Aos 33 anos, Ricardo Mestre encontrou na W52-FC Porto uma equipa na qual se sente valorizado e motivado para continuar. Também tem a oportunidade de sonhar em competir num escalão superior, caso se concretize a ambicionada subida a Profissional Continental em 2018. Mas até lá, o ciclista que até este ano tinha sido o último português a vencer a Volta a Portugal, quer aproveitar para continuar a realizar um trabalho que lhe dá muito gozo e no qual se sente muito bem: o de gregário. Mestre diz mesmo que não tem saudades de ser o líder de uma equipa.
"Acho que assim acabo por desfrutar muito mais da bicicleta. Não tenho qualquer tipo de pressão e estou confortável neste tipo de papel [de gregário]. Foi um trabalho que sempre fiz desde muito jovem e em que me sinto à vontade", explicou ao Volta ao Ciclismo. Ricardo Mestre foi um dos ciclistas que participou na vitória de Rui Vinhas na Volta a Portugal, um triunfo que foi o coroar de uma época espectacular para a equipa, no regresso do FC Porto ao ciclismo. "Foi uma temporada bastante positiva em que a equipa ganhou tudo o que havia para ganhar e quando assim acontece só temos de estar satisfeitos", afirmou.
Ricardo Mestre referiu ainda como se sente "bastante bem" na equipa e como foi "acarinhado e valorizado" pelo trabalho que desenvolveu. Motivado, só pensa em manter o seu nível e será novamente uma das peças importantes de uma W52-FC Porto que apostou na continuidade para o próximo ano, mantendo praticamente todos os ciclistas de 2016 e reforçando-se com um amigo de Mestre: Amaro Antunes.
Mas se ainda há todo um 2017 para enfrentar, é impossível não pensar (de vez em quando, pelo menos) no que poderá acontecer em 2018. Com a ambição da equipa em subir ao escalão Profissional Continental, Ricardo Mestre confessa que gostaria de viver esse momento: "Logo se verá... Também se verá como se irá desenvolver a minha carreira, Mas que gostaria de estar presente, lá isso gostaria!"
"Evidentemente que gostaria de ter tido mais sorte na Euskaltel. Fiquei muito contente por ter tido essa experiência. Foi bastante enriquecedora para mim. Foi pena que tenha ficado por aí"
Em 2013, o ciclista português viveu um dos momentos mais marcantes da sua carreira. Conseguiu a oportunidade desejada de competir no World Tour. Foi contratado pela Euskaltel, equipa que naquela altura tinha aberto as portas aos estrangeiros, depois de anos a ser uma formação na qual os ciclistas eram bascos ou tinham alguma ligação familiar basca. No entanto, já eram conhecidas as dificuldades financeiras da equipa e no final daquele ano, a Euskaltel, uma formação histórica do ciclismo, terminou. "Evidentemente que gostaria de ter tido mais sorte na Euskaltel. Foi um ano em que a equipa acabou e não consegui encontrar uma alternativa. Tive de voltar a Portugal", recordou.
Mestre competiu ao lado de ciclistas que ou já eram importantes no ciclismo, como Samuel Sánchez, Igor Anton e Juan José Lobato, ou que eram jovens e que hoje são referências da modalidade, casos de Mikel Landa e Ion e Gorka Izagirre. Teve ainda a oportunidade de participar na Volta a Itália. "Fiquei muito contente por ter tido essa oportunidade [de estar na Euskaltel], essa experiência. Foi bastante enriquecedora para mim. Foi pena que tenha ficado por aí", admitiu. A Efapel recebeu Mestre no seu regresso a Portugal, mas o ciclista no ano seguinte voltou "a casa", representando o Tavira - equipa com que venceu a Volta a Portugal em 2011 - antes de ingressar na W52-FC Porto.
Apesar de não acreditar que volte a ter uma oportunidade de competir no estrangeiro considera que "no ciclismo nacional está algo está a desenvolver-se e seria muito bom que no futuro próximo houvesse uma equipa que subisse de divisão". E claro que esse "algo" acaba por estar também ligado aos regressos do FC Porto e Sporting, que Mestre diz ter "arrebitado um pouco o ciclismo", depois de uma fase de crise, que parece estar aos poucos a ser ultrapassada. "Sabemos que há algumas equipas que continuam com dificuldades, mas isto também pode ser uma motivação para impulsionar mais algumas formações. Esperemos que apareceram mais equipas, pois seria o melhor para o ciclismo", frisou.
Porém, é da opinião que a realidade do ciclismo nacional "não vai mudar de um ano para o outro". "É como tudo na vida: tem os seus ciclos bons e menos bons. Agora esperemos que volte a um ciclo bom." E para que esse ciclo possa ser longo, Ricardo Mestre alerta para a necessidade de apoiar mais as escolas de juniores e cadetes. "É daí que saem os talentos e temos jovens com bastante valor", afirmou.
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