15 de outubro de 2016

"Na Katusha gostaria de ter liberdade numa ou noutra corrida"

José Gonçalves vai finalmente para o World Tour. A Katusha de José Azevedo - um dos directores desportivos - ofereceu-lhe um ano de contrato e o ciclista de Barcelos considerou que aos 27 anos era altura de dar o salto, depois de quatro no estrangeiro, mas numa equipa Continental (La Pomme Marseille) e depois numa Profissional Continental (Caja Rural). "Vai ser um ano diferente. Espero fazer uma boa época - até porque só tenho um ano de contrato - para renovar pela equipa ou para, talvez, ir para outra. Seria bom que as coisas corressem bem, que não sofra quedas, nem nada", salientou ao Volta ao Ciclismo.

O ciclista português é conhecido por ser um homem de ataque. "Amarrá-lo" a um líder, obrigando-o a ter constantemente um papel de gregário é algo que não lhe assenta, apesar de o cumprir à risca sempre que o tem de fazer. Tanto na equipa francesa como na espanhola, José Gonçalves foi tendo liberdade para se mostrar, para atacar, para procurar vitórias, tornando-se assim um dos ciclistas do pelotão que se espera sempre algo inesperado. A Volta a Espanha de 2015 foi a prova disso e foi aí que mostrou definitivamente a sua qualidade ao mundo World Tour.

Ainda assim, ficou mais um ano na Caja Rural e conquistou a sua primeira grande vitória da carreira numa prova por etapas, ao vencer a Volta à Turquia e nessa altura tornava-se quase inevitável que José Gonçalves assinasse por uma equipa do World Tour. Porém, sabe que terá de fazer mais vezes o papel de gregário e controlar o seu ímpeto de ciclista de ataque. "Na maior parte das provas estarei a trabalhar para os meus futuros companheiros de equipa. Mas gostaria de ter liberdade numa ou noutra corrida para tentar fazer algo", admitiu.

"Com um circuito plano estão em Doha os melhores sprinters do mundo e eu não sou propriamente um sprinter. Se fosse uma chegada mais dura, poderia fazer alguma coisa"

Porém, antes de se concentrar na Katusha, José Gonçalves é um dos representantes portugueses nos Mundiais do Qatar, ao lado de Nelson Oliveira e Sérgio Paulinho. Depois da desilusão de não ter sido convocado para os Jogos Olímpicos, o ciclista esteve nos Europeus e recebeu esta chamada para Doha, No entanto, comparando percursos, o do Rio de Janeiro era muito mais ao seu jeito. "Com um circuito plano estão em Doha os melhores sprinters do mundo e eu não sou propriamente um sprinter. Se fosse uma chegada mais dura, poderia fazer alguma coisa. Assim, tentarei fazer o meu melhor", referiu.

José Gonçalves esteve no Festival de Pista de Tavira
E será que vamos ver um José Gonçalves ao ataque para tentar surpreender os sprinters? "Vamos ver como estarei fisicamente e como as coisas de desenrolam. Nos Europeus ressenti-me na parte final da fadiga muscular [que levou à desistência na Vuelta]. Descansei antes de começar a treinar mais forte para ver se nos Mundiais as coisas correm um pouco melhor do que nos Europeus [foi 68º a 3:43 do vencedor Peter Sagan]".

José Gonçalves realçou que até pode parecer fácil competir num percurso plano, mas em Doha há o calor e o vento que tornam as coisas complicadas durante 257,5 quilómetros, como afirmou. "O calor vai ser muito, mas acho que estarei preparado e tentarei fazer o meu melhor", disse.

Pontos altos e baixos de 2016

A Volta à Turquia foi, sem dúvida o melhor momento de 2016 para José Gonçalves e um dos melhores da carreira, mas depois da Volta a Portugal nem tudo tem corrido bem para o ciclista de Barcelos. "Até àquele momento tinha três vitórias e claro que a Volta à Turquia foi um grande triunfo como profissional. Mas a Volta a Portugal também correu bem [venceu uma etapa]", destacou.

José Gonçalves admitiu que não pensava que pudesse ganhar a Volta à Turquia, "num primeiro momento". "Com o passar dos dias vamos vendo os adversários e percebendo que estamos mais fortes do que eles e que podemos vencer a prova", contou. O colega da Caja Rural, David Arroyo, foi segundo a 18 segundos e em terceiro ficou Nikita Stalnov, da Astana, a 56 segundos.

"[A Volta a Espanha] era a corrida mais importante para mim e para a equipa e não consegui fazê-la"

No entanto, quando soube que tinha de ficado de fora dos seleccionados para os Jogos Olímpicos, José Gonçalves nunca escondeu a desilusão. "Nessa fase, que foi na altura da Volta a Portugal, acho que estaria bem, mas são opções, como agora para os Mundiais em que fui chamado." Além da ausência dos Jogos, a desistência da Volta a Espanha também marcou negativamente o ano: "Era a corrida mais importante para mim e para a equipa e não consegui fazê-la." Depois de em 2015 ter sido uma das figuras da prova, estando perto de conseguir uma vitória de etapa, este ano a fadiga muscular fez com que abandonasse à 11ª etapa.

Falta um capítulo para fechar a temporada que, na generalidade, José Gonçalves considera ter sido boa. O ciclista pode ter adoptado um discurso mais conservador quanto aos Mundiais, mas sabendo a forma como gosta de competir, se sentir bem fisicamente, o português irá tentar mostrar-se no domingo, pois baixar os braços não faz parte da sua personalidade.

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