18 de outubro de 2020

Wilco Kelderman, o rival

© Team Sunweb
Hoje foi um dia de algum sofrimento ao assistir à 15ª etapa do Giro. Aquela última subida foi de nervos, mas João Almeida aguentou. Perdeu tempo, é certo, mas a camisola rosa continua sua e esta segunda-feira é altura de recuperar forças e delinear estratégias. Ficou completamente claro que não só Wilco Kelderman está forte, como a Sunweb é o único bloco que existe para a montanha entre as equipas presentes. A certeza que ficou depois da tirada deste domingo, é que o holandês é o rival de Almeida. Os restantes? Ficaram com uma montanha de tempo para recuperar.

Quem é Wilco Kelderman? É um ciclista que se tornou difícil perceber o que se pode esperar. Foi um jovem formado na Rabobank, tendo sido chamado à estrutura principal em 2012, onde ficou até 2016, então com o nome de Lotto-Jumbo. Em 2014 parecia que iria começar a confirmar expectativas. Até arrancou o ano com um quinto lugar na Volta ao Algarve. Porém, foi o sétimo posto no Giro que chamou a atenção, seguindo-se um quarto no Critérium du Dauphiné, tendo vencido a classificação da juventude.

No entanto, foi também o início do que viria a caracterizá-lo. Kelderman foi uma espécie de eterna promessa, que nunca cumpriu. Aos 29 anos, parte da sua carreira resume-se a excelentes exibições e depois a desaparecer. Algumas quedas não ajudaram, mas também já houve alturas em que surgiu como candidato e depois simplesmente não foi capaz de estar com os melhores.

A Sunweb acreditou que poderia ter o melhor do holandês, mas tanto viu Kelderman ser quarto na Vuelta (em 2017), como mal o viu quando aumentou a aposta no ciclista, na esperança que pudesse ser a outra grande figura da equipa, ao lado de Tom Dumoulin. Ao que voltistas diz respeito, claro. Kelderman até foi sétimo na última Vuelta, mas a Sunweb queria mais.

A saída de Dumoulin para a Jumbo-Visma este ano, obrigou a Sunweb a repensar o seu caminho. Nem se esperava muito da equipa em 2020, mas foi ao Tour dar muito espectáculo e ganhar três etapas. De Kelderman aguardava-se o mesmo de sempre para o Giro. Talvez apareça, acaba por ser o pensamento. A equipa não fez dele uma aposta para a Volta a França e não já não pensava nele para o futuro, pelo que vê-lo assinar contrato com a Bora-Hansgrohe para 2021 e 2022, nem surpreendeu. A perspectiva de mudança aumentou as suspeitas de como surgiria o holandês no Giro.

© Giro d'Italia
Em Itália, Kelderman está a ter uma corrida "sim". Está bem fisicamente, está forte mentalmente. Começa a acreditar que é possível ganhar o Giro. E depois deste domingo já percebeu que é ele que pode tirar o sonho rosa a João Almeida. Mais importante: tem perfeita percepção que será difícil estar novamente numa situação tão privilegiada para discutir uma grande volta, ainda mais tendo uma equipa que é a mais forte da Volta a Itália.

Recorde-se, venceu a sua única grande volta precisamente em Itália, com Dumoulin, em 2017. Kelderman foi um dos gregários, tendo abandonado na nona etapa. O holandês tem do seu lado a experiência - está na sua 11ª grande volta (só não terminou duas) - conhecendo bem o que é necessário fazer para aguentar uma terceira semana duríssima. João Almeida é um estreante nestas andanças.

Kelderman tem companheiros quase todos escolhidos para estar no seu apoio e Jay Hindley esteve fenomenal este domingo e até já é terceiro na geral, a 2:26 de Almeida. A Deceuninck-QuickStep vai tentar que Fausto Masnada esteja bem melhor do que hoje. O português precisa de um bom apoio.

De 56 segundos, o português tem agora apenas 15 de vantagem. Kelderman fez tremer João Almeida, mas não o quebrou. O respeito é grande pelo português e tudo ainda está por decidir.

"Ouvi pelo rádio que o Almeida estava em dificuldades, mas não era suficiente. Ele é muito forte", afirmou Kelderman, mas salientando que a performance deu uma boa dose de confiança para o que falta do Giro: "Sinto-me super forte e a equipa sente-se super forte."

© Tim de Waele/Getty Images/DeceuninckQuickStep
Custou, mas aguentou

Aquela última subida de Piancavallo, 15 quilómetros com 9% de média, sabia-se que ia ser dura. Esperava-se ataques, mas afinal só houve o da Sunweb. Um a um os até agora candidatos foram cedendo. Vincenzo Nibali (Trek-Segafredo) bem tentou mostrar que podiam contar com ele, mas perdeu mais um minuto para Almeida e já está a 3:29. O objectivo de ganhar um último Giro está muito longe de se concretizar e será preciso algo muito especial para dar a volta à situação.

Foi com o aproximar dos sete quilómetros finais que Almeida começou a perder contacto com Kelderman. Hindley esteve fenomenal, há que repetir! O seu líder teve sempre a sua companhia. Parte do plano da Sunweb ficou cumprido. Mas falta chegar ao primeiro lugar.

O director da Deceuninck-QuickStep, Davide Bramati, garantiu que a equipa irá preparar a última semana para tentar ganhar o Giro. Ficar apenas na expectativa poderá ser perigoso para João Almeida. Este domingo sofreu bastante. Chegou à meta após os 185 quilómetros exausto, mas valeu a pena.

Quem não manteve a camisola foi Ruben Guerreiro. O ciclista da EF Pro Cycling não entrou na fuga e Giovanni Visconti (Vini Zabù-KTM) aproveitou para recuperar a camisola azul da montanha. São 31 pontos que separam os ciclistas e haverá muitos em disputa na última semana de corrida.

Já a Ineos Grenadiers está a realizar uma grande volta pouco habitual. Não está na luta pela geral, mas já leva cinco vitórias de etapa. Desta feita foi Tao Geoghegan Hart. O britânico ficou ainda a um segundo do pódio.

Classificações completas, via ProCyclingStats.

16ª etapa (terça-feira): Udine - San Daniele del Friuli, 229 quilómetros

Já se viu neste Giro no que este tipo de etapa, ao estilo de uma clássica, pode acontecer. Será um sobe e desce constante e haverá rampas complicadas. Perto do final, uma terá 16%. Falta saber se os adversários do português vão esperar pela alta montanha, ou se podem tentar surpreender logo no regresso da folga.

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