(Fotografia: Facebook Fabian Cancellara) |
Fabian Cancellara retirou-se. Teve direito a uma festa de despedida, com seis mil pessoas a marcarem presença. Não foram mais porque não havia espaço. Alguns dos melhores ciclistas não faltaram. Ali, no velódromo de Gent, Cancellara mostrou-se por uma última vez como profissional. Bom, já com uns quilos a mais, como o próprio admitiu, mas depois daquelas pedaladas começou uma nova fase na vida do suíço e uma nova era no ciclismo. Se calhar, para muitos, este abandono só se tornará real em 2017. Agora são palavras, festas, mas quando a Volta a Flandres arrancar, ou o Paris-Roubaix - as suas corridas de eleição - e o "Spartacus" não estiver lá, então talvez nesse momento tudo se torne real: um dos melhores classicistas de sempre abandonou o ciclismo e quem ficou a perder foram todos aqueles que adoram a modalidade.
Cancellara marcou de facto uma era nas clássicas, apesar de também ter deixado a sua marca na Volta a França ao vestir a camisola amarela durante mais tempo (29 dias) para um ciclista que não ganhou a competição (além de ter vencido sete etapas). Esse feito é bonito, mas é a Volta a Flandres que sempre mexeu com o suíço. Também o Paris-Roubaix, afinal venceu cada um dos monumentos três vezes - também conta com uma Milano-Sanremo -, mas aquela corrida pela Bélgica será sempre especial para Cancellara. Certamente que terá umas páginas sobre isso na sua autobiografia, apresentada na sexta-feira.
Um contra-relogista exímio, foi quatro vezes campeão do mundo e duas vezes olímpico. E foi assim que escolheu despedir-se. Ao conquistar a medalha de ouro nos Jogos do Rio de Janeiro, Cancellara já nem aos Mundiais foi. Ainda participou numa corrida no Japão, mas já longe de pensar em competir.
Cancellara queria que fosse um ano de despedida memorável. Sonhava conquistar ou a Volta a Flandres ou o Paris-Roubaix, além de vestir a camisola rosa do Giro, o único símbolo de liderança que nunca conseguiu na sua carreira em grandes voltas. No entanto, nenhum desses objectivos foi alcançado, ficando uma vitória na Strade Bianche que o tornou no ciclista com mais vitórias: três em dez edições. Porém, aquela medalha de ouro tornou quase perfeito o ano do adeus.
O velódromo de Gent recebeu a festa de despedida de Cancellara (Fotografia: Twitter Trek-Segafredo) |
Ainda indeciso quanto ao papel que irá desempenhar - não quer ser director desportivo, mas gostaria de trabalhar com os mais jovens -, a verdade é que não ver Cancellara (35 anos) na estrada ou no pavé das "suas" clássicas será estranho. A alcunha de "Spartacus" explica o porquê de ser tão admirado. Mesmo para quem não seja fã, é impossível não pensar que sem o suíço as corridas serão diferentes. Faltará aquele lutador, aquele ciclista que tinha tanto de imprevisível como de explosivo, aquele ciclista que em 2010 fez 48 quilómetros sozinho para vencer o Paris-Roubaix... Podem dizer que tinha um motor na bicicleta, Cancellara até se ri, mas foi daqueles momentos que nunca será esquecido, tal como o nome de Fabian Cancellara.
A nova geração está aí e com ciclistas que provavelmente daqui a dez anos poder-se-á estar a dizer que marcaram uma época. Porém, Cancellara, com a "reforma", entra para a lista dos grandes que podemos dizer que vimos (e quem esteve na Volta ao Algarve até teve a oportunidade de o ver de perto e vencer um contra-relógio) e que prevalecerá na memória de todos os que adoram o ciclismo.
Em Gent, seis mil pessoas disseram adeus, com Bradley Wiggins, Sep Vanmarcke, Filippo Pozzato e Frank Schleck, entre outros, a participarem na festa da despedida. Seis mil in loco, mas muitos mais por todo o mundo que, com a ajuda das redes sociais, disseram #ciaofabian.
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