a camisola arco-íris, que acabou a cometer um erro de principiante.

Antes disso, realizou um desvio que, mesmo que tivesse ganho, ter-lhe-ia custado a vitória na Liège-Bastogne-Liège, que se realizou este domingo. Começando por aí. No início do sprint, Alaphilippe desviou-se de tal forma, que prejudicou Marc Hirschi. O suíço da Sunweb venceu a Flèche Wallonne e depois das exibições no Tour, ganhou definitivamente o respeito de todos. Porém, Alaphilippe "meteu-o de fora" da luta pelo monumento. Primeiro disparate, que felizmente não teve qualquer consequência física para Hirschi.

Segundo disparate. Ser campeão do mundo motiva qualquer um e Alaphilippe apresentou  na clássica belga aquela capacidade de sprintar em grupos pequenos. Eis a meta à sua frente, adversários um pouco atrás. É tempo de celebrar, pensou. Levantou os braços e lá do fundo veio um Primoz Roglic, bem mais concentrado, que, sobre a meta, venceu.

Foi o momento de esperar pela repetição. Sim, Roglic tinha mesmo vencido. Entre o poder voltar para trás a imagem televisiva ou ver o vídeo na internet, é ver e rever. É inacreditável que um ciclista como Alaphilippe tenha cometido um erro crasso. Já no Tour tinha passado pelo episódio de receber um bidão dentro dos 20 quilómetros finais de uma etapa, na qual não era permitido. Perdeu a camisola amarela, ainda que neste caso a responsabilidade é de quem se colocou mal na estrada. Está a ser um 2020 atípico para este fenomenal ciclista.

© Jumbo-Visma
Roglic é que já tem o seu monumento, enquanto o francês acabou o dia a dizer que era melhor ser relegado do segundo lugar, do que do primeiro. Isto porque os comissários penalizaram o ciclista da Deceuninck-QuickStep pelo gesto que prejudicou Hirschi. Alaphilippe desceu para o quinto lugar, o suíço foi segundo e Tadej Pogacar (UAE Team Emirates) fechou o pódio.

Alaphilippe pode ter razão. Teria sido pior perder a vitória, mas não apaga a imagem de como celebrou cedo de mais. Prometeu que nunca mais o faria. Lição aprendida. Mas ainda mais importante, depois de ver as imagens do que fez a Hirschi, admitiu prontamente a responsabilidade de como havia agido mal.

Já para Primoz Roglic e para a Jumbo-Visma, vencer um monumento pode não ter a mesma sensação se tivessem selado a vitória na Volta a França, naquele contra-relógio que o esloveno não irá esquecer. Mas Roglic merecia uma grande vitória e ainda não tinha ganho nenhuma das principais clássicas. E a forma como acreditou até ao fim, demonstra que não terá sido fácil assimilar a derrota no Tour para Pogacar, mas Roglic soube reagir. Também assim se vê quem é um verdadeiro vencedor.

Rui Costa foi o único português. Há muito que esta é uma clássica que deseja vencer e em 2016 até fez pódio. Nos 257 quilómetros ainda tentou um ataque, mas terminou na 40ª posição, a 1:18 de Roglic. Pogacar também começa a tomar conta de lugar de líder na UAE Team Emirates em certas corridas de um dia.

Classificações completas, via ProCyclingStats.

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