© Volta ao Algarve |
Naquela altura, João Rodrigues estava a crescer dentro da equipa. Estava a ser preparado para outros voos. Trabalhava o contra-relógio e aprimorava as suas capacidades na montanha. Era um gregário, mas na W52-FC Porto já era visto como um potencial vencedor. Em 2019, o jovem ciclista que havia dado as primeiras pedaladas no Tavira, afirmou-se definitivamente na equipa nortenha.
Começou por vencer a Volta ao Alentejo. Mas uma vez, custava-lhe acreditar no que havia alcançado, enquanto celebrava em Évora. A sua primeira vitória havia chegado precisamente no contra-relógio que tanto andava a trabalhar e garantiu depois a geral. Não esquecer que estamos a falar de uma corrida que também é de categoria internacional.
Nesse mesmo ano, João Rodrigues acabou a ser o líder na Volta a Portugal. Numa das edições mais disputadas em tempos recentes, mais uma vez foi no contra-relógio, na última etapa, que selou a vitória. Antes subiu a Torre para vencer. Para as equipas lusas, a Volta é o topo. Mas afinal, Rodrigues ainda não o tinha atingido quando há uma prova que é a de escalão mais alto que se realiza no nosso país. A Volta ao Algarve é ProSeries (segunda categoria, apenas abaixo das competições World Tour).
W52-FC Porto ao ataque no Malhão © Volta ao Algarve |
Se há um ano a Volta ao Algarve foi um dos últimos momentos de normalidade que se viveu, em 2021 nem conseguiu realizar-se no seu habitual calendário de Fevereiro. O pelotão foi diferente, mas nem por isso sem ciclistas de alto nível e/ou jovens talentos à procura de afirmação. A Ineos Grenadiers teve Ethan Hayter perto de alcançar a sua primeira grande conquista, a Deceuninck-QuickStep quis repetir a dose de Evenepoel com Kasper Asgreen, simplesmente o vencedor da Volta a Flandres.
A W52-FC Porto, que até tem sido das equipas portuguesas aquela que mais se mostra no Algarve - Amaro Antunes venceu no Malhão em 2017 -, apareceu com vontade de disputar a geral. João Rodrigues surgiu em excelente forma. Em Portugal ainda pouco se competiu, mas na equipa dirigida por Nuno Ribeiro preparou-se a participação com ambição a Algarvia. Rodrigues foi batido na Fóia por Hayter que depois viria a cair no contra-relógio de Lagoa. Ainda assim, ganhou 12 segundos ao português. Desta vez, o esforço individual não foi fonte do sucesso para Rodrigues, mas tudo ficou em aberto para a etapa do Malhão.
Asgreen, a 21 segundos, assumia que ia tentar a vitória. A W52-FC Porto sabia que estava perante uma oportunidade única de vencer uma corrida que é tão apreciada por equipas World Tour.
Hayter, debilitado pelas mazelas da queda, foi protegido pela Ineos Grenadiers até que a dois quilómetros da meta o britânico cedeu, quando a equipa portuguesa já havia acelerado e Rodrigues atacava. Asgreen até tinha sido quem tinha aberto as hostilidades a 15 quilómetros do fim. A Deceuninck-QuickStep colocou na fuga o sprinter Sam Bennett e o seu lançador Michael Morkov. Foram úteis a Asgreen, contudo, foi a táctica da W52-FC Porto, uma equipa Continental (terceiro escalão) que deu frutos.
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Rodrigues acreditou até ao fim e claro que é ainda mais especial ser um algarvio vencer a "sua" corrida. Entre as competições internacionais com história que se realizam em Portugal, só lhe fica a faltar o Troféu Joaquim Agostinho. Aos 26 anos construiu já um currículo invejável.
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Ficou um pouco ofuscado pela vitória de João Rodrigues, mas houve outro português a celebrar. Luís Fernandes saiu do top dez após um fraco contra-relógio, mas foi para a fuga do dia e somou os pontos suficientes na montanha para garantir a camisola azul. Também ele teve direito a estar no pódio final, numa conquista importante para a Rádio Popular-Boavista, equipa que este ano quis igualmente mostrar-se mais na Volta ao Algarve.
Rafael Reis (Efapel) foi segundo no contra-relógio, Iúri Leitão (Tavfer-Measindot-Mortágua) foi quinto no sprint de Portimão... os portugueses souberam tirar partido de uma Volta ao Algarve com condições excepcionais para terem uma projecção internacional que, por cá, só a Algarvia lhes dá.
Foi uma Volta ao Algarve que trouxe uma emoção diferente perante a forma de João Rodrigues. A oportunidade estava lá e o algarvio não a desperdiçou!
De referir que Sam Bennett venceu a classificação dos pontos (camisola verde), enquanto o americano Sean Quinn (Hagens Berman Axeon) juntou a camisola branca da juventude, à vitória na semana anterior na Clássica da Arrábida. A W52-FC Porto venceu por equipas.
O ciclismo nacional volta à estrada já no próximo fim-de-semana com o Grande Prémio O Jogo (sábado e domingo), enquanto por Itália as atenções centram-se em João Almeida (Deceuninck-QuickStep) e ainda em Rúben Guerreiro (EF Education-Nippo) e Nelson Oliveira (Movistar), o trio de portugueses no Giro.
Classificações completas, via ProCyclingStats.
»»Asgreen recordista. Hayter caiu mas continua de amarelo. João Rodrigues mantém sonho vivo««
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