(Fotografia: Patrícia Nunes) |
"O trabalho de gregário é ingrato", desabafou Samuel Magalhães ao Volta ao Ciclismo, acrescentado que a dedicação de um ciclista a este tipo de função "não é vista, as pessoas não olham para isso". É difícil esconder a desilusão pelo momento que vive e até pela modalidade, ainda que saliente que tal aconteça provavelmente pela fase difícil que atravessa. Quando é questionado como é que ficou nesta situação, o ciclista de Aveiro aponta várias razões, mas a primeira é logo uma crítica às preferências nas contratações nas equipas nacionais. "Falo por experiência própria, os directores em Portugal preferem ir buscar um espanhol do que, às vezes, ficar com um português. Cá é assim... São opções para eles, mas não sei se são válidas ou não. Muitas vezes são ciclistas que não vão render nada para a equipa. Se eles acabam por optar assim... não podemos fazer nada", salientou Samuel Magalhães.
Já praticamente sem esperança de conseguir uma equipa para 2017, o corredor disse estar a "tentar seguir com a vida", ou seja, arranjar um emprego "numa fábrica, para já". "Se não é possível viver do ciclismo, tenho de arranjar outras alternativas", afirmou, acrescentando procurar algo que lhe dê alguma estabilidade, pois tem encargos que lhe dão "valentes despesas". No entanto, quer também tentar continuar a treinar e manter a forma. É que apesar de no post do Facebook - no qual anunciou que a equipa Louletano-Hospital de Loulé não iria renovar com ele - ter escrito estar a ponderar abandonar, agora admite que com a idade que tem poderá tentar arranjar equipa para 2018 ou então "criar algum projecto que seja benéfico para todos" e até já falou com um amigo e colega de equipa sobre esta possibilidade.
O problema físico, a humildade e a tristeza
"Tenho 24 anos. O meu sonho sempre foi ser ciclista profissional. Sei que podia ter dado muito mais, mas, infelizmente, as coisas não correm sempre como nós planeamos." Samuel Magalhães fez uma retrospectiva aos dois anos em que esteve em equipas profissionais. No Louletano destacou como começou 2016 com uma tendinite. "Estive quase um mês parado. Depois, ainda não estava a 100%, mas o chefe quis pôr-me a correr e infelizmente foi logo em provas muito duras, como a Volta ao Alentejo", referiu. Samuel Magalhães considera que talvez nunca tenha conseguido ficar a 100% após o problema físico. Ainda assim diz que começou "a andar bem", mas que não teve a sorte do seu lado. "Tive sempre avarias mecânicas ou qualquer coisa que me impossibilitava de estar na discussão de uma corrida ou de chegar à frente."
O ciclista é da opinião que "em Portugal se dá pouco valor" ao trabalho de um gregário. "Sempre consegui ajudar bem a equipa, sempre fiz o meu trabalho, mas nunca consegui reservar nada para mim porque esse trabalho desgastava-me muito", disse, considerando que acabou por ser prejudicado por não ter alcançado resultados individuais de destaque: "O chefe Manuel Correia [director desportivo na sua fase de formação] sempre me ensinou a ser humilde, a ajudar os líderes, que haveria de ter oportunidades. Não tenho problemas com isso. Acho que o ciclismo é um ciclo: os mais novos aprendem com os mais velhos enquanto os ajudam a ter condições para discutir as corridas. Porém, acho que acabei por me 'queimar' um bocado à custa disso. Deixei-me estar a ajudar quando houve corridas que sei que podia ter discutido, tanto no Boavista como no Louletano."
Samuel Magalhães contou que falou com a LA Alumínios-Metalusa-BlackJack, mas não houve acordo. "Não sei se é verdade ou não. São coisas que que eu penso e não digo que seja uma realidade em Portugal, mas se calhar é muita coincidência optarem por ciclistas jovens, que significa gastar menos dinheiro e assim ter possibilidade de contratar um líder. Neste caso, por exemplo, o Edgar Pinto se tiver um salário digno da qualidade dele, é um salário alto e é claro que o dinheiro é pouco e é preciso ir buscar ciclistas de menor valor. Não significa que eu seja caro..." Destacou ainda como alguns corredores não se importam de ganhar menos, exemplificando como muitos jovens vivem com os pais, não tendo encargos, podendo "facilitar para viver o sonho" de ser ciclista.
Apesar das opiniões bastante críticas, não significa que Samuel Magalhães tente colocar a culpa da sua situação apenas em terceiros. O ciclista admitiu que sentiu as diferenças da passagem de uma equipa de formação para uma profissional: "O acompanhamento é diferente. Tu é que tens de te safar. Senti isso. Vinha a trabalhar com o Manuel Correia e ele tinha-me avisado que seria um bocado diferente." Se a sua época no Louletano não foi positiva, já a estreia no Boavista considera "não ter sido má". Recordou como na Route du Sud, em 2015, andou bem - vestiu a camisola de líder da montanha, algo inesperado visto não ser um trepador -, mas depois acabou por desistir. "São coisas que não saem para as pessoas cá fora. É bonito aparecer na televisão, mas há coisas más que acontecem que parecem ser culpa do atleta, mas se calhar não são.... Isto é geral, não é só comigo ou com quem correu comigo. Em geral, nas equipas de ciclismo há problemas que acontecem e o ciclista é que fica mal, quando, na verdade, a culpa não é dele", frisou.
Foi com um tom nostálgico que falou de quando ouvia as pessoas falarem do seu talento e de como tinha um futuro promissor. "Diziam que podia estar num nível superior... Mas não estou... Não sei dizer porquê. Sempre dei o meu melhor, mas as coisas às vezes não saem. Fico triste porque à partida tenho de deixar o ciclismo." Samuel Magalhães considera que "não se dá o benefício das dúvidas" aos atletas: "Tanto somos bons hoje, como amanhã não somos nada."
O ciclista realçou saber do valor que tem e espera que o abandono seja apenas temporário. Depois de como sub-23 ter liderado a Volta a Portugal do Futuro, como júnior ter participado no Paris-Roubaix daquele escalão, além de ter sido presença habitual na selecção nacional, tanto de estrada como de pista, tendo sido campeão nacional de perseguição individual também como júnior, Samuel Magalhães vive o momento mais complicado da carreira. Porém, sendo um ciclista que se descreve como combativo, o atleta ainda não está preparado para atirar a toalha ao chão e quer voltar a viver o sonho da sua vida de ser ciclista profissional.
Já praticamente sem esperança de conseguir uma equipa para 2017, o corredor disse estar a "tentar seguir com a vida", ou seja, arranjar um emprego "numa fábrica, para já". "Se não é possível viver do ciclismo, tenho de arranjar outras alternativas", afirmou, acrescentando procurar algo que lhe dê alguma estabilidade, pois tem encargos que lhe dão "valentes despesas". No entanto, quer também tentar continuar a treinar e manter a forma. É que apesar de no post do Facebook - no qual anunciou que a equipa Louletano-Hospital de Loulé não iria renovar com ele - ter escrito estar a ponderar abandonar, agora admite que com a idade que tem poderá tentar arranjar equipa para 2018 ou então "criar algum projecto que seja benéfico para todos" e até já falou com um amigo e colega de equipa sobre esta possibilidade.
O problema físico, a humildade e a tristeza
"Tenho 24 anos. O meu sonho sempre foi ser ciclista profissional. Sei que podia ter dado muito mais, mas, infelizmente, as coisas não correm sempre como nós planeamos." Samuel Magalhães fez uma retrospectiva aos dois anos em que esteve em equipas profissionais. No Louletano destacou como começou 2016 com uma tendinite. "Estive quase um mês parado. Depois, ainda não estava a 100%, mas o chefe quis pôr-me a correr e infelizmente foi logo em provas muito duras, como a Volta ao Alentejo", referiu. Samuel Magalhães considera que talvez nunca tenha conseguido ficar a 100% após o problema físico. Ainda assim diz que começou "a andar bem", mas que não teve a sorte do seu lado. "Tive sempre avarias mecânicas ou qualquer coisa que me impossibilitava de estar na discussão de uma corrida ou de chegar à frente."
"Sempre consegui ajudar bem a equipa, sempre fiz o meu trabalho, mas nunca consegui reservar nada para mim porque esse trabalho desgastava-me muito"
O ciclista é da opinião que "em Portugal se dá pouco valor" ao trabalho de um gregário. "Sempre consegui ajudar bem a equipa, sempre fiz o meu trabalho, mas nunca consegui reservar nada para mim porque esse trabalho desgastava-me muito", disse, considerando que acabou por ser prejudicado por não ter alcançado resultados individuais de destaque: "O chefe Manuel Correia [director desportivo na sua fase de formação] sempre me ensinou a ser humilde, a ajudar os líderes, que haveria de ter oportunidades. Não tenho problemas com isso. Acho que o ciclismo é um ciclo: os mais novos aprendem com os mais velhos enquanto os ajudam a ter condições para discutir as corridas. Porém, acho que acabei por me 'queimar' um bocado à custa disso. Deixei-me estar a ajudar quando houve corridas que sei que podia ter discutido, tanto no Boavista como no Louletano."
Samuel Magalhães contou que falou com a LA Alumínios-Metalusa-BlackJack, mas não houve acordo. "Não sei se é verdade ou não. São coisas que que eu penso e não digo que seja uma realidade em Portugal, mas se calhar é muita coincidência optarem por ciclistas jovens, que significa gastar menos dinheiro e assim ter possibilidade de contratar um líder. Neste caso, por exemplo, o Edgar Pinto se tiver um salário digno da qualidade dele, é um salário alto e é claro que o dinheiro é pouco e é preciso ir buscar ciclistas de menor valor. Não significa que eu seja caro..." Destacou ainda como alguns corredores não se importam de ganhar menos, exemplificando como muitos jovens vivem com os pais, não tendo encargos, podendo "facilitar para viver o sonho" de ser ciclista.
"Diziam que podia estar num nível superior... Mas não estou... Não sei dizer porquê. Sempre dei o meu melhor, mas as coisas às vezes não saem"
Apesar das opiniões bastante críticas, não significa que Samuel Magalhães tente colocar a culpa da sua situação apenas em terceiros. O ciclista admitiu que sentiu as diferenças da passagem de uma equipa de formação para uma profissional: "O acompanhamento é diferente. Tu é que tens de te safar. Senti isso. Vinha a trabalhar com o Manuel Correia e ele tinha-me avisado que seria um bocado diferente." Se a sua época no Louletano não foi positiva, já a estreia no Boavista considera "não ter sido má". Recordou como na Route du Sud, em 2015, andou bem - vestiu a camisola de líder da montanha, algo inesperado visto não ser um trepador -, mas depois acabou por desistir. "São coisas que não saem para as pessoas cá fora. É bonito aparecer na televisão, mas há coisas más que acontecem que parecem ser culpa do atleta, mas se calhar não são.... Isto é geral, não é só comigo ou com quem correu comigo. Em geral, nas equipas de ciclismo há problemas que acontecem e o ciclista é que fica mal, quando, na verdade, a culpa não é dele", frisou.
Foi com um tom nostálgico que falou de quando ouvia as pessoas falarem do seu talento e de como tinha um futuro promissor. "Diziam que podia estar num nível superior... Mas não estou... Não sei dizer porquê. Sempre dei o meu melhor, mas as coisas às vezes não saem. Fico triste porque à partida tenho de deixar o ciclismo." Samuel Magalhães considera que "não se dá o benefício das dúvidas" aos atletas: "Tanto somos bons hoje, como amanhã não somos nada."
O ciclista realçou saber do valor que tem e espera que o abandono seja apenas temporário. Depois de como sub-23 ter liderado a Volta a Portugal do Futuro, como júnior ter participado no Paris-Roubaix daquele escalão, além de ter sido presença habitual na selecção nacional, tanto de estrada como de pista, tendo sido campeão nacional de perseguição individual também como júnior, Samuel Magalhães vive o momento mais complicado da carreira. Porém, sendo um ciclista que se descreve como combativo, o atleta ainda não está preparado para atirar a toalha ao chão e quer voltar a viver o sonho da sua vida de ser ciclista profissional.
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