(Fotografia: giroditalia.it) |
Quando alguém perguntar porque se gosta tanta de ciclismo, o melhor é mostrar-lhe a 14ª etapa da Volta a Itália. Pode não ter tido momentos épicos - talvez falte Alberto Contador para isso -, mas quem assistiu dificilmente esquecerá a passagem do pelotão pelas Dolomitas. As expectativas eram altas: 210 quilómetros, seis subidas categorizadas em 150 e um muro para terminar. Era o dia para definir de uma vez por todas quem são os candidatos. E assim foi. Só não foram os esperados...
Há novo líder (o sexto) e o vencedor da etapa foi um ciclista que há três anos disseram-lhe que não voltaria a competir
Nibali atacou. Ficou surpreendido com quem respondeu
As primeiras subidas serviram para ir eliminando quem não está nesta luta. Todos os pretendentes seguraram-se até à penúltima, uma primeira categoria. Bob Jungels (Etixx-QuickStep) foi dos primeiros a ceder, sem grande surpresa. O holandês poderá estar algo desiludido por ter saído do top dez, mas ainda está na luta. O jovem ciclista ainda tem muito a desenvolver, mas a Etixx tem claramente um homem para as três semanas.
Mas a verdadeira acção ficou guardada para a última, ainda que Amador, o camisola rosa, tenha perdido contacto no Passo Giau, recuperando na descida antes da Valparola.
Uma segunda categoria decisiva. Já se perguntava quem iria atacar? Alguém teria de o fazer. Vincenzo Nibali (Astana) assumiu a responsabilidade depois de um excelente trabalho de Michele Scarponi. O Tubarão mostrava as suas credenciais... Valverde mostrava que não as tinha. Quando olhou para trás, certamente que o italiano nem queria acreditar: era Steven Kruijswijk (Lotto-Jumbo) e Johan Esteban Chaves (Orica-GreenEDGE) quem respondia. O grande rival ficava irremediavelmente para trás.
Surpresa número 1. E não demorou muito para se chegar à surpresa número 2. Kruijswijk tem andado discreto. Quase passa despercebido. Não que alguém o subestime, afinal já tem dois top dez no Giro. O holandês tem demonstrado estar forte, mas manteve-se até este sábado longe dos holofotes. Quando contra-atacou Nibali resolveu que estava na altura de também ele saltar para a ribalta e só Chaves foi com ele. Era a vez de Nibali ficar sentado.
Lá na frente, Atapuma (BMC) chegou a parecer que tinha a vitória garantida. Mas neste Giro, nada é garantido. Foi apanhado por Georg Preidler (Giant-Alpecin), um dos sobreviventes da fuga inicial de 37 (!) ciclistas. Mas Kruijswijk e Chaves aproximaram-se do duo da frente e acabaram por discutir a etapa, com um triunfo emocional para Chaves e uma camisola rosa para um Kruijswijk de impor respeito.
Entre Nibali, que cortou a meta acompanhado por Kanstantsin Siutsou (Dimension Data) - uma das figuras da etapa, que chegou a ser o líder virtual -, e Valverde, estavam Majka, Zakarin, Uran... as outras figuras do top dez, ou que aspiram a tal.
O novo trio de favoritos
Quando o Giro começou há duas semanas, Nibali, Valverde e Mikel Landa (Sky) eram apontados como o trio de favoritos. Uma gastroenterite e umas Dolomitas depois e ainda temos um trio, mas só Nibali sobrevive. Perante as diferenças feitas na 14ª etapa, o italiano (segundo a 41 segundos), Chaves (terceiro a 1:32 minutos) e o novo líder Kruijswijk assumem-se como os principais candidatos. O mais próximo deste trio é Valverde a já 3:06. Faltam muitas montanhas. Recuperar ainda é possível, mas Nibali terá encontrado os ciclistas com quem tem realmente de se preocupar.
A história de Chaves
Depois da Vuelta, Chaves venceu agora no Giro
(Fotografia: Twitter @giroditalia)
|
"Se posso ganhar a Volta a Itália? Porque não! O Mat Hayman ganhou o Paris-Roubaix e cinco semanas antes tinha partido o braço. Quando eu caí, os médicos disseram-me que com o meu braço não poderia voltar a competir. Agora ganhei uma etapa, por isso, tudo é possível", salientou o colombiano.
Cunego aguentou a camisola azul
O italiano da Nippo-Vini Fantini quer a camisola da montanha. Aos 34 anos é muito bom ver de novo Cunego a aparecer em destaque. Entrou na fuga e conquistou a pontuação máxima na primeira categoria do dia. Depois o grupo começou a atacar e Damiano Cunego acabou por tentar encontrar o seu ritmo e foi pontuando. Tem 134 pontos, mais 62 que Stefan Denifl (IAM). Há muita montanha pela frente, mas o vencedor do Giro de 2004 passou no teste da etapa rainha.
O ataque do vírus estomacal
A gastroenterite está a tornar-se numa das "figuras" do Giro... Primeiro foi Fabian Cancellara a perder a possibilidade de concretizar o objectivo de final de carreira de vestir a camisola rosa. Depois foi Mikel Landa que abandonou e disse adeus ao sonho de ganhar o Giro, pelo meio Elia Viviani também não se sentia bem quando chegou fora do tempo limite na etapa 8.
Na etapa 14 a gastroenterite atacou em força: Arnaud Démare (FDJ) e Ryder Hesjedal (Trek-Segafredo) não terminaram a tirada - o francês mal a começou - e a justificação foi um vírus estomacal. Foram sete as desistências na etapa rainha, nem todos alegaram doença, mas ainda assim tem sido um Giro complicado neste aspecto... Destaque ainda o adeus, algo surpreendente, para Przemyslaw Niemiec, certamente uma desilusão para a Lampre que apostaria no polaco para as etapas de montanha da última semana.
Giro d'Italia - Stage 14 - Highlights por giroditalia
Confira os resultados e as classificações.
Giro d'Italia - Stage 14 - Highlights por giroditalia
Confira os resultados e as classificações.
Etapa 15: Castelrotto - Alpe di Siusi (10,8 quilómetros)
Para encerrar três dias infernais, antes de um merecido dia de descanso, uma crono-escalada. Chega a ter uma pendente máxima de 11%, mas tem uma média de 7/8%. É um teste à liderança de Kruijswijk, principalmente com Nibali a ter possibilidade de lhe tirar a maglia rosa. Mas esta etapa é ainda mais importante para basicamente todos os que estão do quarto lugar para baixo na classificação. Há muito tempo a recuperar e têm de começar nesta crono-escalada para ainda ambicionarem a algo mais que o top dez.
Giro d'Italia 2016 - Stage 15 por giroditalia
Sem comentários:
Enviar um comentário