11 de outubro de 2020

Rúben Guerreiro juntou-se a João Almeida e este domingo foi histórico

© Giro d'Italia
Cresceu-se a ouvir falar dos feitos de Joaquim Agostinho e de Acácio da Silva, por exemplo. Teve-se a oportunidade de assistir a conquistas de Sérgio Paulinho, Rui Costa e de Nelson Oliveira nas grandes voltas e, claro, um Mundial e uma medalha de prata nos Jogos Olímpicos. Todos foram dias importantes para o ciclismo nacional. O deste domingo junta-se a esses dias, mas com uma história reforçada.

Além da vitória numa etapa há três camisolas à mistura! Rúben Guerreiro venceu no Giro, algo que não acontecia desde Acácio da Silva, em 1989. É ainda o novo líder da montanha e junta-se como destaque na corrida a João Almeida, que resistiu de rosa. Este último também tem a liderança na juventude. O ciclismo português, a nova geração de talentos, está a mostrar-se (e de que maneira) em Itália.

Naquele país já se havia brincado a dizer que só havia um português mais falado: Cristiano Ronaldo. Agora já são três portugueses muito falados. João Almeida e Rúben Guerreiro gravam assim os seus nomes nesta edição do Giro e só falta ter a camisola dos pontos. Mas essa está bem "presa" por Arnaud Démare (Groupama-FDJ).

O que Guerreiro fez na nona etapa, era um plano traçado desde o arranque da corrida, com o ciclista a perder tempo à espera da fuga ideal para integrar. Foi este domingo. Nona etapa. O topo de Roccaraso tem agora um vencedor português.

E há tanto tempo que Guerreiro perseguia uma vitória assim. Chegou ao World Tour há quatro anos como uma das grandes promessas, depois de dois anos muito positivos na Axeon Hagens Berman, equipa que mais tarde contou com João Almeida. Entre problemas de saúde, quedas, lesões, a afirmação de Guerreiro foi sendo adiada. Aqui e ali foi-se vendo o melhor desde ciclista, que já conta com um título de campeão nacional na sua estreia em elite.

Depois de dois anos na Trek-Segafredo, mudou-se no ano passado para uma Katusha-Alpecin que acabaria a ser vendida à Israel Start-Up Nation. O ciclista do Montijo guardou o melhor para o final de 2019. Conseguiu estrear-se numa grande volta, em Espanha, e esteve perto de vencer uma etapa. As suas exibições chamaram e muito a atenção. Escolheu regressar a uma equipa americana, a EF Pro Cycling. Rúben Guerreiro dá-se bem com a cultura deste tipo de formações. Mais importante, assegurou poder ter liberdade por lutar pelos seus resultados.

Na Vuelta ficou encantado com as provas de três semanas. Satisfeito como o seu corpo reagiu, ficou com a certeza que é um tipo de corridas que quer apostar na carreira. A EF Pro Cycling levou-o ao Giro. E eis o que Guerreiro pode dar à equipa. É um vencedor, está sempre disposto a arriscar para ter sucesso. É um trabalhador incansável e Matti Breschel, um dos directores da equipa, destacou precisamente o profissionalismo de Guerreiro.

Recordou como trabalhou muito durante o confinamento, mas também salientou aquele lado mais rebelde de Guerreiro. Referiu como o português gosta de ser um artista na bicicleta, mas quando se foca em algo, é um ciclista de muita qualidade.

Com esta vitória e a forma como a alcançou, Guerreiro afirma-se ainda mais entre a estrutura de uma equipa à procura de líderes para suceder a Rigoberto Uran, numa altura em que Daniel Martínez está de saída para a Ineos Grenadiers. Aos 26 anos, Rúben Guerreiro alcança a vitória que tanto desejava, que tanto procurava. Mas que não se tenha dúvidas, já está a pensar quando pode estar na luta por mais.

"Finalmente! Que grande alegria depois de muitos segundos lugares! A equipa e eu merecíamos esta vitória. Foi muito difícil entrar na fuga esta manhã e foi uma vitória extraordinária", afirmou Rúben Guerreiro. E acrescentou: "No ciclismo profissional é tão difícil ganhar. Este é o meu quarto ano como profissional e é um sentimento incrível conseguir esta vitória depois de um dia tão complicado."

Esta segunda-feira o pelotão descansa ao fim de nove dias. Este último ficou marcado pela chuva e frio e uma etapa de 208 quilómetros, com quatro mil metros de acumulado. Tao Geoghegan Hart (Ineos Grenadiers), Larrt Warbasse (AG2R), Kilian Frankiny (Groupama-FDJ), Mikkel Bjerg (UAE Team Emirates) foram ciclistas que deixou para trás na última subida. Ficou com Jonathan Castroviejo. O espanhol da Ineos Grenadiers não teve hipótese quando o português arrancou a cerca de 300 metros da meta.

Venceu e lidera a montanha, com oito pontos de vantagem sobre Giovanni Visconti, da Vini Zabù-KTM. Fica com mais um potencial objectivo, caso opte por tentar manter a camisola azul. E para a EF Pro Cycling está a ser um Giro muito positivo. Jonathan Caicedo venceu a terceira etapa, também já liderou a montanha e até tentou tirar a rosa a João Almeida. Mas essa continua com o corredor da Deceuninck-QuickStep.

© Stuart Franklin/Getty Images/Deceuninck-QuickStep
Final complicado

Com alguma surpresa, não houve muitos ataques, apenas um aumento de ritmo por parte da Trek-Segafredo de Vincenzo Nibali, que não durou muito tempo. Num dia com condições meteorológicas tão adversas, a tentativa de quebrar João Almeida ficou para a derradeira subida de primeira categoria (dez quilómetros, com 5,7% de média), depois de uma também de primeira e duas de segunda.

A Deceuninck-QuickStep pôde assim controlar grande parte da corrida, não se preocupando com a fuga e ainda bem para Rúben Guerreiro! Na derradeira subida, já perto do último quilómetro, começaram as movimentações. O ciclista de 22 anos sofreu um pouco e perdeu algum tempo. Mas lutou com as forças que tinha para fechar de rosa uma primeira semana de Giro verdadeiramente memorável e histórica para o ciclismo nacional.

"Estava preparado para todo o tipo de cenários no início da etapa, incluindo o de perder a camisola. Mas continuei a acreditar e fiz o meu melhor, independentemente das condições, que penso que foram um problema para toda a gente", afirmou Almeida. Do português pode-se esperar que vai continuar a dar luta, mesmo que as diferenças tenham ficado um pouco mais curtas. E a cada dia que passa, o respeito para os principais favoritos no início do Giro vai aumentando e aumentando...

Wilco Kelderman (Sunweb) é agora segundo, a 30 segundos, com Pello Bilbao (Bahrain-McLaren) a cair para terceiro, mas a encurtar distância para a liderança: 39 segundos. Seguem-se Domenico Pozzovivo (NTT), a 53 segundos, e Vincenzo Nibali (Trek-Segafredo), a 57. A restante concorrência tem mais de um minuto para recuperar.

Classificações completas, via ProCyclingStats.

10ª etapa: Lanciano - Tortoreto, 177 quilómetros

Esta segunda-feira o pelotão descansa, ainda que haverá sempre o nervosismo dos resultados dos testes à covid-19. O Giro já perdeu Simon Yates (Mitchelton-Scott), que ao apresentar sintomas, foi testado, deu positivo e teve de abandonar a prova.

A segunda semana começa com uma etapa de média montanha, mas para a luta pela geral, as principais etapas deverão ser no fim-de-semana, com o contra-relógio no sábado e uma tirada de alta montanha no domingo.

Contudo, a Deceuninck-QuickStep sabe que terá de estar atenta, para evitar ataques que possam surgir na etapa de quinta-feira, por exemplo.

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