© Tim de Waele/Getty Images/Deceuninck-QuickStep |
"Não vai determinar a escolha tática para o Giro. Serão as pernas a decidir. Não me interessa nada, se ganhar o Giro, que seja com um belga ou um português", lê-se na habitual crónica de Lefevere no Het Nieuwsblad. Em causa está o regresso de Remco Evenepoel, cuja a queda na Lombardia obrigou a uma longa paragem, a adiamentos no regresso e ainda a incertezas do que poderá fazer o ciclista nesta Volta a Itália. Tal como João Almeida, começou bem. Mas o português começou melhor.
"Quem me conhece, sabe que a camisola da equipa é mais importante que as nacionalidades. O João é o líder, o Remco terá liberdade", garantiu, mas não está fechada a porta para que Evenepoel assuma o papel que já lhe era destinado no ano passado, antes da queda. Ou seja, se com o decorrer da corrida o belga se apresentar melhor, passará a ser chefe-de-fila.
Recorde-se que Evenepoel deveria ter feito a sua estreia numa grande volta precisamente no Giro, em 2020. Estava numa sucessão de vitórias, incluindo na Volta ao Algarve, e com Almeida a ser um apoio importante em algumas. Porém, com Evenepoel a recuperar da grave queda, o português não só foi chamado quase à última hora para o Giro, como rapidamente "saltou" a parte de perceber como seria competir numa prova de três semanas. Começou forte, no contra-relógio e pouco depois iniciou uma fantástica história de 15 dias de camisola rosa.
Almeida já era um dos jovens considerados a ser seguido com atenção. Naquele Giro realizado em Outubro, passou a ser um dos jovens mais apetecidos por outras equipas. Não ganhou, mas o quarto lugar foi a todos os níveis um resultado final fantástico. Desde então que o ciclista da Caldas da Rainha continuou a somar exibições convincentes. No início desta temporada conseguiu o seu primeiro pódio numa prova World Tour, nos Emirados Árabes Unidos e com o contrato a terminar no final de 2021, há muito que a sua saída era dada como uma forte possibilidade.
Lefevere nunca gostou dessas notícias, criticou bem à sua maneira um possível convite da UAE Team Emirates do português e apesar do desejo de manter Almeida na Deceuninck-QuickStep, a equipa belga acaba por ter duas desvantagens. A primeira é o facto de ser uma formação muito virada para clássicas e sprints. Apesar de já estar a reforçar um pouco o bloco para grandes voltas, tal começou a ser foi feito a pensar em Evenepoel. Se o belga recuperar a sua forma, ninguém dúvida quem será a figura no que a este tipo de prova diz respeito.
Depois há a questão financeira. Uma equipa como a UAE Team Emirates tem uns bolsos bem mais fundos do que a equipa belga. A Deceuninck-QuickStep pode ser a que mais ganha na estrada, das mais populares, mas dos Emirados Árabes Unidos vem muito dinheiro e que já fazem, por exemplo, de Tadej Pogacar o segundo ciclista mais bem pago do pelotão: cinco milhões de euros/época, segundo o jornal Marca.
Não há confirmação oficial de para onde vai João Almeida. Tal só é permitido no ciclismo a partir de 1 de Agosto. Contudo, a equipa que já conta com Rui Costa e os gémeos Oliveira é uma forte possibilidade, mas a Bora-Hansgrohe e a Movistar também são avançadas como hipótese. Tanto uma como outra estão a precisar de reforçar o sector de liderança nas grandes voltas. Podem não ter bolsos tão fundos como a UAE Team Emirates, mas também têm capacidade de oferecer bons contratos.
Aos 22 anos, João Almeida irá dar o passo que seria inevitável, mais cedo ou mais tarde. Não perde tempo e dá-lo-á já em 2022. O ciclista quer uma equipa que lhe dê as condições para lutar por vitórias em grandes voltas ou noutras provas por etapas. A Deceuninck-QuickStep foi a formação perfeita para se apresentar ao World Tour, tendo em conta a filosofia que tem em dar oportunidades a praticamente todos os seus ciclistas, independentemente da idade e experiência.
A Almeida resta mostrar o que não há dúvidas que o fará: profissionalismo. Independentemente do que se passará em 2022, é agora que luta por um Giro. Começou com quarto lugar no contra-relógio, batendo a concorrência directa entre os que ambicionam a camisola rosa.
Durante as próximas três semanas, a ver vamos como irá a equipa reagir a este anúncio de Lefevere. Certo é que o dono da Deceuninck-QuickStep não está nada satisfeito com as negociações, criticando o empresário do ciclista. Não é uma posição ideal para João Almeida, mas este só tem de continuar no caminho que tem feito. No seu segundo ano no World Tour já é um dos principais ciclistas do pelotão e consegue ser o centro de disputa entre grandes equipas. Notável!
Mais saídas
Já este domingo, Lefevere fez mais um anúncio. Também Sam Bennett está de saída. Tanto o responsável, como o ciclista, segundo o belga, gostariam de continuar a ligação, mas a Deceuninck-QuickStep não tem capacidade para igualar as ofertas que o sprinter está a receber. Um regresso à Bora-Hansgrohe estará na equação, pois Pascal Ackermann poderá estar a caminho da UAE Team Emirates.
Sem confirmação oficial, mas entre os rumores que começam a surgir, Álvaro Hodeg também não deverá renovar, enquanto Peter Sagan (Bora-Hansgrohe) é apontado como possível reforço. Começa a parecer que o mercado de transferências vai ser animado a partir de 1 de Agosto.
(Texto actualizado às 15:53 com a saída de Sam Bennett e possível não renovação de Álvaro Hodeg.)
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