22 de outubro de 2020

A importância da força mental

© Team Jumbo-Visma
A força psicológica de um atleta, seja em que modalidade for, tem uma influência profunda no sucesso que possa ter. Muitas promessas não passam disso mesmo e, por vezes, a questão mental tem o seu papel. Também já aconteceu o contrário. Serem atletas com menor fulgor nos tempos de formação, mas com a evolução, com a ajuda de uma boa mentalidade e/ou acompanhando psicológico, tornam-se atletas de referência. Na Vuelta há, ou havia, dois casos diferentes. Um já abandonou.

Primoz Roglic é o exemplo de como uma mente forte ajuda a colocar um ciclista no topo. Thibaut Pinot é o exemplo de como quando não se está bem, não se consegue ir buscar qualquer motivação por si próprio. Foram dois anos a recuperar este francês para que pudesse atingir as expectativas criadas no seu país, para que soubesse lidar com essa pressão, principalmente na Volta a França. Porém, em 2020 há um novo retrocesso.

Pinot abandonou a Vuelta, não partindo para o terceiro dia. Tinha avisado que ainda não estava bem das costas. O problema surgiu no primeiro dia do Tour, quando sofreu uma queda. Foi quase um fantasma na Volta a França e na Vuelta começou logo a perder 25:19 minutos em duas etapas. Desde aquele 29 de Agosto que Pinot é um homem derrotado. Manteve-se no Tour apesar de não estar bem, mas nem se percebeu bem porquê. Nada fez e aparentemente nem conseguia fazer. Nem lutar por uma etapa.

No Twitter surgiu uma mensagem de um adepto espanhol de ciclismo que questionava porque razão as equipas enviaram à Vuelta corredores que não estão em condições. No caso de Pinot a questão coloca-se de facto. Se não está bem fisicamente, para quê sujeitá-lo a este embaraço de abandonar ao terceiro dia, depois de dois para esquecer. Pinot não precisava disto, se o problema das costas de facto persiste.

Enquanto a Pinot poderá fazer bem a longa pausa que se segue até 2021, Primoz Roglic precisou de poucas semanas para se recompor da desilusão do Tour. Seria compreensível se se mantivesse discreto depois de perder a Volta a França naquele contra-relógio final. Pelo menos até ao fim do ano. Mas não. Entrou na Vuelta a não perder tempo para mostrar que está forte. A desilusão será difícil de esquecer, mas faz parte do passado. Roglic quer mais e quer mais já, em Espanha, onde venceu em 2019, já liderando em 2020. Grande atitude. É de um verdadeiro vencedor e de alguém que transmite confiança e motivação aos companheiros da Jumbo-Visma.

Outro exemplo pode ser Daniel Martin. Carreira de altos e baixos deste irlandês. Quando está bem, está mesmo bem. Mas tem problemas em lidar com os piores momentos. Tem, no entanto, a característica de ser um ciclista que não gosta de atirar a toalha ao chão. Tenta perceber o que está mal e mudar para melhor.

Teve uma passagem infeliz pela UAE Team Emirates. Dois anos, durante os quais pareceu não encaixar na equipa, apesar de até ter ganho uma etapa no Tour. Mudou para a Israel Start-Up Nation, podendo aí ser líder sem tanta concorrência (pelo menos para já). Foi preciso esperar dois anos, mas venceu novamente numa grande volta, ao ser o mais forte na terceira etapa da Vuelta (Lodosa - La Laguna Negra de Vinuesa, 166,1 quilómetros). Martin mostra que ainda tem algo para dar.

Tão importante como ganhar a tirada, aos 34 anos o irlandês está a recuperar aquela sua versão, que sempre sonhou pelo menos com um pódio. A Vuelta é difícil, mas, lá está: quando Martin está bem, está mesmo bem. A ver se consegue manter o bom momento até à 18ª etapa final. Está a cinco segundos de Primoz Roglic.

Classificações completas, via ProCyclingStats.

4ª etapa (23 de Outubro): Garray. Numancia - Ejea de los Caballeros, 191,7 quilómetros

Ao quarto dia, não haverá montanha! Mas não se espere que seja uma etapa para descansar. Nem seria uma tirada da Vuelta se assim fosse. Caso o vento marque presença, será preciso muita atenção. Com a vontade que muitos dos candidatos têm demonstrado em impor ritmos altos, há equipas que sabem bem como colocar em prática os famosos "abanicos" e gerar o caos.

Os sprinters é que não podem desperdiçar as oportunidades. Não são muitas, porque as etapas para eles também não abundam. Espera-se um frente-a-frente entre Pascal Ackermann (Bora-Hansgrohe) e Sam Bennett (Deceuninck-QuickStep), mas Matteo Moschetti (Trek-Segafredo) é um jovem talento que vai tentar intrometer-se na luta, tal como Jasper Philipsen (UAE Team Emirates).

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