22 de novembro de 2016

Movistar. Um exemplo de como uma verdadeira equipa mantém-se unida e a ganhar apesar dos maus momentos

(Fotografia: Facebook Movistar)
A Movistar acabou o ano em grande com uma excelente vitória de Nairo Quintana na Volta a Espanha. Uma demonstração de talento, qualidade e inteligência que o colombiano não tinha conseguido mostrar no Tour. Porém, o ano da Movistar teve momentos de verdadeiro pesadelo, mas Eusebio Unzué, o director desportivo, soube manter esta equipa unida e concentrada nos seus objectivos e só, por isso, já merecia um lugar de destaque. No entanto, a prova como esta formação espanhola reage às adversidades está nos resultados que a colocaram mais uma vez como a número um do ranking World Tour.

Era o ano do “sueño amarillo” de Nairo Quintana. Tudo pela Volta a França. Mas muito antes de sonho se tornar um pesadelo, a Movistar começou logo a viver um em Janeiro quando Adriano Malori foi de cabeça ao chão no Tour de San Luis, na Argentina. O italiano esteve em coma induzido e mesmo quando se ultrapassou a pior das expectativas, muito se duvidava se Malori voltaria a competir. A 9 de Setembro, no Grande Prémio do Quebéque lá estava ele. Uma recuperação extraordinária. O azar infelizmente perseguiu Malori: 19 dias depois caiu na Milano-Torino e partiu a clavícula.

Ainda a Movistar tentava recuperar psicologicamente do acidente de Malori – na altura pensou-se que falharia pelo menos a restante temporada se voltasse a competir – foi a vez de Francisco Ventoso tornar-se na voz da revolta contra a experiência então em vigor dos travões de disco. No Paris-Roubaix, o espanhol ficou envolvido numa queda na qual alguns ciclistas tinham bicicletas com os referidos travões. Ventoso ficou com um corte impressionante na perna. Numa carta aberta publicada, o espanhol falou dos perigos e apelou para que os travões de disco não fossem utilizados. A experiência foi suspensa (irá voltar em 2017). Ventoso voltou à competição quase um mês depois.

  • 1º lugar do ranking World Tour com 1471 pontos
  • 36 vitórias (12 no World Tour, incluindo uma etapa nas três grande voltas e a geral na Vuelta)
  • Alejandro Valverde e Nairo Quintana foram os ciclistas com mais vitórias: 7 cada um


E para terminar o ano, José Joaquín Rojas caiu na 20ª etapa da Vuelta e partiu uma perna. Apesar de não ter competido mais, o espanhol está a recuperar bem e vamos vê-lo em 2017 como um dos importantes homens de trabalho para Nairo Quintana.

Voltando ao “sueño amarillo” do colombiano. O ciclista preparou toda a temporada a pensar no Tour, passando muito tempo em treino de altitude na “sua” Colômbia, somando pouco dias de competição. Foram 74 no total, mais de metade passados no Tour e na Vuelta. A forma como escolhe as provas é perfeita, pois se compete é para ganhar: foi terceiro em San Luis (a vitória ficou para o irmão, Dayer), primeiro na Catalunha, terceiro no País Basco, primeiro na Romandia e Route du Sud. Só nos campeonatos nacionais (quarto) e no Grande Prémio Miguel Induráin (não terminou) ficou fora do pódio. Impressionante.

Ganhar a Volta a França é a grande obsessão da carreira de Quintana, mas se este é um pesadelo que fisicamente não deixou marcas, psicologicamente foi muito doloroso para o colombiano ser tão dominado pela Sky e terminar no terceiro lugar atrás o rival Chris Froome, sendo ainda ultrapassado por Romain Bardet (AG2R).

Mais uma vez a Movistar revelou como um momento mau pode ser transformado em força e motivação. Quintana chegou à Vuelta um ciclista transformado, mais próximo daquele que conhecemos e venceu a prova com autoridade à frente de Chris Froome, que se rendeu ao colombiano com uma das imagens do ano, ao aplaudir Quintana quando cortou a meta na penúltima etapa.

Seria impossível falar da Movistar sem falar de Alejandro Valverde. Mas que temporada louca do espanhol. Aos 36 anos participou nas três grandes voltas – já avisou que não o voltará a fazer – e foi terceiro na sua estreia no Giro (venceu uma etapa), sexto no Tour e 12º na Vuelta, não esquecendo que nas últimas duas foi um importante gregário para Quintana. Ganhou a Ruta del Sol e foi ganhar a sua querida Flèche Wallonne pela quarta vez, terceira consecutiva, depois de conquistar a Volta a Castela e Leão. E só para terminar, um sexto lugar na Lombardia e uma renovação de contrato até 2019. Fica a sensação que a idade não pesa (muito) em Valverde e que lhe esperam ainda umas vitórias importantes.

De quem também se espera muito é de Nelson Oliveira. O ciclista português teve uma primeira temporada na Movistar extremamente positiva. Não foi feliz na época das clássicas, com uma queda no Paris-Roubaix a prejudicar-lhe essa fase do ano. Porém, ganhou a confiança de Unzué e Quintana para ser um dos seus homens de confiança e cumpriu à risca o seu trabalho no Tour. As coisas podem não ter corrido bem na Volta a França para a equipa, mas Nelson Oliveira esteve em destaque, não só pelo que fez em prol de Nairo Quintana, mas também pelo terceiro lugar no contra-relógio, sendo apenas batido por Tom Dumoulin e Chris Froome.

A Movistar é das equipas que mais trabalha esta especialidade do ciclismo, pelo que Nelson Oliveira está a continuar a progredir. Além deste terceiro lugar, foi quarto nos Europeus (ganhos pelo colega Jonathan Castroviejo) e sétimo nos Jogos Olímpicos, além de ser campeão nacional pela quarta vez. Os Mundiais não correram tão bem – o calor e o percurso plano não o beneficiaram – sendo 20º classificado.

Porém, em 2017, Nelson Oliveira deverá voltar a ter o seu momento de liberdade em algumas clássicas e a ver vamos até onde vai esta evolução no contra-relógio, não havendo dúvidas que a Movistar aposta forte no português.



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