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São bem conhecidas as limitações na formação nacional e o ciclismo está longe de estar só nos problemas existentes em praticamente todas as modalidades. Tantas vezes se ouve que é por carolice que alguns projectos se mantêm vivos. Mas, é mais do que isso. É o gosto pela modalidade, é o gosto por dar a mão a jovens que não vêem o futebol como a única escolha.
Cadetes, juniores e mesmo os sub-23 vão sobrevivendo devido à persistência de pessoas dedicadas à modalidade, sem esquecer o trabalho feito a nível de selecções, que têm tido um papel importante em dar experiência aos ciclistas nas principais provas internacionais para o escalão.
Faltam melhores condições, faltam corridas por cá, mas o nosso país tem criado campeões. Muitos são os potenciais vencedores que ficam pelo caminho devido aos problemas estruturais que o nosso desporto vive. Já muito melhorou, é certo, mas é preciso muito mais, e os problemas arrastam-se ano após ano.
Na entrada do século XXI, talvez até um pouco antes, assistimos a uma mudança de mentalidade. Temos visto como jovens ciclistas nem chegam à elite nacional porque nem sequer ambicionam a tal. Sabem que para chegaram ao topo, ao World Tour, o melhor caminho é feito lá fora. Contudo, há quem seja exemplo de como o estrangeiro nem sempre significa que tudo é bom.
João Almeida e Rúben Guerreiro fizeram escolhas correctas e certamente tiveram ao seu lado quem os ajudou a tomar essas decisões e a encontrar boas soluções para o futuro. Tiveram ainda a força mental para enfrentar o desafio de, ainda muito jovens, terem de viajar e passar muito tempo longe de casa.
João Almeida saltou dos juniores directamente para o estrangeiro quando subiu a sub-23. Guerreiro ainda começou esse escalão por cá, antes de se mudar para a então Axeon Hagens Berman, para onde Almeida eventualmente também foi, sem que se tenham cruzado. Os gémeos Oliveira seguiram o exemplo de Guerreiro, sendo que também já chegaram ao World Tour, estando na UAE Team Emirates, ao lado de Rui Costa, o nosso campeão do mundo (2013).
André Carvalho também está na mesma equipa americana e este ano juntou-se Pedro Andrade. Iúri Leitão mudou-se para a espanhola Super Froiz - que bem tem estado nos Europeus de pista de sub-23, já com duas medalhas de prata conquistadas pela selecção nacional -, com Diogo Barbosa a optar também por fazer a sua formação de sub-23 neste país, mas na estrutura dedicada a este escalão da Caja Rural, tendo a perspectiva de um dia subir à equipa principal. Daniel Viegas fez esse caminho na actual Kometa-Xstra, onde entrou para os sub-23 e está agora na de elite, aos 22 anos.
Viegas fez uma dupla terrível nos juniores com João Almeida. Ganhavam tudo, à vez. Chega a um ponto que não conta só as equipas para onde se vai, para se ter sucesso, mas também a forma como se evoluiu como atleta.
Após uma semana de camisola rosa na Volta a Itália, naquela que é a sua primeira grande volta, no seu ano de estreia no World Tour - na Deceuninck-QuickStep, uma das melhores equipas mundiais -, Almeida é o mais recente exemplo de como em Portugal muito se tem de lutar para colocar um atleta de qualidade no lugar que merece. Mas, lá se vai conseguindo e, quando isso acontece, é sempre um sentimento especial.
Sentimento esse reforçado por ver Rúben Guerreiro ganhar uma etapa no Giro, ele que este ano representa a EF Pro Cycling. Ambos os ciclistas fizeram recordar os feitos de Acácio da Silva, o português que vestiu de rosa e venceu etapas no Giro, no final dos anos 80.
Não é expectável que tudo melhore de um momento para o outro na formação nacional, seja no ciclismo, seja noutras modalidades, mesmo quando surge um atleta vencedor. Contudo, espera-se que estes resultados continuem a fazer acreditar quem muito dá para que os jovens possam construir o seu caminho e, pelo menos, ter uma oportunidade de chegar longe. De chegar ao topo.
»»Rúben Guerreiro juntou-se a João Almeida e este domingo foi histórico««
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