© Stuart Franklin/Getty Images/Deceuninck-QuickStep |
Não é incomum haver alianças entre ciclistas de diferentes equipas, seja por serem ex-colegas, por amizade, por serem compatriotas e neste caso até são os dois últimos exemplos. Esta aliança teve na 12ª etapa a primeira expressão mais notória, sendo um aviso aos adversários. Já não bastava João Almeida continuar a apresentar-se forte e a Deceuninck-QuickStep estar a trabalhar muito bem, agora há mais um ciclista para ajudar. Alguns dos rivais, nem conseguem ter garantias que toda, ou pelo menos a maioria da equipa os apoie como é necessário.
Os 204 quilómetros que começaram e terminaram em Cesenatico, terra do inesquecível Marco Pantani, prometiam mais espectáculo do que se assistiu. O constante sobe e desce deixava antecipar um dia ao estilo de terça-feira e o próprio Almeida esperava uma etapa de muito trabalho. E foi, mas não aquele mais expectável.
Os ataques foram poucos, a táctica da NTT acabou por não resultar e o grande adversário foi mesmo o ritmo elevado e o mau tempo. O frio e a chuva regressaram em pleno! Há que se tirar o chapéu a Domenico Pozzovivo e à NTT. Pelo menos tentaram algo. Não funcionou, mas o ritmo imposto partiu o pelotão e meteu todos os candidatos em sentido. Na hora H, Pozzovivo não conseguiu atacar com a força que queria. E, pelo sim, pelo não, surgiu Guerreiro na protecção a Almeida.
Estávamos na última subida do dia e chegado ao topo (era uma quarta categoria) ainda haveria pela frente cerca de 30 quilómetros mais planos, que nada beneficiariam Pozzovivo. O pequeno italiano tentou ganhar alguma vantagem na inclinação final, com Almeida a manter-se atento à roda do adversário. Já Guerreiro até pareceu querer convencer o seu compatriota a contra-atacar. Almeida optou por uma postura mais conservadora. Aproxima-se um fim-de-semana difícil e todas as forças poupadas poderão ser importantes para chegar ao segundo dia de folga de rosa. Que história está Almeida a fazer nesta sua estreia numa grande volta.
Se Guerreiro continuar no Giro na última semana - e já se explicará o que se passa -, nas etapas de montanha poderá ser um elemento importante, pois a Deceuninck-QuickStep está dependente de um James Knox, que faz parte das subidas mais longas com o português, mas depois começa a ceder. E depois há Fausto Masnada. O italiano deverá receber ordens para se sacrificar pela liderança de Almeida, mas também quererá um top dez. Não fará mal nenhum se Guerreiro der uma ajudinha.
Claro que Guerreiro tem de cumprir com os seus compromissos e os da sua equipa. A EF Pro Cycling quer manter a liderança na montanha do português e lutar por mais uma etapa está igualmente nos planos. Mas Ruben Guerreiro não estará sempre nas fugas na terceira semana. Quando não estiver e as pernas o permitirem, Almeida terá um aliado, pois Guerreiro está cada vez melhor nas subidas mais difíceis. O cumprimento entre ambos no final da etapa de hoje é o sinal claro da união, muito bem-vinda neste sonho rosa de João Almeida.
EF Pro Cycling pediu para Giro terminar após este domingo
Depois dos casos positivos que levaram à saída da Mitchelton-Scott e Jumbo-Visma e ainda de Michael Matthews, da Sunweb, esta quinta-feira foram 17 polícias a serem colocados de quarentena. Os agentes acompanhavam o evento paralelo da Volta a Itália, o E-Giro, ou seja, bicicletas eléctricas. Testaram positivo e assustaram ainda mais o pelotão.
Thomas de Gendt (Lotto Soudal) disse que cresce o sentimento de insegurança e que até já foi discutido se deveriam prosseguir na competição. Já Peter Sagan (Bora-Hansgrohe) não hesita em dizer que havendo corrida, vai continuar.
A EF Pro Cycling foi mais radical. Escreveu à UCI, organismo que tutela o ciclismo mundial, a pedir para que a Volta a Itália terminasse no segundo dia de descanso, ou seja, domingo seria a última etapa. Considera que seria melhor assim, do que as equipas irem saindo, se houver mais casos positivos, segundo divulgou o Eurosport. A UCI respondeu não. O Giro continua além de segunda-feira. Pelo menos assim se espera.
Alguns ciclistas têm apontado falhas na bolha da corrida, como por exemplo nos hotéis onde ficam. Mesmo separados, há mais pessoas hospedadas e utilizar a mesma sala para o pequeno almoço, por exemplo. Nem todas fazem parte da corrida. O próprio director da corrida, Mauro Vegni, já expressou preocupação, principalmente depois dos testes positivos na segunda-feira.
Aproxima-se o segundo dia de descanso e o nervosismo cresce. A EF Pro Cycling avisou: se tiver um caso positivo, segue o exemplo da Jumbo-Visma e retira-se de imediato da Volta a Itália.
Ineos Grenadiers com terceira vitória
Depois da desilusão de ver Geraint Thomas abandonar muito cedo na corrida, a Ineos Grenadiers não sairá de Itália tão desiludida e derrotada como aconteceu no Tour. Depois de duas vitórias de Filippo Ganna, que também já liderou até João Almeida ficar com a rosa no final da terceira etapa, foi Jhonatan Narváez a conquistar um triunfo numa etapa. Imitou Ganna que também venceu ao integrar uma fuga e atacando mais tarde para uma vitória solitária (a primeira foi no contra-relógio inaugural).
Desta feita Narváez acabou por beneficiar de um furo de Mark Padun. O ucraniano da Bahrain-McLaren bem tentou recuperar o seu lugar na frente da corrida, mas teve de se contentar com o segundo lugar.
O grupo de candidatos, liderado por Patrick Konrad (Bora-Hansgrohe), Ruben Guerreiro e João Almeida, cortou a meta a 8:25 minutos. Na geral nada mudou. Wilco Kelderman (Sunweb) continua a ser quem está mais próximo do português da Deceuninck-QuickStep, a 34 segundos.
Classificações completas, via ProCyclingStats.
13ª etapa: Cervia - Monselice, 192 quilómetros
Apesar do terreno plano em grande parte do percurso, as duas últimas subidas poderão desanimar alguns sprinters e dar ideias a alguém que queira tentar algo antes do contra-relógio de sábado. É uma boa etapa para todos os interesses, mas principalmente para os de Peter Sagan, se o eslovaco quiser tentar reduzir um pouco a diferença para Arnaud Démare (Groupama-FDJ) na luta pela classificação dos pontos.
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