7 de maio de 2021

O regresso do sonho rosa

 © Tim de Waele/Getty Images/Deceuninck-QuickStep
Em 2020, com a pandemia e todas as restrições que então levaram a uma mudança radical no calendário velocipédico, foi preciso esperar por Outubro para ver a Volta a Itália, sendo que antes já o Tour tinha ido para a estrada. Então, no Giro, por cá olhava-se para o estreante numa grande volta, na sua primeira época no World Tour: João Almeida. As circunstâncias levaram-no à corrida com liberdade para mostrar-se, com o português a querer perceber como seria fazer uma prova de três semanas. Mal se imaginava o que estava prestes a acontecer.

Durante aqueles dias, Almeida não só rapidamente confirmou todo o talento e potencial que o levou a uma das melhores equipas do mundo, a Deceuninck-QuickStep, como se afirmou como mais um dos jovens ciclistas a conquistar o World Tour. 15 dias de camisola rosa atiraram-no para a ribalta e em Portugal, o ciclismo entusiasmou não só os adeptos, como trouxe à modalidade muitos mais interessados. Uma autêntica onda rosa invadiu a região das Caldas da Rainha de João Almeida, mas um pouco por todo o país, o nome do jovem atleta entrou nas conversas tantas vezes dominadas pelo futebol, teve destaque nas primeiras páginas dos jornais, teve direito a realce até nos telejornais.

O impacto da exibição de João Almeida no Giro trouxe um mediatismo renovado ao ciclismo no nosso país. O resultado final foi um brilhante quarto lugar e a certeza que Portugal tem um voltista que, aos 22 anos, ambiciona que uma camisola rosa, amarela ou vermelha possa um dia ser dele num pódio final de uma grande volta. E já é um dos mais procurados atletas, numa altura em que está em final de contrato com a equipa belga. Renovará ou não? Isso fica lá mais para o Verão.

Em 2021, Almeida foi inicialmente apontado à Volta a Espanha, mas, tal como na época passada, acabou a ser "puxado" para o Giro, que arranca este sábado em Turim. E depois do que fez em 2020, por cá, o sonho rosa já domina o discurso de todos aqueles que querem ver novamente Almeida a ser figura em Itália.

E se o ciclista da Deuceninck-QuickStep recebe, merecidamente muita atenção, em Outubro Rúben Guerreiro fez também ele história. Venceu uma etapa e foi o rei da montanha, segurando a camisola azul até final. Depois de épocas inconstantes, na agora EF Education-Nippo, Guerreiro apresentou e continua a apresentar o nível há muito esperado. Também ele está de regresso a Itália, mas é um atleta que quer mais do que alcançou na edição passada do Giro.

A Almeida e Guerreiro, junta-se o experiente Nelson Oliveira, que tem dois Giros feitos, mas já há muito que não viajava para Itália. Participou na grande volta em 2012 e 2013.

O que esperar do trio de portugueses?

Com os Jogos Olímpicos como um dos principais objectivos, ir ao Tour poderia ser prejudicial na preparação e recuperação para quem vai a Tóquio procurar uma medalha no contra-relógio. Nelson Oliveira (dorsal 174) é um dos melhores gregários do pelotão World Tour e no Giro não terá um papel diferente daquele que desempenha quando participa no Tour e Vuelta.

A Movistar tem Marc Soler como líder e espera a Nelson Oliveira o habitual trabalho de sacrifício, mas terá dois contra-relógios para se testar. O primeiro, a abrir este sábado o Giro, é curto, apenas 8,6 quilómetros, em Turim.  Nada que beneficie as suas características. Depois é preciso esperar pelo último dia, com 30,3 quilómetros, entre Senago e Milão, mas também falta alguma dificuldade para assentar melhor a Oliveira. 

Quanto a Rúben Guerreiro (dorsal 105), é um ciclista que há muito aspira lutar por uma geral  numa grande volta. A EF Education-Nippo terá Hugh Carthy com essa função, mas tal não elimina que o português também possa olhar para um bom resultado nessa classificação. Na recente Volta aos Alpes, Guerreiro demonstrou o quanto quer ser um ciclista de geral, realizando uma excelente corrida, exibição premiada com um oitavo lugar. Deixou boas indicações e aos 26 anos quer dar mais um passo na afirmação de ser um corredor que pode estar entre os melhores numa corrida de três semanas.

João Almeida (dorsal 92) terá desta feita Remco Evenepoel a seu lado. A dupla rendeu vitórias ao belga em 2020, até à grave queda na Lombardia e que o fez falhar o Giro. Desde Agosto que não compete, o regresso foi adiado e será mesmo no Giro que irá novamente ver-se este talentoso e espectacular ciclista. A pergunta é como irá Evenepoel apresentar-se fisicamente depois de alguns adiamentos quanto ao seu regresso. Apesar de ser o dorsal 1 da equipa, é em Almeida que se centram as atenções para estar novamente na luta pela geral.

Evenepoel já garantiu que quer ajudar o português. Será um ver para crer. James Knox, Rémi Cavagna, Mikkel Honoré, Pieter Serry e o veterano Iljo Keisse serão homens importantes de apoio ao português, a que se junta... Fausto Masnada. O italiano não ganhou fãs em Portugal no Giro passado, quando as suas exibições pareceram serem mais centradas no seu objectivo pessoal, do que em sacrificar-se em prol de quem era "apenas" o líder do Giro.

Lista de inscritos, via ProCyclingStats.

1ª etapa: Turim-Turim (8,6 quilómetros)


»»Atitude muito pouco de Wolfpack««

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