2016 ficará para a história do ciclismo como o ano em que uma equipa africana chegou ao principal escalão da modalidade. O projecto Qhubeka arrancou em 2008 com o objectivo de dar espaço aos ciclistas africanos e também com um lado social de extrema importância que ainda hoje mantém. A formação sul-africana tem activamente procurado fazer chegar bicicletas a muitas crianças e jovens em zonas marcadas por pobreza extrema. Entretanto, na competição, foi subindo de escalão e como Profissional Continental, a então MTN-Qhubeka, demonstrou que era muito mais que um projecto africano. Queria ser um projecto a nível mundial. Pediu a licença World Tour para 2016, surpreendeu ao contratar um dos melhores sprinters, Mark Cavendish, e manteve ciclistas que entretanto já tinha garantido um ano antes, como Edvald Boasson Hagen e Stephen Cummings. Mark Renshaw, Igor Anton, Tyler Farrar são apenas alguns dos ciclistas de qualidade que participaram na transformação desta equipa. E claro, apesar de uma aposta em atletas mais internacionais, manteve no plantel africanos, com destaque para Daniel Teklehaimanot, Natnael Berhane e Merhawi Kudus.
Mark Cavendish era, naturalmente, a grande estrela da equipa e do britânico esperava-se muito. Mas mesmo muito, dado o esforço financeiro que a agora Dimension Data fez para o contratar, numa altura em que a Etixx-QuickStep o tinha “trocado” por Marcel Kittel. Cavendish até começou bem na Volta ao Qatar ao vencer uma etapa e a geral, mas depois foi uma longa espera com muitas dúvidas a surgirem sobre se o sprinter ainda tinha algo para dar. As críticas subiam de tom com a obsessão do britânico em dividir a época de estrada com a pista, na tentativa de estar nos Jogos Olímpicos. Foi preciso esperar por Abril até que Cavendish finalmente voltasse a vencer, desta feita uma etapa na Volta à Croácia.
- 18º lugar no ranking World Tour com 290 pontos
- 33 vitórias (7 no World Tour - 5 na Volta a França)
- Mark Cavendish foi o ciclista com mais vitórias: 10 (4 na Volta a França)
Acabado aos 31 anos? Estaria a concorrência simplesmente a deixá-lo para trás? A resposta veio na Volta a França. Chris Froome ganhou, Peter Sagan foi a estrela do costume, mas Mark Cavendish foi uma das grandes figuras. Quatro vitórias de etapa, vestiu a camisola amarela que sempre tinha sido um dos objectivos da carreira e principalmente deixou a mensagem a Kittel, Greipel e aos restantes rivais: “Estou de volta!” Dez vitórias na temporada, o problema para a equipa é que apenas as da Volta a França davam pontos para o ranking World Tour. Com Stephen Cummings a também conquistar uma etapa na prova e com Boasson Hagen em destaque em corridas como o Critérium du Dauphiné, a Dimension Data pensava que estaria a ter um primeiro ano de World Tour muito positivo até que surge a mudança de regras para 2018.
A UCI anunciou que no próximo ano apenas daria licenças World Tour a 17 equipas. A Tinkoff e a IAM Cycling já tinham anunciado a despedida, o problema inesperado para a formação sul-africana é que a Bora-Hansgrohe (actual Bora-Argon 18) e a Bahrain-Merida estavam a fazer grandes contratações e a nível pontual ultrapassavam a Dimension Data que estava em último no ranking e com poucas possibilidades de sair dessa posição. Se cumprissem todos os requisitos, quem ficaria de foram seria a formação africana. A alteração das regras do jogo tão tarde na temporada deixou a Dimension Data sem tempo para recuperar. Somou 33 vitórias na temporada. Em qualquer circunstância seria considerada uma boa época, mas apenas oito dos triunfos foram em provas World Tour e com os ciclistas mais propensos em procurar vitórias do que em bons resultados nas classificações gerais, a equipa percebeu que estava com um problema grave.
Surgiram as críticas, as últimas de Mark Cavendish que disse não compreender como um 12º lugar na geral do Tour poderia valer o mesmo que as vitórias que a equipa tinha obtido nas etapas. A Associação Internacional de Equipas de Ciclismo Profissionais entrou em guerra com a UCI, a Dimension Data ameaçou levar o caso para a justiça, a Bahrain-Merida e a Bora-Hangrohe também, isto porque os regulamentos são dúbios e permitem diferentes interpretações. A Dimension Data considerava que com a desistência de duas equipas o seu lugar seria o 16º e não 18º, enquanto as novas candidatas defendiam que o que valia eram os pontos.
A UCI lá voltou a falar com a ASO (que organiza provas como o Tour e o Paris-Roubaix e que tem pressionado para mudanças, tendo dito que retiraria as suas corridas do World Tour se a UCI não fizesse alterações) e terá chegado a acordo para que as 18 equipas que pediram licença para o próximo ano a obtenham, se cumprirem todos os requisitos, independentemente dos pontos que tenham somado.
Um respirar de alívio para a Dimension Data que poderá assim continuar o seu crescimento sustentado e que tem permitido a equipa tornar-se numa referência, sendo um projecto que gera curiosidade para perceber até onde realmente os seus directores querem chegar.
»»Imbróglio legal assusta UCI. 2017 deverá contar com 18 equipas e assim "salvar" a Dimension Data««
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