Portugal está em 2021 representado por mais um ciclista no World Tour, comparativamente com o ano passado. É mais um jovem a chegar ao mais alto nível, desta feita pela mão da Cofidis. André Carvalho junta-se assim a um grupo de talentos nacionais que se vão afirmando, com João Almeida a centrar muitas das atenções em 2021 e com Ruben Guerreiro à procura de mais vitórias como as que alcançou na Volta a Itália de boa memória para os portugueses. Temos ainda o trio da UAE Team Emirates e um dos melhores gregários do pelotão internacional, que está de olho numa medalha olímpica.
© Team Cofidis |
1ª época no World Tour
Para André Carvalho foi importante saber ver que nem sempre ir para fora cedo é a melhor opção. Em 2017, a experiência na Cipollini Iseo Serrature Rime ASD não foi a esperada, pelo que regressou à então Liberty Seguros-Carglass. Uma decisão acertada já que a boa temporada acabou por ser uma ajuda para dar o salto para a Hagens Berman Axeon. Dois anos na equipa americana e Carvalho foi o quinto português a "formar-se" na estrutura de Axel Merckx e saltar para o World Tour. 100% de taxa de sucesso, sucedendo a Ruben Guerreiro, os gémeos Oliveira e João Almeida. Pela primeira vez a Cofidis contrata um português, com o objectivo de o colocar a trabalhar para os líderes, principalmente nas clássicas. Os quintos lugares no Paris-Roubaix e Liège-Bastogne-Liège de sub-23 contribuem para que seja a escolha inicial de como a Cofidis pretende aproveitar as capacidades do português. Contudo, com a possibilidade de continuar a evoluir como trepador, Carvalho poderá, mais à frente, ir além da missão que agora lhe é atribuída. Abrem-se as portas que o ciclista de Famalicão tanto queria e, com contrato apenas para 2021, todas as corridas são essenciais para mostrar que é mais um jovem talento de Portugal que merece estar ao mais alto nível.
Ivo e Rui Oliveira, 24 anos, UAE Team Emirates© UAE Team Emirates
3ª época no World Tour
Apesar das muitas corridas canceladas devido à pandemia, 2020 acabou por ser o ano de afirmação para os gémeos Oliveira. Surgem juntos neste texto não só por serem irmãos na mesma equipa, mas porque na época passada deram ambos um passo em frente na carreira, muito devido a não terem tido qualquer problema físico que os afastasse das competições, como aconteceu no passado. Se inicialmente foi Rui quem se foi mostrando mais na preparação dos sprints, Ivo seguiu o exemplo e a chamada para a Volta a Espanha foi uma oportunidade que não desperdiçaram. Excelente trabalho dos gémeos! Para 2021 espera-se que, mesmo não sendo para Jasper Philipsen que vão trabalhar (o belga saiu para a Alpecin-Fenix), possam tornar-se em homens de confiança para as principais figuras da equipa no sprint e nas clássicas. E nos planos estão grandes corridas para ambos. Depois da Vuelta em 2020, Ivo - que também trabalha para se tornar num contra-relogista de referência - está apontado ao Tour, mas até lá tem: Omloop Het Nieuwsblad, Kuurne-Bruxelles-Kuurne, Tirreno-Adriatico, Volta à Romandia e Critérium du Dauphiné. Rui foi o primeiro português no World Tour a estrear-se em 2021, com o 39º lugar no Grand Prix Cycliste la Marseillaise. Está apontado ao Giro e antes tem o Paris-Roubaix no calendário. Juntos, apenas está previsto, para já, a presença na Clássica de Almería, caso se realize a 14 de Fevereiro (a maioria das corridas espanholas estão a ser canceladas).
© Deceuninck-QuickStep |
2ª época no World Tour
Fabulosa estreia ao mais alto nível! Agarrou a oportunidade de se mostrar na Volta a Itália como o grande ciclista que por cá há muito se sabia que tinha tudo para ser, desde os seus tempos de formação. Apesar da idade, a sua mentalidade é de um atleta de muita maturidade. A senda de rosa catapultou-o para a ribalta, ainda que não fosse um total desconhecido. Os bons resultados na Hagens Berman Axeo e já tendo feito estágios com a Deceuninck-QuickStep, faziam dele um corredor a ter em atenção. Começou como um leal gregário de Remco Evenepoel, mas depois do Giro... atenção como figura principal não lhe vai faltar. Em mais um exemplo de maturidade, João Almeida recusa entrar em euforias. Olha para o futuro e para o que tem de fazer para continuar a subir na hierarquia dos melhores do mundo. Para já, apenas se conhece que a Volta a Espanha é a escolha para 2021, mas até lá, João Almeida terá uma temporada de crescimento - sim, ainda vai progredir mais -, pois se na sua estreia no Giro não baixou os braços para tentar segurar a camisola rosa, alcançando um histórico quarto lugar, a única certeza que se tem quanto ao que pode fazer, é que a exibição na Volta a Itália foi apenas o início de uma história que terá muitos e bons capítulos.
Nelson Oliveira, 31 anos, Movistar© Movistar Team
11ª época no World Tour
Vai para a sexta temporada com a Movistar e apesar da equipa ter uma tendência para viver algumas tempestades pela forma como gere os seus líderes, quando se fala de regularidade, Nelson Oliveira tem de surgir à cabeça. Simplesmente não sabe correr mal. Para 2021 há surpresas no calendário do ciclista, sempre muito apontado ao Tour e Vuelta, sendo que depois das quedas que lhe estragaram temporadas no Paris-Roubaix, ainda não é desta que regressa. Desta feita, a primeira metade da temporada terá foco em Itália, com o Giro em mente. Será a terceira presença, depois de 2012 e 2013. Trofeo Laigueglia, Strade Bianche, Tirreno-Adriatico e depois uma curta viagem à Suíça para a Volta à Romandia é o plano inicial de Nelson Oliveira, que mais à frente terá os Jogos Olímpicos como um grande objectivo. Vai atacar a conquista de uma medalha na sua especialidade, o contra-relógio.
Ruben Guerreiro, 26 anos, EF Education-Nippo© EF Pro Cycling (fotografia de 2020)
5ª época no World Tour
O mais irreverente dos portugueses no World Tour encontrou finalmente a equipa que lhe dá a liberdade que gosta, mas com a estrutura que também precisa para alcançar os feitos que era esperados desde os tempos de formação. Em 2020 confirmou que a exibição na Vuelta na época anterior não tinha sido um acaso e foi ao Giro tornar-se no rei da montanha e vencer uma etapa. História para o ciclismo português, com Acácio da Silva a já não ser a única referência da grande volta italiana. Os seus directores parecem ter encontrado a receita para que o Guerreiro acredite cada vez mais nas suas capacidades, indo progredindo tacticamente. Porém, o que mais deseja é lutar por uma geral. Se continuar no bom caminho que iniciou no final de 2019, a oportunidade pode não demorar muito mais a chegar. Apaixonou-se pelas grandes voltas e é nelas que mais se quer focar, ainda que depois da exibição no Giro, também se vai esperar mais do português noutras provas por etapas. Terminou 2020 a sofrer uma acidente num treino, com o carro a provocar uma queda. Poderá estrear-se este ano na Volta aos Emirados Árabes Unidos, no final de Fevereiro.
Rui Costa, 34 anos, UAE Team Emirates© UAE Team Emirates
13ª época no World Tour
Na Vuelta foi um Rui Costa de grande nível que se apresentou em Espanha e não lhe teria ficado nada mal uma vitória de etapa, por que tanto lutou. O campeão do mundo de 2013 está novamente confortável no seu papel na UAE Team Emirates, numa altura que a posição de líder é muito difícil de ter para o poveiro. Não só se apresenta como um ciclista cuja experiência é necessária numa equipa com tantos jovens, como tem um papel de maior liberdade para procurar vitórias de etapas, ou em clássicas, que foi sempre o que lhe assentou melhor. Mas quando é preciso ajudar, tem de estar (e tem estado) pronto para tal. Para 2021 ainda não tem uma grande volta programada. Tem início marcado de época a 11 de Fevereiro no Tour de la Provence, seguindo-se Paris-Nice, Volta ao País Basco, as clássicas das Ardenas (Amstel Gold Race, Flèche Wallonne, Liège-Bastogne-Liège) não poderiam faltar, ao que acresce a Volta à Romandia e a "sua" Volta à Suíça, corrida que venceu três vezes (2012, 2013 e 2014).
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