Tristan Robbins tem dado um toque britânico ao pelotão nacional nesta fase final da temporada. Depois de três anos como profissional, o jovem corredor resolveu dedicar-se aos estudos. Porém, umas férias em Portugal e o "bichinho" do ciclismo começou a falar novamente mais alto. Queria algo diferente ao que tem no seu país e foi no FGP/Cube/Bombarral que reencontrou a alegria de competir. Agora espera ficar por cá e até já escolheu as duas equipas que gostaria de representar em 2019.
A formação de sub-23 viu em Robbins um ciclista com potencial para "mostrar a camisola" na Volta a Portugal do Futuro, que começa esta quarta-feira, em Águeda. E Robbins vê nesta equipa uma oportunidade para tentar obter resultados, podendo assim libertar-se à missão a que estava preso na Grã-Bretanha: de gregário. O britânico, natural de Bristol, não hesita em dizer que a experiência actual era o melhor que lhe poderia acontecer nesta altura da sua vida. "A realidade doméstica inglesa é muito diferente da portuguesa. Lá há menos equipas UCI e fazemos muitos circuitos. É uma realidade muito difícil para se progredir. Depois de três anos disso eu estava cansado. Era altura de mudar. E esta era a mudança que eu estava a precisar", salientou ao Volta ao Ciclismo.
Tem apenas 22 anos e depois de ter atingido o profissionalismo tão cedo, num país onde o ciclismo vive uma fase tão positiva, não deixa de parecer estranho que tenha regressado ao escalão amador e em Portugal: "De certa forma é [estranho] porque há menos apoio e não é a mesma coisa. Como profissional, és pago, tens um emprego e tens a pressão. Durante três anos o meu trabalho era ir buscar garrafas e estar na frente, aqui é bom porque posso fazer a minha corrida. Posso preocupar-me com o meu resultado."
Robbins não passou despercebido no pelotão português. Não só quase se intrometeu na disputa do Circuito do Bombarral, por exemplo (teve um furo a 400 metros da meta), mas a sua forma de correr já lhe valeu alguns protestos. A escola britânica é outra e Robbins não hesita em usar mais o corpo para ganhar ou segurar a sua posição no pelotão. "Em Inglaterra competimos em circuitos curtos, por isso estou habituado a usar os ombros, inclinar-me sobre as pessoas, ser muito agressivo para manter a posição. Em Portugal não precisamos tanto disso. Em Inglaterra tenho muita vezes problemas em estar na frente no momento certo, mas aqui é mais fácil, estou no sítio certo quando preciso de estar porque estou habituado a ser mais agressivo, o que eu acho que é um choque para algumas equipas UCI [portuguesas]", explicou.
"Penso que é mais fácil dar nas vistas aqui. Se for para o Reino Unido, com os meus resultados, as equipas vão ficar [a pensar] 'talvez sim, talvez não'... Tens de ganhar algo muito grande"
O britânico admitiu que provavelmente há quem pense "o que está este gajo a fazer?" E acrescentou: "Foi assim que me ensinaram a pedalar. Alguns companheiros na equipa disseram para ter calma e não tomar tantos riscos. Mas na minha perspectiva não estou a tomar riscos, estou apenas a andar na minha bicicleta. É muito interessante que seja visto assim." Robbins vai tentando adaptar-se à realidade portuguesa e apesar de referir que gosta de não estar sob a pressão que tinha na Grã-Bretanha, o ciclista realçou que não significa que não a tenha em Portugal. Afinal, a FGP/Cube/Bombarral pede-lhe bons resultados na Volta a Portugal do Futuro. "Claro que há sempre pressão. Eu também gosto. Mas é o tipo de pressão certa. Há pressão porque ao estar aqui, eu quero ver se consigo assinar por uma equipa UCI e fazer outra época como profissional", afirmou.
Robbins já competiu em corridas de todos os níveis, em vários países, mas não hesita em dizer como as portuguesas lhe assentam tão bem nas suas características. "Não são muito técnicas, nem muito rápidas e têm a dose certa de subidas", explicou o ciclista, que tem como um dos seus pontos fortes o sprint. Os circuitos, que marcam o estilo de provas na Grã-Bretanha para o seu escalão, são algo que confessa não gostar e que, por isso, terá mais oportunidades para conseguir resultados em Portugal. "Penso que é mais fácil dar nas vistas aqui. Se for para o Reino Unido, com os meus resultados, as equipas vão ficar [a pensar] 'talvez sim, talvez não'... Tens de ganhar algo muito grande. Aqui tive uns bons resultados, as pessoas viram como compito e gostaram. Isso pode permitir-me subir. No Reino Unido não. Em parte porque há muitos circuitos e disso não gosto", frisou, acrescentando que o facto de neste momento "haver muito talento" no seu país e apenas seis equipas do escalão Continental torna difícil a progressão na carreira.
Foi por isso que quis voltar aos estudos. "Fiquei preocupado que se não fosse para a universidade, talvez aos 30, se ainda estivesse no nível Continental e não no World Tour, poderia não ter emprego." Robbins esteve dois anos na Madison Genesis e um na Raleigh GAC, antes de optar por estudar. Contudo, a escola poderá ficar novamente em suspenso se aparecer o contrato que gostaria de ter em Portugal. A escolha está feita: Aviludo-Louletano-Uli ou Efapel. E explica porquê: "Pelo que vi, não é apenas pelos resultados [que trabalham], mas também por funcionarem em grupo, unidos. Quando estava na Madison, os resultados eram bons, a equipa era muito unida e todos apoiavam-se mutuamente. Mas tive noutras em que a comunidade não era tão boa, mas os resultados eram ok. Ao ver a Efapel e o Louletano, vejo que correm muito bem como equipa, vejo a forma como se unem e é isso que eu aspiro." Caso o contrato não apareça, Robbins regressará a casa para terminar o curso universitário.
A melhor apresentação é feita nas corridas, mas no currículo Robbins tem uma formação de pista, não fosse ele britânico, com um título nacional aos 16 anos, tendo conquistado outro como júnior já na estrada. "Antes de ter uma bicicleta de estrada tive uma de pista", recordou, referindo como treinava no agora Velódromo Geraint Thomas, no País de Gales. Começou aos 11 anos e aos 13 deu as primeiras pedaladas na estrada, tendo somado algumas vitórias.
Recuperado o gosto pela competição no ciclismo, até onde quer afinal Robbins chegar? "Quero ser o melhor ciclistas que puder ser. Não sei o quanto poderei ser bom. Adoraria dizer que quero ser campeão do mundo, mas sejamos honestos: não sou suficientemente bom! Isto não é dizer que quero estar no World Tour, ganhar uma etapa em determinada corrida... Quero ser o melhor que puder ser. E se conseguir isso, estão ficarei feliz."
"Temos um ditado que é 'quando vamos para o estrangeiro, ou te faz ou te verga'"
Ter uma experiência numa equipa estrangeira foi sempre algo que desejou, ainda que não esconda que não é fácil estar em Portugal. Não fala a língua, mas rapidamente realçou como no FGP/Cube/Bombarral todos se dão bem e o português é algo que poderá sempre ir aprendendo. Fique ou não por cá em 2019, Robbins garante que recomendaria a antigos colegas britânicos a experimentarem a realidade ciclística portuguesa. "Temos um ditado que é 'quando vamos para o estrangeiro, ou te faz ou te verga'", contou. "O FGP/Cube/Bombarral é uma boa equipa e acho que o vir para aqui foi possivelmente uma das melhores coisas que fiz no ciclismo nos últimos três anos."
Tristan Robbins estará acompanhado na Volta a Portugal do Futuro por Diogo Lopes, Diogo Tavares, Emanuel Duarte, Francisco Duarte, Jorge Marques e Leonel Firmino.
A corrida é composta por seis etapas, terminando no domingo: Águeda-Águeda (118,4 quilómetros), Oliveira do Hospital-Colcurinho (136,4), Arganil-Abrantes (151,5), Abrantes-Castelo de Vide (79,9) e Castelo de Vide-Castelo de Vide (contra-relógio individual de 8,4 quilómetros) - serão duas etapas disputadas no sábado - e Santarém-Santarém (118,3). O final coincide com o Festival Bike, que todos os anos se realiza em Santarém.
Estão previstas a participação de mais nove equipas além do FGP/Cube/Bombarral: Miranda-Mortágua, Liberty Seguros-Carglass, Sicasal/Constantinos/Delta Cafés, Fortunna/Maia, Jorbi-Team José Maria Nicolau, ACDC Trofa/Trofense e as espanholas Froiz, Baqué Ideus BH Team e Aldro Team. Podem participar na Volta a Portugal do Futuro ciclistas com idade entre os 19 e os 23 anos, feitos até 1 de Janeiro de 2018. Há um ano o vencedor foi José Neves, então na Liberty Seguros-Carglass, que esta temporada esteve na W52-FC Porto e está actualmente a competir na Volta à Grã-Bretanha, como parte do estágio que está a realizar na EF Education First-Drapac p/b Cannondale, equipa do escalão World Tour.
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