1 de abril de 2020

A importância da força mental na incerteza de quando regressará a competição

por Sofia Santos

Equipas de clube e Feirense só competiram na Prova de Abertura Região
de Aveiro e na Clássica da Primavera. Em Portugal, as restantes oito equipas
de elite estiveram ainda na Volta ao Algarve
Não, não vamos todos ficar bem nem vamos sair iguais desta pandemia. O que se passa neste momento a nível mundial é um ponto crucial de mudança na humanidade. A questão que se coloca é: mudar para o quê?

Neste momento estamos todos, ou deveríamos estar, a cumprir as normas do governo para nos protegermos a nós e aos outros. Nunca foi tão essencial ficar em casa, isolado, procura distância em vez de um abraço. Para além de todos os infectados, que ainda não sabemos que mazelas terão no futuro, e de todos os mortos que continuaremos a chorar, esta pandemia trás consigo outros infectados... Os infectados pela fome, pelos sonhos destruídos, pelos despedimentos, que irão naturalmente existir, pela falta de trabalho.

Neste momento apela-se a que fiquemos em casa. Os atletas, tal como os demais, estão a cumprir este aviso, muitos colocando em causa a sua carreira. Mas que consequências pode ter o Covid-19 para os mesmos?

Em primeiro lugar, uma questão importante, é a incerteza. A incerteza de continuar a competir, de quando irão as competições recomeçar, se é que a época 2020 sequer se vai realizar e se sim, em que termos. Mas, uma certeza existe, não se pode descuidar o treino pois quando a época chegar, é preciso estar ao nível da competição. Neste momento, existem já algumas datas que dão esperança aos atletas. As datas oficiais dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos foram publicadas e existe mais um ano de preparação para os mesmos.

No entanto, a nível nacional, isso não existe. Não se sabe quando o pelotão irá voltar à estrada, não se sabe como será a época. Mas sabemos que o ciclista não pode ficar no sofá, tem de treinar e manter os seus níveis de desempenho. Aqui surge mais uma das questões que esta pandemia traz. Por um lado, os treinos estão condicionados, mesmo podendo ir treinar para a rua, a motivação de andar nesta é diferente.

Por outro lado, um ciclista vai trabalhando a sua preparação com vista em objetivos concretos e que estão limitados no tempo, tempo esse que agora não existe. É diferente treinar para quando o calendário sem datas começar do que para uma prova daqui a duas semanas. Manter os níveis de motivação para o treino torna-se complicado mas os ciclistas não desistem, muitos são resilientes e adaptam-se às circunstâncias. No entanto, contrariamente a outras situações, aqui não sabemos, ninguém sabe, o que irá acontecer no futuro. Podemos estipular objetivos pessoais que nos motivem, mas não podemos planear uma época, o nosso planeamento é feito dia a dia, momento a momento, sendo o futuro uma incógnita maior que o normal.

Estamos a atravessar uma época de mudança, sem sabermos quando irá realmente a mudança acontecer ou para o que iremos mudar. A incerteza é uma constante e molda o quotidiano de todos. Não podemos combinar um café no meio do treino como ponto de encontro, temos de treinar sozinhos, não conseguimos sequer saber o que irá acontecer nos próximos tempos. 

Isto pode levantar medos, stress, ansiedades com as quais conseguimos ou não lidar. Nem todos estamos sempre bem, neste momento a definição de lidar bem com esta situação é difícil de dizer, é uma coisa muito própria de cada um. Mas, quando sentimos que não estamos a fazê-lo, existe um leque de profissionais que podemos procurar e que irão dar o seu contributo para que cheguemos ao fim disto com saúde mental. E pedir ajuda a um psicólogo é sinal de força e não de fraqueza, é sinal que aceitamos que precisamos de parar e que nos estendam a mão para continuar caminho.

o vamos chegar iguais ao fim desta pandemia como começámos, o mundo vai mudar e teremos de nos adaptar a ele. Felizmente, mesmo neste isolamento não estamos sozinhos.
Fiquem em casa, para que possamos em breve voltar a ver as cores das equipas de ciclismo a inundar de esperança e alegria as estradas portuguesas. Isto vai passar, a uma cadência mais rápida ou mais lenta, mas passará. Juntos faremos a diferença, estando separado por agora!

Sofia Santos, formada em Psicologia pela Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa, aficionada pelo ciclismo. Costuma galgar as estradas portuguesas atrás, frente ou no meio do pelotão mas irás encontrá-la mais facilmente no velódromo às voltinhas pela pista. Psicóloga de profissão, seguidora de ciclismo por paixão e de momento, super-heroína do sofá de onde sai quando não há outra solução, por si e por todos!

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