A etapa de sábado (14ª) nas Dolomitas foi espectacular e definiu os candidatos
(Fotografia: giroditalia.it)
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A segunda semana do Giro foi de loucos. A camisola rosa está a ter dificuldades em manter-se num ciclista, mas já apresentar um novo talento para as três semanas, fez história na Costa Rica e também na Holanda. Além das trocas de líder, tivemos um Mikel Landa a abandonar - uma das vítimas da gastroenterite que tem afectado alguns ciclistas -, um Alejandro Valverde e um Vincenzo Nibali a vacilar, um Chaves a despontar e um pouco de polémica com a saída de André Greipel quando liderava a classificação dos pontos. E claro, um Kruijswijk no ponto perfeito, que o coloca agora como o grande favorito à vitória. "Só" tem de aguentar ataques e contra-ataques durante cinco etapas.
A primeira semana deixou muitas dúvidas, mas na segunda já muito ficou definido. No entanto, uma coisa parece certo, nesta Volta a Itália não há vencedores antecipados e a luta ameaça ir até ao último metro.
Três dias infernais
Depois de tanta incerteza quanto à condição dos principais candidatos, bastaram três dias para definir quem vai discutir o Giro. As etapas de sexta-feira, sábado e domingo foram espectaculares. Tudo começou com uma tirada com duas subidas de primeira categoria e duas de segunda. Foi o primeiro teste na montanha e a Movistar mostrava a sua força... que acabaria por se transformar na sua fraqueza.
Nesta altura já Mikel Landa (Sky) tinha abandonado devido a uma gastroenterite, deixando livre os colegas de tentar uma vitória e Mikel Nieve aproveitou. Mas o mais importante passou-se no grupo de favoritos. Só Bob Jungels, então o líder, fraquejou. Valverde e Nibali mantiveram-se juntos, enquanto Andrey Amador sofreu um pouco, mas acabou com uma histórica camisola rosa, a primeira de um costa-riquenho. A liderança dividida da Movistar levantava dúvidas, mas Eusebio Unzué, director desportivo, transmitia confiança nos dois ciclistas. Nesse mesmo dia começou alguma confusão: Valverde tinha perdido as bonificações para Nibali (Astana) e disse que não sabia que havia segundos em jogo. Giovanni Visconti foi segundo e questionou-se se não deveria ter recuado para ajudar o espanhol.
A festa de Amador durou pouco, na etapa rainha nas Dolomitas (que grande espectáculo de ciclismo), esperavam-se ataques, só não se esperava que Valverde ficasse sentado quando Nibali lançou o primeiro ataque e sem ajuda de companheiros que há muito tinham ficado para trás. Só Amador ainda tentou um derradeiro sacrifício. Nem o italiano acreditou quando olhou para trás e viu Steven Kruijswijk (Lotto-Jumbo) e Johan Esteban Chaves (Orica-GreenEDGE). O espanhol... nem vê-lo.
Mas as surpresas não ficaram por aí. Kruijswijk contra-atacou e foi a vez de Nibali não conseguir reagir. Chaves seguiu com o holandês, que vestiu a camisola rosa e o colombiano chegou ao terceiro lugar. A Movistar passou de um dia com dois homens no pódio com capacidade para ganhar, para um Giro potencialmente perdido.
Seguiu-se uma crono-escalada desastrosa para Nibali. De 41 segundos passou para 2:51. Kruijswijk esteve perfeito e só não ganhou por centésimos de segundos. Valverde recuperou um pouco, menos para o holandês. Chaves é quem demonstra ser neste momento o maior rival de Kruijswijk, ainda que tenha 2:12 para recuperar.
Mas ainda faltam tantas montanhas... Valverde demonstrou que tem algo a dar. Falta conhecer a reacção de Nibali e nunca se sabe: uma aliança Movistar/Astana para atacar um Kruijswijk que não tem uma equipa tão forte para o ajudar?
Rigoberto Uran (Cannondale) e Domenico Pozzovivo (AG2R) estão completamente fora da luta e tentarão uma etapa e/ou o top dez. Rafal Majka (Tinkoff) e Ilnur Zakarin (Katusha) ainda podem tentar surpreender, mas talvez algo mais do que o pódio será difícil.
Bob Jungels, a revelação ou a confirmação do potencial
A Etixx-QuickStep viu no luxemburguês um potencial para disputar provas de três semanas e não hesitou em abrir os cordões à bolsa para o contratar. A equipa belga tem tradição de apostar mais em sprints e nas clássicas, no entanto, com Jungels espreita agora outro tipo de resultados e logo na sua primeira época, o jovem de 23 anos correspondeu.
A Trek terá subestimado o potencial do ciclista que formou. Pensou que a renovação estava garantida e depois foi surpreendida por uma oferta muito tentadora da Etixx. Jungels percebeu que na equipa belga poderia ser líder, mesmo tendo de trabalhar para Marcel Kittel nos sprints. Jungels percebeu que era o salto que precisava de dar na sua carreira e o resultado está à vista: andou três dias de rosa e pode muito bem terminar num brilhante top dez, onde reentrou depois da crono-escalada, mas terá de estar melhor nas montanhas, do que mostrou na sexta-feira e no sábado.
O dia de glória de Amador
Até o edifício da Movistar na Costa Rica foi "pintado" de rosa. O feito de Andrey Amador foi histórico. Nunca um costa-riquenho tinha liderado uma grande volta. Há um ano terminou em quarto no Giro e em 2016 sonhou alto, alcançou a liderança, mas não teve capacidade para aguentar quando foi atacado e rapidamente desceu à terra, tendo agora de trabalhar para tentar repetir o resultado de há um ano, ou pelo menos para manter o top dez. Porém, os resultados dos últimos dois dias colocaram-no definitivamente como homem de trabalho para Valverde. Não há mais liderança partilhada na Movistar.
Greipel e a eterna polémica dos sprinters que não acabam grandes voltas
Somou a terceira vitória, tornou-se no sprinter mais vitorioso do Giro e foi para casa quando liderava a classificação dos pontos. A polémica voltou. Kittel saiu sem grande aparato, mas André Greipel não conseguiu evitar algumas críticas, a começar por membros da organização que não ficaram nada satisfeitos. O alemão justificou com as dificuldades que a Volta a Itália iria ter, que não eram para ele, numa altura em que já começa a pensar na Volta a França. "O Giro é o Giro, o Tour é o Tour", disse.
A situação repete-se, as críticas sucedem-se, mas o Giro está quase sem sprinters. Entre abandonos, chegadas de fora do tempo limite e gastroenterites, sobram basicamente dois do lote dos mais fortes: Giacomo Nizzolo (Trek-Segafredo), que herdou a camisola vermelha após a saída de Greipel, e Sacha Modolo (Lampre-Merida).
Italianos triunfam em fugas e na montanha
Enquanto Nibali não vai dando alegrias aos tiffosi, Giulio Ciccone e Diego Ulissi assumiram o protagonismo. O jovem da Bardiani venceu a etapa de montanha que abriu a semana e confirmou a tradição da equipa italiana em triunfar no Giro. Já Ulissi somou a segunda vitória em mais uma etapa de espectáculo, em que teve de recuperar sozinho a distância que tinha para os líderes, mas depois ganhar ao sprint. É a salvação da Lampre que vê um Modolo sem capacidade para fazer frente aos principais sprinters e agora ficou sem Niemiec para as montanhas. Ulissi pode ainda aspirar à classificação por pontos: tem menos 34 que Nizzolo.
Também na montanha poderá haver um vencedor italiano. Aos 34 anos, Damiano Cunego (Nippo-Vini Fantini) parece recuperar a forma e a motivação e está a fazer tudo para manter a camisola azul. Entra nas fugas e tem gerido as forças para tentar somar o máximo de pontos possível, sem colocar em causa a performance do dia seguinte. Giovanni Visconti, Stefan Denifl (IAM) e Mikel Nieve são as maiores ameaças.
O que espera o pelotão
No domingo é dia de consagração e para os sprinters, portanto, são cinco as etapas que faltam para discutir a maglia rosa. E para não se descansar de mais, terça-feira regressa já à montanha, numa etapa curta e que deverá ser feita a grande velocidade (ver ponto seguinte). Na quarta-feira pode-se dizer que é o dia talvez mais "descansado" para os homens da geral. Descanso relativo, claro, mas dos 196 quilómetros entre Molveno - Cassano D'Adda, os primeiros 120 tem algum sobe e desce e uma quarta categoria, mas depois é sempre a direito, o que poderá ser favorável a alguma fuga ou então para os sprinters tentarem ganhar: a Trek e a Lampre poderão ter interesse neste cenário.
Segue-se uma etapa longa, 244 quilómetros que ligarão Muggiò a Pinerolo, que é o contrário do dia anterior. Isto é, tem 150 quilómetros planos e depois começam as dificuldades. A segunda categoria perto da meta (ainda haverá uma descida) poderá dar ideias tanto para uma fuga para vencer a etapa, como a alguém que queira recuperar tempo.
Mas são as etapas de sexta-feira e de sábado que deverão decidir tudo. Primeiro será a passagem pelo ponto mais alto do Giro: o Colle dell’Agnello a 2744 metros de altitude. A etapa não terminará nesse local, mas aos ciclistas espera uma chegada numa primeira categoria.
E sem tempo para recuperar, no sábado serão três primeiras categorias para cumprir, com as respectivas descidas, pois a etapa termina numa terceira categoria. Uma tirada muito complicada, ainda mais depois de três semanas de muitos quilómetros.
Etapa 16: Bressanone - Andalo (132 km)
Após um dia de descanso, a etapa até começa a descer, mas dificuldades não faltam. A segunda categoria que abrirá as hostilidades tem uma média de 6,5% de inclinação (o máximo será 10%) ao longo dos quase 15 quilómetros de subida. Muita atenção à longa descida que se seguirá, antes de se voltar a subir. A categoria pode ser a mesma, mas a segunda subida será mais complicada. Ligeiramente mais curta, mas com maior pendente, cerca de 8%, com 15 para terminar. Dada a curta distância, espera-se que a etapa seja feita a grande velocidade.
Confira as classificações após 15 etapas.
Giro d'Italia 2016 - Stage 16 por giroditalia
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