© Team Jumbo-Visma |
Com o calendário em tempo de pandemia a forçar que grandes provas coincidam, o que mais desiludiu na Volta a Flandres foi não ser possível assistir a toda, como este monumento merece, com ou sem estes dois excelentes ciclistas. Mas foi possível ver a parte mais importante, pelo que não ficou tudo perdido.
Os 243,3 quilómetros do último monumento do ano - não haverá Paris-Roubaix - ficaram marcados pela ausência de público nas principais subidas. Desolador! Apenas se pôde imaginar como seria uma autêntica loucura quando os adeptos vissem os dois rivais sozinhos na frente.
A corrida também ficou marcada pelo choque de Julian Alaphilippe contra uma moto da organização, que o tirou da prova e terminou com a sua temporada da pior forma. Dois dedos partidos na mão direita, foi o resultado da aparatosa queda na sua estreia na corrida. A moto estava a reduzir a velocidade para deixar passar o trio da frente. Van Aert e Van der Poel desviaram-se, Alaphilippe viu tarde de mais o obstáculo. Resta ao campeão do mundo ter ficado a saber que também se adapta aos muros em empedrado da Flandres.
Porém, quis o destino que Van der Poel (Alpecin-Fenix) e Van Aert (Jumbo-Visma) tivessem o seu primeiro grande frente-a-frente no palco em que ambos mais queriam brilhar. Um holandês e um belga. A Flandres tem algo de especial para os dois.
Van Aert já tem um 2020 para recordar, com seis vitórias, que incluem o seu primeiro monumento: a Milano-Sanremo. Van der Poel também lá esteve, mas não conseguiu estar na luta final. O holandês andou mais discreto este ano, mas foi mostrando durante Setembro que a sua forma estava a melhorar. Quatro vitórias em 2020 e num Fevereiro que parece tão longínquo, não se esquecerá como esteve na Volta ao Algarve, ainda que tenha vindo para preparar a época e não tentar vitórias.
Para Van der Poel, muito da temporada (mesmo quase tudo), jogava-se na Flandres. Van Aert "apenas" queria reforçar o excelente 2020. Sem Alaphilippe - foi o francês que lançou o ataque que acabaria por formar o trio na frente -, os dois rivais tiveram de colaborar para garantir que mais ninguém se intrometeria entre eles.
Até aquela fase da corrida, a expectativa era enorme. O ambiente estava bem quentinho. Não na meteorologia, mas na troca de palavras entre ambos, que faz prever que só se está mesmo no início de uma rivalidade intensa, mais do que no ciclocrosse, até pelo peso que a estrada tem no mundo do ciclismo.
Desde a Gent-Wevelgem que "as coisas aqueceram" muito. Van Aert até ganhou... na luta pelo oitavo lugar. Contudo, era ali, na Flandres que mais se queria a maior das vitórias! Aquele último quilómetro foi de grande tensão. Van der Poel à frente, sempre a olhar para um Van Aert atento a um possível ataque do rival.
E foi mesmo o holandês que lançou o sprint. Terminou assim (ver fotografia em baixo).
Van der Poel não escondeu a emoção. Tal como aconteceu na Amstel Gold Race, no ano passado, venceu uma corrida que também o pai, Adrie van der Poel, havia conseguido, em 1986. Mas a Flandres é um monumento. Mathieu começa a colocar o seu lugar na história das principais provas do ciclismo mundial.
Van Aert, mais do que desiludido, era um homem chateado. Percebe-se. É sempre mais difícil perder para um rival, tendo em conta o passado entre ambos. Mas, há algo muito importante numa rivalidade: respeito. Mal cortou a meta, Van Aert cumprimentou o seu adversário e ambos repetiram o gesto no pódio.
Agora que venha 2021, com as corridas no seu calendário normal. As clássicas, principalmente as do pavé, vão ser quentinhas, quentinhas!
Aqui fica o sprint da Volta a Flandres, para ver e rever. E neste link pode ver as classificações completas, via ProCyclingStats.
Can't stop watching this sprint. #RVV20 pic.twitter.com/F8BhF3SUoe
— Cyclocross24.com (@cyclocross24) October 18, 2020
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